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CulturaArgentina

Morre Quino, criador da Mafalda

30 de setembro de 2020

Cartunista argentino se eternizou como pai da inconformada personagem de frases existencialistas, uma das mais famosas do mundo dos quadrinhos. Ele tinha 88 anos.

Argentinien der Comiczeichner Joaquin Salvador Lavado sitzt neben seiner Comifigur Mafalda
"Quino morreu. Todas as pessoas boas do país e do mundo chorarão por ele", disse seu editor Foto: Eduardo Di Baia/AP Photo/picture-alliance

O cartunista e artista gráfico argentino Joaquín Salvador Lavado, conhecido como Quino e criador da Mafalda, uma das personagens mais famosas do mundo dos quadrinhos, morreu nesta quarta-feira (30/09) em Mendoza, sua cidade natal, aos 88 anos.

"Quino morreu. Todas as pessoas boas do país e do mundo chorarão por ele", escreveu seu editor Daniel Divinsky, ao anunciar a morte nas redes sociais.

Citada pela agência espanhola Efe, a família de Quino disse que ele morreu por "razões próprias da idade e consequências de sua saúde nos últimos tempos". Segundo o jornal argentino Clarín, o cartunista sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) na semana passada.

Ao longo dos últimos anos, o autor, que se mudou de Buenos Aires para Mendoza no final de 2017, após ficar viúvo, passou por diversos problemas de saúde e se locomovia em uma cadeira de rodas, embora não tenha deixado de comparecer a homenagens a seu trabalho.

Em 17 de julho, o artista celebrou seus 88 anos junto de sua família em Mendoza, numa data em que o Ministério da Cultura do país o definiu como "criador de uma parte da cultura argentina".

Um dos maiores ícones do país sul-americano, ele recebeu prêmios importantes ao longo da carreira, como a Ordem Oficial da Legião de Honra, na França, e o prêmio Príncipe das Astúrias, na Espanha, concedido em 2014.

Filho de imigrantes espanhóis, Quino nasceu em 1932 em Mendoza, no oeste da Argentina, e se mudou aos 18 anos para Buenos Aires para estudar desenho.

Seu primeiro quadrinho foi publicado com a mesma idade, já na capital argentina. Mas foi somente aos 30 anos que, do traço de seu lápis, nasceu Mafalda.

A menina inconformada com a injustiça social, cuja imagem e mensagens atemporais e irônicas a favor de um mundo melhor se espalharam por todo o mundo, se tornou a obra mais famosa de Quino, embora ele tenha criado outra infinidade de personagens.

O argentino imaginou a pequena enquanto trabalhava num projeto comercial para promover uma marca de eletrodomésticos, para o qual lhe pediram que desenhasse uma família típica da classe média.

O quadrinho publicitário não chegou a ser publicado, mas Quino recuperou a personagem quando o convidaram para publicar na revista Primera Plana, à época um veículo que procurava fazer uma reflexão crítica da atualidade argentina e internacional.

Foi em 29 de setembro de 1964 que Mafalda surgiu: uma garota que detestava sopa, adorava os Beatles e proferia monólogos preocupados e existencialistas em frente a um globo terrestre. Em 1965, as obras passaram a ser publicadas no jornal El Mundo.

As tiras estampavam comentários sobre ordem mundial, luta de classes, capitalismo e comunismo, mas também, de forma mais sutil, sobre a situação política e social argentina.

Quino deixou de publicar histórias inéditas da Mafalda em 1973, mas a personagem se manteve viva no imaginário argentino e mundial, tendo sido traduzida para 30 idiomas e chegado ao cinema e à televisão.

Nesta quarta-feira, o jornal espanhol El País recordou a resposta de Quino quando lhe perguntaram quem seria Mafalda na atualidade. Na previsão do criador, essa "menina sábia" estaria morta, porque seria um dos desaparecidos da ditadura militar argentina (1976-1983).

Em 2016, em entrevista à agência Efe por ocasião da Feira do Livro de Buenos Aires, Quino afirmou que o mundo atual seria para Mafalda "um desastre e uma vergonha".

"Olhando as coisas que fiz todos estes anos, percebo que digo sempre as mesmas coisas, e que elas continuam atuais. É terrível... não?", disse ele, citando os seus temas de sempre: "A morte, a velhice, os médicos e outras coisas", como as injustiças sociais e a pobreza.

Muito tímido e reservado, Quino reconheceu na mesma entrevista que gostaria de ser lembrado como "alguém que fez as pessoas pensarem sobre as coisas que acontecem".

EK/afp/efe/lusa/ots

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