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Morre Nobel de Literatura Imre Kertész

Marie Todeskino (lpf)31 de março de 2016

Escritor húngaro sobreviveu a Auschwitz e descreve os horrores dos campos de concentração e do Holocausto em seus romances. O mais famoso deles é "Sem destino", de 1975, narrado em primeira pessoa.

Imre Kertesz
Foto: picture-alliance/dpa/L. Beliczay

O escritor húngaro Imre Kertész morreu aos 86 anos, anunciou sua editora nesta quinta-feira (31/03). Nascido em Budapeste, o autor recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2002.

Kertész tinha 14 anos de idade quando os nazistas o deportaram da Hungria para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Mais tarde, ele foi enviado para o campo de Buchenwald, libertado pelos aliados em 1945.

Então, o jovem húngaro de família judia retornou ao país de origem. O trauma do Holocausto é o principal tema de sua literatura. Seu romance mais conhecido, Sem destino, de 1975, no qual ele ficou 13 anos trabalhando, é uma de suas obras mais dolorosas e brutais sobre o Holocausto.

Totalmente inocente, um garoto de 14 anos descreve sua deportação para Auschwitz e Buchenwald. É uma narrativa em primeira pessoa da perspectiva ingênua de um menino.

O jovem narrador tenta ao máximo fazer tudo certo no campo de concentração. Ele não percebe a realidade mortal das câmaras de gás. Kertész não dá explicações detalhadas, o que aumenta a sensação de horror sentida pelo leitor.

"Escrevi esse romance como alguém que se esforça para encontrar o caminho para sair da profundidade escura de um porão", disse o autor, destacando, no entanto, que o livro não deve ser visto como autobiográfico. "O que escrevo não sou eu. É apenas uma das possibilidades sobre mim."

A ditadura nazista não foi o único fator a exercer um impacto de longo prazo sobre Kertész. Após a Segunda Guerra Mundial, ele viveu na ditadura stalinista na Hungria e no regime comunista Kádár, após a revolta de 1956.

Prêmio Nobel

O objetivo de Kertész sempre foi desmascarar as pessoas num sistema totalitário. Em seus livros, ele descreve um novo tipo de pessoa. "Era um tipo de homem que ou esquece ou falsifica sua biografia sem ter consciência disso. Nessas ditaduras, as pessoas mergulhavam em situações tão fantásticas que era impossível compreendê-las imediatamente. E é por isso que as pessoas se adaptavam à situação para sobreviver", disse Kertész em outubro de 2013, numa entrevista ao jornal suíço Neue Zürcher Zeitung.

Após 1956, as liberdades de Kertész como indivíduo e como escritor foram restringidas na Hungria. Durante a era socialista, ele conta que "pensava em cometer suicídio todos os dias".

Sem destino foi publicado por uma editora estatal da Hungria em 1975. De início, o relato impressionante de um sobrevivente do Holocausto foi ignorado e abafado, pois os húngaros tinham dificuldade em lidar com o passado fascista do país.

Somente nos anos 1990, quando seus trabalhos foram publicados em alemão, Kertész ficou famoso mundo afora. Em 2002, sua carreira literária alcançou o clímax, quando ele recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Ironicamente, foi o grande sucesso na Alemanha que finalmente lhe rendeu reconhecimento. Mas ele não via contradição nesse fato.

Crítica à "indústria do Holocausto"

Para o escritor, que leu Immanuel Kant, Friedrich Nietztsche e Thomas Mann na adolescência, a Alemanha era um país repleto de cultura. "Fui educado em alemão", disse em entrevista ao semanário Die Zeit. Nos anos 1990, Kertész chegou a se mudar para a capital alemã, onde viveu por 12 anos.

Em 2012, ele doou seu arquivo à Academia das Artes de Berlim. Ele dizia se sentir mais compreendido na Alemanha do que na Hungria. No entanto, se viu forçado a voltar para o país natal em 2012, com a segunda esposa, Magda, após ser diagnosticado com o mal de Parkinson.

Em entrevistas, ele frequentemente alertava sobre o que chamava de "indústria do Holocausto". "Cheguei a ver ex-prisioneiros de campos de concentração fazendo aparições em eventos vestidos com os uniformes de prisioneiros. Isso é simplesmente ridículo. Sempre me distanciei de tudo o que tinha como objetivo manipular as massas", disse ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Auschwitz foi o grande tema da vida de Kertész. E, felizmente, ele nos contou essa história na tentativa de lutar contra o esquecimento – sobre um destino que o personagem "sem destino" em seu romance mais temia.

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