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Morte de Chávez ameaça acirrar instabilidade econômica em Cuba

6 de março de 2013

Fim do chavismo significaria fim da ajuda financeira venezuelana à ilha caribenha, desencadeando um período de turbulência similar ao que sucedeu à dissolução da União Soviética.

Foto: Reuters

Se a morte de Hugo Chávez realmente resultar no fim do chavismo, vários países seriam impactados, em diferentes graus. A Bolívia, o Equador e a Nicarágua perderiam seu mais importante aliado e porta-voz na região; a Rússia poderia ficar sem um de seus maiores compradores de armas; e o já isolado Irã provavelmente deixaria de ter um parceiro-chave na hora de afrontar os Estados Unidos. Mas nenhuma outra nação deverá sentir mais uma mudança política na Venezuela do que Cuba.

A Venezuela é hoje para Cuba muito mais do que um aliado político estratégico na região. É certeza de ajuda financeira quase incondicional, e um dos alicerces que mantêm de pé a frágil economia da ilha caribenha. Para muitos cubanos, a morte de Chávez pode representar até mais riscos do que a eventual morte de Fidel Castro. E perder o auxílio financeiro venezuelano poderia representar, em menor escala, o início de um período comparável aos anos que sucederam o fim da União Soviética.

Fidel Castro, Hugo Chávez e Raúl Castro em reunião em Havana em 2011Foto: picture alliance/dpa

Pior do que o fim da URSS

"O futuro cubano é muito obscuro, sobretudo agora, por causa de Chávez. Se a ajuda venezuelana acabar, será dramático para Cuba. Teríamos por aqui um período muito pior do que quando acabou a União Soviética", disse à DW Brasil o economista opositor cubano Oscar Espinosa Chepe. "Os problemas demográficos cubanos vão se aprofundar. Cuba se tornou um Estado parasita, que não consegue se manter por si só."

Quando a URSS foi dissolvida, Cuba perdeu abruptamente 85% de seu comércio exterior. Por falta de combustível e matéria prima, sua indústria foi praticamente paralisada, e Fidel se viu obrigado a impor o que chamou de "período especial em tempos de paz". A situação só começou a ser aliviada na segunda metade dos anos 1990, com o crescimento do turismo, e no fim da década, com a chegada de Chávez ao poder na Venezuela.

Não há dados confiáveis sobre as trocas comerciais entre os dois países, mas o próprio Fidel estimou uma vez a relação bilateral em 7 bilhões de dólares anuais. A Venezuela vende diariamente a Cuba mais de 100 mil barris de petróleo a preços módicos – acredita-se que o governo castrista revenda cerca de 40% do que recebe. A cooperação levou a blogueira Yoani Sánchez, uma das vozes mais famosas da oposição, a chamar o petróleo venezuelano de "Viagra cubano".

Capriles e o petróleo

Cuba tira sua principal fonte de receita da venda de serviços profissionais, em especial médico e educacional, e tem como principal cliente a Venezuela. Só em 2011, Caracas pagou a Havana 5 bilhões de dólares pelo serviço de 30 mil médicos e outros 15 mil profissionais cubanos. O negócio gerou mais dinheiro para a ilha caribenha do que as remessas enviadas por cubanos no exterior, os ganhos com turismo ou as exportações de níquel.

A relação bilateral é tão próxima, que Chávez, às vezes, parecia descrever os dois países como uma entidade única: "Venecuba" ou "Cubazuela", como a imprensa costumava sugerir. Acredita-se que 5 mil militares e conselheiros políticos cubanos estejam servindo ao governo venezuelano, que teria estreita colaboração com o serviço de inteligência do regime castrista.

"A curto prazo, não deve haver um novo período especial", disse o analista político cubano radicado nos EUA Arturo López-Levy, em referência às medidas tomadas após o fim da União Soviética. "As condições podem se tornar mais difíceis, mas a nova cúpula venezuelana continuará interessada em ter um alto nível de relações com Havana."

Maduro, sucessor designado, diante da imagem de ChávezFoto: Reuters

No fim de 2012, o opositor Henrique Capriles, adversário nas últimas eleições, adotou um tom moderado sobre as relações com Cuba. Ele garantiu que os laços diplomáticos serão mantidos, mas deixou claro que não daria petróleo de graça. O recurso, afirmo, não deve ser usado para "financiar um modelo político".

O vice-presidente Nicolás Maduro, sucessor designado por Chávez, conta com a simpatia do regime castrista e defende abertamente a Revolução Cubana. Ele não dá qualquer sinal de que vá cortar a ajuda à ilha caribenha, cujos apoio e assessoramento político podem ser fundamentais para tentar manter vivo o chavismo, num momento de transição e incerteza.

Autor: Rafael Plaisant Roldão
Revisão: Augusto Valente

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