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Morre Quincy Jones, lendário produtor musical, aos 91 anos

4 de novembro de 2024

Em mais de 65 anos de carreira, produtor de "Thriller" exerceu enorme influência ao remodelar a música pop ao lado de Michael Jackson e trabalhar com artistas como Miles Davis e Frank Sinatra.

Quincy Jones em 2018
Quincy Jones em 2018Foto: Chris Pizzello/AP/picture alliance

O lendário produtor musical americano Quincy Jones morreu neste domingo (03/11), aos 91 anos, em Los Angeles. Em sua carreira de mais de mais de 65 anos, ele exerceu enorme influência no mundo da música, ao trabalhar com artistas como Miles Davis e Frank Sinatra e ao remodelar a música pop em suas colaborações com Michael Jackson.

"Esta noite, com corações cheios, mas partidos, compartilhamos a notícia da morte de nosso pai e irmão Quincy Jones", afirma um comunicado divulgado em nome dos familiares. "Embora esta seja uma perda incrível para nossa família, celebramos a grandiosa vida que ele viveu e sabemos que nunca haverá outro como ele."

Ele foi trompetista, líder de banda, arranjador, compositor, produtor e ganhou 27 prêmios Grammy. Jones produziu a reunião de superestrelas da música americana que gravou a canção de 1985 We Are the World,  uma iniciativa para arrecadar fundos para o combate à fome na Etiópia. 

Quincy Jones e Michael Jackson em 1984Foto: ZUMA Press/IMAGO

Algumas de suas obras mais marcantes foram em colaboração com Michael Jackson. Eles fizeram três álbuns juntos – Off the Wall, em1979, Thriller, em 1982, e Bad, em 1987 –, que mudaram o cenário da música pop americana.

Com 8 milhões de cópias vendidas, Off the Wall, fez de Jackson um superstar global, o que tornou Jones um dos produtores mais procurados em Hollywood. Thriller vendeu em torno de 70 milhões de cópias, com seis das nove músicas do álbum no top 10 das paradas mundiais. Até hoje, é o álbum mais vendido de todos os tempos.

Do jazz ao pop

Jones produziu a reunião de superestrelas da música americana que gravou a canção de 1985 We Are the World, uma iniciativa para arrecadar fundos o combate à fome na Etiópia, que contou com a participação de nomes como Michael Jackson, Lionel Ritchie, Bruce Springsteen, Prince, Kenny Rogers e Tina Turner.

Em todas as áreas em que se envolveu, seja no jazz, pop ou trilhas sonoras de filmes, Jones teve absoluto sucesso. Em sua carreira, ele moldou o mercado musical, produzindo artistas como Ray Charles, Count Basie, Frank Sinatra, Donna Summer, Dizzy Gillespie, Charles Aznavour e U2.

Ele foi o primeiro afro-americano a ser nomeado vice-presidente de uma grande gravadora e, além de grandes artistas da música, ele se encontrou com nomes como Nelson Mandela e o papa João Paulo 2º.

Infância difícil

Os anos de formação de Jones foram pouco promissores. Sua história é praticamente a definição do sonho americano: um garoto de origem humilde que chegou ao auge da indústria musical por meio de seus próprios esforços.

Quincy Delight Jones Jr. nasceu em Chicago, em 14 de março de 1933. Abalada pela depressão econômica, a economia dos EUA estava em crise, e a máfia de Al Capone dominava a cidade.

Jones cresceu no gueto da zona sul de Chicago. À época, ele levava sempre uma faca no bolso, "só por precaução", segundo disse, e tinha um único objetivo: se tornar um gangster.

"Você quer ser o que vê, e isso era tudo o que eu via", lembrou Jones no documentário Quincy da Netflix, de 2018. Ele nunca tinha visto uma pessoa branca até os 11 anos de idade.

