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Dúvida cresce

16 de abril de 2010

Morte de quatro soldados da Bundeswehr no Afeganistão reacende debate sobre pertinência da participação de soldados alemães em operações militares no país. Premiê reafirma "decisão consciente" do governo.

Ministro Zu Guttenberg (de preto) visita soldados alemães no AfeganistãoFoto: AP

"Sei que muita gente duvida se a missão é correta ou não. No entanto, quero dizer que apoio conscientemente essa operação, para que o país se estabilize e possa arcar sozinho com sua responsabilidade", afirmou chanceler federal alemã, Angela Merkel, nesta sexta-feira (16/04),durante visita à universidade de elite Stanford, nos Estados Unidos.

Na véspera, quatro soldados alemães, que participavam de uma grande ofensiva envolvendo 3 mil homens, foram mortos no Afeganistão. Na província de Baghlan, um tanque alemão foi o último de uma caravana a passar por um campo minado cheio de explosivos colocados por rebeldes da milícia radical islâmica talibã. Outro tanque foi atingido por explosivos lançados por membros da mesma milícia. Os ataques, que deixaram quatro soldados mortos e cinco feridos, provocaram as piores perdas da Bundeswehr desde meados de 2003.

Merkel afirmou que os soldados morreram "em missão para garantir nossa liberdade e segurança". Segundo ela, o importante é que os soldados saibam que podem contar com o apoio do governo. "Esta missão é perigosa, sabemos disso. Mas precisamos, mesmo assim, dar continuidade a ela, a partir das diretrizes do mandato", justificou a premiê alemã.

População é contra

Em enquetes realizadas na Alemanha, ficou claro que a missão no Afeganistão conta cada vez menos com o apoio da população do país. Em pesquisa de opinião divulgada pela emissora de televisão ARD, 70% dos entrevistados defenderam uma retirada das tropas alemãs do país o mais rápido possível. Apenas 26% dos participantes da enquete aprovam a missão.

Hans-Peter Bartels, especialista em questões de defesa do Partido Social Democrata (SPD), defendeu posição semelhante à de Merkel, e alertou para o perigo de que se questione a presença dos soldados alemães no Afeganistão. "Isso é trágico", afirmou Bartels ao jornal Mitteldeutsche Zeitung, ao salientar que os riscos "não mudam em nada a necessidade da missão neste país perigoso. Não se pode entregar o Afeganistão aos talibãs", disse o político.

Em prol da retirada

Omid Nouripour, especialista em defesa do Partido Verde, alertou para o perigo de um "debate míope" sobre as deficiências de equipamento e formação dos soldados da Bundeswehr. Em vez disso, o governo deveria apresentar uma análise abrangente da situação de segurança no norte do Afeganistão, declarou ao jornal Neue Osnabrücker Zeitung.

Segundo o político verde, o ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, deveria criar uma comissão de especialistas aptos a descrever o que as tropas alemãs já alcançaram no país até então, e divulgar os passos a serem seguidos até uma retirada dos soldados do país.

Otmar Steinbicker, especialista para assuntos afegãos da organização alemã Cooperação para a Paz, também afirmou que "já é tempo de iniciar conversas e negociações em prol de uma solução pacífica e de uma retirada da Bundeswehr do Afeganistão, antes que outros soldados tenham que morrer por isso".

Guerra não mais justificável

O presidente do partido A Esquerda, Oskar Lafontaine, exigiu que todos os deputados no Parlamento "que apoiaram até agora essa operação de guerra" revejam suas posições. Segundo ele, a presença das tropas alemãs "nesta guerra inviável não mais se justifica".

O ministro Zu Guttenberg deverá retornar à Alemanha em companhia dos cinco soldados feridos no incidente. Só não se sabe exatamente em que cidade a aeronave oficial poderá pousar, devido à onda negra que paira sobre a Europa e impede momentaneamente o tráfego aéreo em vários países do continente.

SV/afp/apn/dpa/rtr
Revisão: Augusto Valente

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