Ícone da moda mundial, Lagerfeld morre aos 85 anos, anuncia a Chanel, de quem ele foi o diretor artístico por mais de três décadas.
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O estilista alemão Karl Lagerfeld, um dos maiores nomes da moda mundial, morreu nesta terça-feira (19/02), aos 85 anos, anunciou em Paris a maison Chanel, onde ele era o diretor artístico desde janeiro de 1983.
Com seu cabelo branco amarrado num rabo-de-cavalo, óculos escuros e camisas brancas de gola alta, Lagerfeld era, ele mesmo, um ícone da moda.
Conhecido no meio como Kaiser (imperador), Lagerfeld estava à frente de três marcas: Chanel, Fendi e a a grife que leva o seu nome. Ele era, porém, principalmente associado à Chanel, uma das maiores marcas da moda francesa.
A incomum ausência do estilista no desfile da Chanel durante a Semana de Alta Costura de Paris, em janeiro, já havia suscitado boatos sobre sua saúde.
Lagerfeld nasceu em Hamburgo, no norte da Alemanha, numa família rica. Ele sempre fez mistério em torno da própria idade. Segundo relatos na imprensa alemã, com base em documentos oficiais, ele nasceu em 19 de setembro de 1933. A Chanel comunicou que ele tinha 85 anos. Em 2013, numa entrevista à revista Paris-Match, Lagerfeld afirmou que nascera em 1935, indicando que sua mãe alterara a data.
Lagerfeld nasceu em Hamburgo, na Alemanha, num ambiente rico. Filho do milionário Otto Lagerfeldt (com um "t" a mais, suprimido do nome pelo pai quando emigrou para os EUA). Em 1919, de volta a Hamburgo, fundaria a empresa de laticínios Glücksklee. O jovem Karl viveu uma infância abastada nos arredores da principal cidade do norte alemão.
Em 1953, ele trocou Hamburgo por Paris, para onde se mudou com a mãe. Lagerfeld sempre se definiu como europeu, e dizia que sua pátria espiritual não existia mais: a Alemanha do período entre guerras. "Com seis anos eu falava três línguas: inglês, francês e alemão", declarou à revista Gala em 2014.
"Eu sou tipicamente alemão, mas à moda antiga, como na República de Weimar, tudo o que existia antes de 1933", disse na mesma entrevista.
Sua carreira profissional começou em 1954, quando uma criação sua foi premiada pelo renomado Secretariado Internacional da Lã. O prêmio foi um estágio no ateliê do designer francês Pierre Balmain. Acabou contratado.
Após três anos com Balmain, Lagerfeld foi trabalhar com Jean Patou, para quem desenhou duas coleções de alta-costura por ano durante meia década. Em 1962, cansado de trabalhar para apenas uma casa, decidiu iniciar sua carreira de freelancer.
Não demorou muito para Lagerfeld consolidar sua fama, criando para marcas como Tiziani, Chloé, Curiel e Fendi. O reconhecimento internacional veio com as primeiras criações para a grife Coco Chanel.
Mas o prestígio internacional definitivo veio mesmo em 1983, quando Lagerfeld foi contratado pela Chanel e se tornou o primeiro estilista alemão a criar uma coleção de alta costura para a famosa marca francesa.
Foram as criações de Lagerfeld – perfeitas simbioses do tradicional estilo Chanel com elementos atuais – que rejuvenesceram a marca francesa e a lançaram em definitivo no século 21. Foi também Lagerfeld quem, em 1990, escolheu a alemã Claudia Schiffer para ser o novo rosto mundial da grife. Ela logo se tornaria uma das modelos mais bem pagas do mundo.
O ritmo de trabalho de Lagerfeld é lendário: ele cultiva a fama de passar mais de 20 horas por dia diante da prancheta. De seus estúdios saíram não apenas coleções de alta costura – o estilista também criou fama como fotógrafo de moda, publicando livros e coleções de fotografias.
O museu Bundeskunsthalle, em Bonn, mostra peças e coleções elaboradas pelo guru da moda ao longo de 60 anos, incluindo grandes marcas como Fendi, Chloé e Chanel.
Foto: picture-alliance/dpa/Karaba
Tudo começou com um sobretudo
A carreira ganhou projeção quando em 1954 ele venceu com este exemplar um concurso de design, na categoria sobretudo. A peça foi exposta em 2015 na exposição intitulada "Karl Lagerfeld. Modemethode", na Bundeskunsthalle.
