Sobrevivente do Holocausto foi chamado de "mensageiro para a humanidade". Numa de suas obras mais famosas, escritor descreve os horrores do campo de concentração de Auschwitz.
Anúncio
O sobrevivente do Holocausto, escritor, ativista e ganhador do Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel morreu neste sábado (02/07) nos Estados Unidos, aos 87 anos, informou o memorial do Holocausto Yed Vashem, em Jerusalém.
Autor de mais de 30 ensaios e novelas, Eliezer Wiesel nasceu em Sighet, atual Romênia, em 1928, e era cidadão americano desde 1963.
Aos 15 anos de idade, ele foi deportado com a família para o campo de concentração nazista de Auschwitz. Sua mãe e sua irmã mais nova morreram no local. Wiesel foi tranportado para o campo de Buchenwald, e ali morreu seu pai.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Wiesel estudou na Universidade de Sorbonne, em Paris, e começou a exercer a profissão de jornalista aos 19 anos.
No livro A noite, publicado em 1955 e traduzido para vários idiomas, Wiesel descreve de maneira concisa e impactante suas vivências em Auschwitz. A obra é até hoje um dos livros mais lidos sobre o Holocausto.
"Nunca vou esquecer aquela noite, a primeira noite no campo, que transformou a minha vida numa noite longa", escreveu Wiesel. "Nunca vou esquecer aquele silêncio noturno que me privou, por toda a eternidade, da vontade de viver."
"Líder espiritual"
Ao conceder a Wiesel o Prêmio da Paz, em 1986, o Comitê do Nobel definiu o escritor como um "mensageiro para a humanidade" e "um dos líderes espirituais e guias mais importantes numa era em que a violência, a repressão e o racismo continuam a caracterizar o mundo".
O compromisso com os direitos humanos também rendeu a Wiesel a Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos e o Prêmio Medalha da Liberdade, entre outros.
Alguns anos depois de receber o Nobel, o ativista e escritor criou a Fundação Elie Wiesel pela Humanidade, que além de causas israelenses e judaicas, defendeu refugiados do Camboja, vítimas do apartheid na África do Sul e da fome e do genocídio no continente africano.
LPF/dpa/rtr/efe
O Memorial do Holocausto
Artístico, abstrato, imponente. O monumento lembra, desde 10 de maio de 2005, que foi em Berlim que o extermínio dos judeus europeus foi planejado e organizado. Hoje, ele é uma atração turística popular.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Monumento incomum
Normalmente, monumentos celebram heróis de uma nação. O Memorial do Holocausto de Berlim é exatamente o oposto. Ele é, como afirmou o famoso escritor Martin Walser, em 2011, "o primeiro monumento construído por um povo em memória de seus crimes". A construção recebe diariamente milhares de pessoas e fica 24 por dia aberto ao público.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kumm
Obra de arte imponente
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas assassinaram seis milhões de judeus. O genocídio é considerado o maior crime da história. "É um enorme monumento. Ele faz juz ao crime que se destina a lembrar. E o mais incrível é que ele é uma obra de arte", disse Walser. Na foto, é possível ver, ao fundo, a Potsdamer Platz.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Como um campo ondulado
Em meados de 1998, foi apresentado o modelo para o memorial nas proximidades do Portão de Brandemburgo. Antes, houve uma concorrência. Quatro projetos foram escolhidos. Entre eles, o de um campo repleto de blocos de concreto, do arquiteto americano Peter Eisenman. O então chanceler alemão, Helmut Kohl, achou a ideia a melhor e se empenhou pela sua construção.
Foto: picture-alliance/dpa
O nascimento da ideia
A ideia para o Memorial do Holocausto nasceu em 24 de agosto de 1988, durante um painel de discussão em Berlim Ocidental. A jornalista Lea Rosh reivindicou a construção de um memorial na cidade. Sem a dedicação dela, o monumento não existiria. Ela fez do projeto seu objetivo de vida. Na foto, Rosh faz um discurso durante a inauguração simbólica das obras do monumento, em janeiro de 2000.
Foto: picture-alliance/Berliner_Zeitung
No coração de Berlim
A construção, no centro de Berlim, demorou vários anos. O monumento, de grandes dimensões, entre Reichstag, Portão de Brandenburgo e a Potsdamer Platz, é uma tarefa hercúlea. Ele foi construído em uma área de 19 mil metros quadrados, contendo 2.710 blocos de concreto, dispostos simetricamente. Todos eles ocupam a mesma área, mas têm diferentes alturas. Os custos foi de 27 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa
O Stonehenge de Berlim
O monumento se tornou uma atração turística. Todos os anos, centenas de milhares de turistas mergulham no mar de blocos de concreto, muitos deles judeus de diferentes países. O Memorial do Holocausto é um dos lugares mais visitados da capital alemã.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Detalhes sobre o Holocausto
Sob o campo de blocos de concreto, está um centro de informação. O museu complementa a forma abstrata da lembrança expressada pelo monumento. A exposição permanente dá nomes e rostos às vítimas, mostra destinos individuais e de famílias, suas vidas, sofrimento e morte. Não há imagens dramáticas. O terror se desenrola nas mentes dos visitantes.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Grimm
Solidão e desorientação
O quanto mais fundo a pessoa entra no labirinto ondulante, mais aumenta a sensação de desorientação existencial. O visitante perde a noção de lugar. No meio de Berlim, é possível se estar infinitamente longe de tudo. A pessoa pode se sentir solitária, ameaçada, abandonada. É uma tentativa de transmitir a sensação, em escala menor, que a maioria das vítimas do Holocausto experimentou.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Spata
O arquiteto
Peter Eisenman (82 anos), autor do memorial, se diz satisfeito que o monumento seja tão bem recebido, que crianças brinquem de se esconder, que jovens façam selfies e casais se beijem. Ele não tinha intenção de criar "um lugar sagrado". Ele também gosta do fato de que o memorial seja tão abstrato. "As pessoas não pensam nem em um campo de concentração ou sequer em algo terrível", ressalta.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
Convite à reflexão
"Não é possível organizar a forma como as pessoas se lembram do Holocausto", diz Peter Eisenman. Alguns vêm com flores, outros rezam, se sentam nos blocos, brincam, riem ou refletem. Em Berlim, todos são livres para decidir como querem se lembrar do Holocausto. O memorial está sempre aberto e livre. A lembrança também.