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Depressão no futebol

12 de novembro de 2009

Presidente da Federação Alemã de Futebol pede o fim do tabu. Dirigentes querem mudar maneira de lidar com a doença, em uma profissão onde as cobranças por um melhor desempenho podem levar craques à sobrecarga emocional.

Morte do goleiro Enke abalou o futebol alemãoFoto: AP

Após o suicídio do goleiro da seleção nacional, Robert Enke, o presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB) cobrou que a depressão deixe de ser um tabu. "O futebol alemão tem que encontrar respostas sobre o que coloca jovens esportistas, tidos como ídolos, nessa situação”, afirmou Theo Zwanziger. “Não queremos que o que aconteceu seja tratado de forma superficial.“

A viúva do jogador, Teresa, e o seu terapeuta, Valentin Markser, tornaram público que Enke, de 32 anos, sofria de forte depressão. “Houve o caso de Sebastian Deisler e agora o de Robert Enke. Temos que conversar com especialistas sobre como devemos lidar com a doença no futuro”, disse Martin Kind, presidente do Hannover, clube onde Enke jogava, à revista esportiva Kicker.

Sebastian Deisler, também ex-jogador da seleção alemã, encerrou sua carreira em 2007, aos 27 anos, por problemas físicos e também por sofrer de depressão.

Oportunidade

“A tragédia de Robert Enke é uma oportunidade para que reflitamos sobre certas coisas que são comuns na sociedade. Recebemos uma missão do Robert e devemos refletir sobre ela“, afirmou o gerente do Hannover, Jörg Schmadtke.

Tragédia é chance para reflexão no futebolFoto: AP

O treinador de goleiros Jörg Sievers, que trabalhou durante muitos anos com Enke, salientou o fato de atletas raramente reconhecerem publicamente quando sofrem de depressão. “A depressão é, de certa forma, tida como uma fraqueza”, afirmou em um programa de televisão.

Ulf Baranowsky gerente da Associação de Jogadores Profissionais de Futebol (VdV), afirmou que atletas de ponta sofrem uma crescente sobrecarga emocional. “A pressão sobre os jogadores aumenta. Atletas são ameaçados durante treinos, agredidos verbalmente com adjetivos racistas ou mesmo boicotados por colegas ou treinadores”, acusou.

Segundo a psiquiatra Isabella Heuser, do Hospital Charité, em Berlim, a depressão é a principal causa de suicídios, mas continua sendo caracterizada como uma doença feminina. "A um homem jovem e de sucesso não é permitido ter depressão, sobretudo em um esporte machista como o futebol", afirmou a médica, em entrevista ao jornal berlinense Der Tagesspiegel.

Heróis doentes

“A resposta da [esposa] Teresa é uma motivação para quebrar um tabu. O futebol não pode mais se calar sobre o fato de que também há heróis doentes. A morte de Enke deve nos fazer pensar sobre as regras do jogo dessa sociedade machista que é a Bundesliga”, comentou o jornal Die Neue Presse, de Hannover. “Nossa cultura esportiva pede por heróis. Mas há esperanças de que outras vítimas do sistema do futebol sejam poupadas do destino de Enke”, salientou o periódico.

O diário Neue Westfällische, editado em Bielefeld, afirmou ser positiva a decisão da DFB de cancelar o amistoso entre Alemanha e Chile devido à morte do arqueiro. “É um bom sinal que o futebol profissional, em outros casos sempre uma máquina devoradora, pare por alguns dias”, opinou. “Se o esporte não esteve em condições de dar a Robert Enke a força para continuar vivo, então ele tem pelo menos a obrigação de homenagear o morto em uma pausa para meditar.”

Para o Kölner Stadtanzeiger, de Colônia, o caso é um exemplo não só para o mundo esportivo, mas para a sociedade, que rejeita, segundo a publicação, pessoas atingidas pela enfermidade. “Robert Enke temia a reação da opinião pública. O fato de ele ser um jogador da seleção, só agravou o problema”, avaliou. “Depressão é vista como uma fraqueza. Por isso muitos atingidos preferem esconder a doença, temendo que a sociedade não saiba como lidar com seu estado.”

O Frankfurter Rundschau também reivindicou uma maior aceitação da depressão pela sociedade. “Seria uma ajuda se a depressão perdesse a fama de ser um mero desvio de humor e fosse aceita como uma doença, que o ato de falar sobre ela não fosse mais tido como sinal de fraqueza, mas encarado como uma oportunidade para que amigos, conhecidos e colegas passassem a cuidar do paciente.”

MD/sid
Revisão: Rodrigo Rimon

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