Foto: Kunst- und Ausstellungshalle der Bundesrepublik Deutschland GmbH/David Ertl, 2015
Apaixonado por papel
"Eu preciso sempre sentir o papel sob meus dedos para poder me expressar", afirmou Lagerfeld sobre sua paixão por seu material de trabalho predileto. Papel determina a vida de Lagerfeld: nos seus desenhos de moda, suas fotografias, notas, cartas e livros. Até mesmo seus desfiles são planejados num bloco de rascunhos. A escrivaninha é testemunha da importância do papel para o estilista.
Foto: 2015 Karl Lagerfeld
Dos acervos
Somente no acervo da Fendi encontram-se 40 mil desenhos de Lagerfeld. Alguns deles estão à mostra agora em Bonn, assim como esboços para Chloé e Chanel. Também podem ser vistos pôsteres de campanhas publicitárias de Lagerfeld decorando, em grupos, as paredes em concreto aparente do espaço de exposições. Um pano de fundo sutil para as criações de Lagerfeld.
Foto: DW/S. Wünsch
O inovador
Lagerfeld já trabalha há 50 anos para a marca italiana Fendi. Quando ele começou a colaboração, em 1965, embaralhou o mundo das peles. Em vez dos pesadíssimos casacos de pele da época, criou modelos lúdicos e loucos que passaram a não mais envolver a sua portadora como um tanque de guerra, mas de forma leve e solta. Além disso, desenhou para Fendi roupas e acessórios atemporais.
Foto: Kunst- und Ausstellungshalle der Bundesrepublik Deutschland GmbH/David Ertl, 2015
Acessórios
Sapatos e bolsas – o que desperta o desejo nos olhos de muitas mulheres é motivo de desespero para muitos homens. Não para Karl Lagerfeld. Para cada coleção, ele também cria os acessórios adequados. A exposição mostra uma seleção abrangente de 120 peças (na foto: Fendi). Para a Casa Chanel, além de sapatos, ele desenhou bolas, cintos e também 177 botões.
Foto: Kunst- und Ausstellungshalle der Bundesrepublik Deutschland GmbH/David Ertl, 2015
Espelho do tempo
Para Chloé, Lagerfeld mostra que sabe o que as mulheres esperam da moda. Lúdicos, leves e românticos: assim são os vestidos da década de 1970. Ele adornou outros modelos com motivos gráficos. O material preferido é a seda. O manequim usa um vestido de seda pintado à mão de 1973.
Foto: DW/S. Wünsch
Hora da música
A época das lendárias festas no clube nova-iorquino Studio 54 deu a inspiração para motivos engraçados. Neste vestido de cetim, de 1983, ele compara o corpo feminino a um violino. Assim como os outros 120 modelitos na exposição em Bonn, esse vestido provém dos acervos das casas de moda. Alguns modelos foram até mesmo emprestados por museus.
Foto: Chloé archive
Renovação na Chanel
Ao ir para a Chanel, em 1983, Lagerfeld trouxe novos ventos à etiqueta de moda, então um pouco empoeirada. Ele atribuiu nova vida a modelos clássicos, modificando os cortes e dando novas cores aos terninhos. Com saias mais curtas, jaquetas mais longas e novos materiais, a marca passou a ser usada novamente por mulheres mais jovens. Este terninho é de 1991.
Foto: DW/S. Wünsch
Alta costura feita de lã
O terninho de tweed entrelaçado, inventado por Chanel, continua a ser um clássico. Na série "Evolução do tweed", Lagerfeld mostra o que se pode fazer com este material de aparência antiquada. Assim, os terninhos de tweed ganham franjas longas, terminando em bainhas de tecidos delicados e transparentes ou são simplesmente perfurados.
Foto: DW/S. Wünsch
Palácio de papel
Nos desfiles de moda, o melhor vem no final: a alta costura. A categoria Premium, onde os estilistas apresentam as suas obras-primas, suas peças únicas, cujos preços podem chegar a seis dígitos. A mais cara de todas as variedades da moda também é o ponto alto da exposição. Como cenário, um trio de designers criou um palácio de papel, um espaço digno para abrigar os vestidos luxuosos de Lagerfeld.
Foto: Kunst- und Ausstellungshalle der Bundesrepublik Deutschland GmbH/David Ertl, 2015
Noiva em neoprene
A última peça da exposição foi da coleção outono/inverno 2014-2015: um vestido de noiva para grávidas. A graça não está na cauda bordada em ouro, mas no material: borracha de neoprene. Um final espirituoso de uma mostra que destaca o uso da cor e do material por Lagerfeld, a continuidade de seu trabalho e a sua influência no mundo da moda.