Em 1985, Quincy reuniu superestrelas da música para gravar a canção "We Are the World" Foto: AP Photo/picture alliance

A vida no crime parecia predestinada, até o dia em que ele invadiu uma casa de veteranos do Exército dos Estados Unidos. Um piano no canto da casa chamou sua atenção. Ele apertou as teclas, e isso marcou o início de um grande caso de amor. Ele sentiu "o desejo irreprimível" de fazer algo com aquilo. Foi assim que Jones acabou se tornando um músico.

Seu pai se divorciou de sua mãe depois que ela teve um colapso esquizofrênico. Mais tarde, quando Jones tinha 10 anos, o pai se mudou com a família para Seattle. Lá, Jones conheceu Ray Charles, dois anos mais velho, e os dois se tornaram melhores amigos.

Aos 14 anos, Jones já se apresentava em várias bandas com seu amigo Charles, tocando música dançante nos clubes de tênis de pessoas brancas à tarde e bebop nos bares de jazz da cidade à noite. Aos 19, ele era trompetista da orquestra de Lionel Hampton, um dos artistas mais famosos da década de 1950.

Apesar de seu sucesso inicial, Jones passou um período na Europa, em uma época em que nos EUA o jazz ainda era considerado um estilo de música inferior tocado por negros. Ele conseguiu uma vaga para estudar em Paris com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen – os melhores em suas especialidades – que lhe ensinaram a arte de compor e arranjar. Esse conhecimento mais tarde o capacitaria a conquistar áreas da música que antes eram vedados a músicos negros.

Sucesso em todos os gêneros

Em 1964, Jones se tornou vice-presidente da Mercury, uma das principais gravadoras da época. Ele foi o primeiro afro-americano a ocupar uma posição de executivo em uma gravadora cujos proprietários eram brancos.

No mesmo ano, ele produziu seu primeiro álbum para Frank Sinatra. Em 1969, a tripulação da cápsula espacial Apollo 11 ouviu a versão de Jones da música Fly Me To The Moon durante seu pouso na Lua, assim como todos os que assistiam fascinados em frente às televisões ao redor do mundo. Jones também escreveu trilhas sonoras para filmes, incluindo a música-tema de A cor púrpura.

Jones teve absoluto sucesso em todas as áreas em que se envolveu, seja no jazz, pop ou trilhas sonorasFoto: Franz Hubmann/IMAGNO/picture alliance

Sua sensibilidade em uma ampla variedade de estilos musicais – da bossa nova ao soul e ao funk – fez dele um produtor e maestro muito requisitado.

Em 1974, Jones sofreu um aneurisma cerebral quase fatal – o rompimento dos vasos sanguíneos que levam ao cérebro – que o forçou a desistir de tocar trompete. O incidente fez com que voltasse seu trabalho à produção musical e o levou a fundar sua própria gravadora, a Qwest Records.

Jones estava sempre disposto a experimentar e sempre abrindo novos caminhos musicais. Ele tinha ouvido para estilos musicais de todos os cantos do mundo, o que talvez explique por que sua música tenha conseguido atravessar décadas, com seus hits dos 1960 ainda fazendo sucesso nos dias atuais.

Jones, contudo, também recebeu sua cota de críticas. Ele foi acusado de explorar a cultura negra e distorcer ritmos para criar uma música comercial que fosse fácil para os brancos consumirem. No entanto, foram principalmente os brancos que o acusavam de trair seus irmãos e irmãs negros.

Extenso legado musical

"Com o poder da música, eu alcanço os corações e mentes de milhões de pessoas", disse certa vez Jones. É improvável que sua morte possa mudar isso, uma vez que sua genialidade fez quem que nos deixasse como um extenso legado de joias musicais.

Jones foi casado três vezes. Sua primeira esposa foi Jeri Caldwell com quem teve uma filha. Mais tarde, se casou com a modelo sueca Ulla Andersson, com quem teve dois filhos, incluindo Quincy III, que se tornou um produtor de hip-hop.

Sua terceira esposa foi a atriz Peggy Lipton, com quem ele teve duas filhas, incluindo a atriz Rashida Jones. Ele teve outros dois filhos fora de seus casamentos, incluindo um com a atriz Nastassja Kinski.

rc/lf (DW/Reuters/AFP)

 

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