Liberdade de imprensaTerritório Ocupado da Palestina
Morte de jornalista palestina causa indignação
12 de maio de 2022
Shireen Abu Akleh foi baleada durante operação militar israelense. Rede Al Jazeera e palestinos acusam israelenses pela morte e exigem investigação independente. Israel dá versões desencontradas sobre episódio.
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A jornalista Shireen Abu Akleh foi homenageada nesta quinta-feira (12/05) na cidade de Ramala, na Cisjordânia, em meio a pedidos por uma investigação independente para apurar as circunstâncias e responsabilidade pela sua morte.
A palestino-americana, que trabalhava para a rede Al Jazeera, morreu na quarta-feira após ser atingida por um disparo na cabeça enquanto cobria uma operação militar israelense na cidade de Jenin.
A Al Jazeera e testemunhas no local, incluindo um colega repórter da mesma emissora e um fotógrafo da agência de notícias France Press (AFP) apontaram que ela morreu como resultado de tiros disparados pelas forças israelenses. A rede sediada no Catar acusou, em comunicado, que Abu Akleh foi atingida "deliberadamente".
Shireen Abu Akleh, uma palestina cristã de 51 anos que também possuía cidadania americana, usava um capacete e um colete à prova de balas com a palavra "Imprensa" escrito nele quando cobria a operação, num campo de refugiados.
Israel diz "não ter certeza" sobre a responsabilidade
As autoridades de Israel afirmaram que solicitaram uma investigação conjunta junto às autoridades palestinas e disseram que "não está claro" quem teria sido o responsável pela morte.
Inicialmente, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, indicou que, segundo informações recolhidas, existia uma "considerável possibilidade" de que palestinos armados tenham sido os responsáveis pela morte da jornalista.
Mais tarde, porém, o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, afirmou que os israelenses não têm certeza sobre o que aconteceu e que não poderia descartar a possibilidade de o disparo ter sido efetuado por israelenses. "Não temos certeza de como ela foi morta, mas queremos chegar ao fundo desse incidente e descobrir a verdade o máximo que pudermos", disse Gantz a repórteres.
Cerimônia homenageia jornalista
Na quinta-feira, o corpo de Abu Akleh foi levado ao complexo presidencial da Autoridade Nacional Palestina para uma cerimônia oficial em Ramala.
O presidente Mahmoud Abbas prestou homenagem à jornalista e rejeitou a oferta de Israel para uma investigação conjunta.
"Rejeitamos a investigação conjunta com as autoridades de ocupação israelenses porque eles cometeram o crime e porque não confiamos neles", disse Abbas.
Ele acrescentou que a Autoridade Nacional Palestina "irá imediatamente ao Tribunal Penal Internacional" para denunciar o caso.
Em 2021, as forças de Israel destruíram um edifício que sediava os escritórios da agência de notícias Associated Press e outras organizações jornalísticas na faixa de Gaza. O ataque aconteceu uma hora depois de os militares terem avisado o proprietário que iam atacar o edifício, ordenando a sua evacuação.
Abu Akleh recebeu homenagens de jornalistas de todo o mundo nas mídias sociais. Muitos ofereceram condolências e lamentaram a perda de uma colega altamente respeitada, conhecida por sua cobertura firme de assuntos do Oriente Médio.
Muitas pessoas depositaram flores no local da morte da jornalista, e manifestações foram registradas em diversas regiões dos territórios palestinos.
Ela "era a irmã de todos os palestinos", afirmou seu irmão Antun Abu Akleh à AFP.
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Crescem os pedidos por investigação independente
Os apelos por uma investigação independente sobre os responsáveis pela morte de Abu Akleh também ganharam apoio de grupos de jornalistas e líderes mundiais.
Christophe Deloire, diretor-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, disse que a organização estava "decepcionada" com a oferta de Israel de realizar uma investigação conjunta, acrescentando que "uma investigação internacional independente deve ser iniciada".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, por sua vez, disse estar "chocado" e instou "as autoridades da região a realizarem uma investigação independente e transparente" para garantir que os responsáveis pelo assassinato sejam responsabilizados. A diplomacia da União Europeia também pediu um inquérito "independente".
Durante uma visita a Teerã nesta quinta-feira, o emir do Catar, Tamim bin Hamas Al-Thani, acusou Israel de matar a jornalista. "Os autores deste crime hediondo devem ser responsabilizados", declarou.
Já os Estados Unidos, aliados próximos de Israel, apelaram para uma investigação rápida sobre a morte de Abu Akleh. Por outro lado, os americanos disseram que Washington confiaria em uma investigação liderada pelos israelenses.
"Pedimos uma investigação imediata e completa", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, em uma coletiva de imprensa. "Os israelenses têm os meios e as capacidades para conduzir uma investigação completa e abrangente."
A Al Jazeera informou que o corpo de Abu Akleh será levado para Jerusalém Oriental nesta quinta-feira. O funeral deve ocorrer numa igreja da cidade, e o enterro está previsto para sexta-feira.
jps/rs/dj (AFP, AP, Reuters)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.