Rússia acusa forças da coalizão anti-EI de terem realizado os ataques aéreos que deixaram ao menos 30 mortos, em Aleppo, entre eles o último pediatra da região. Cruz Vermelha alerta para fim de mantimentos.
Anúncio
Rússia e Síria negaram as acusações da oposição síria e garantiram que não foram os autores dos ataques aéreos que destruíram o hospital al-Quds, em Aleppo. O número de mortos do bombardeio já chega a 30, segunda a organização voluntária Defesa Civil Síria (SCD, na sigla em inglês).
"Temos 30 corpos: 22 foram identificados e oito cujos nomes ainda não são conhecidos", disse Abdel Rahman, membro da SCD, também conhecida como Capacetes Brancos, na quinta-feira (28/04).
O voluntário afirmou que o número de mortos deve aumentar à medida que mais corpos forem sendo retirados dos escombros do hospital al-Quds. Entre os mortos estão três crianças e o último médico pediatra na região de Aleppo, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.
Acusações e negações
A oposição síria acusou o regime do presidente da Síria, Bashar al-Assad, e a Rússia de terem executado os ataques aéreos contra o hospital. No entanto, Damasco negou ter enviado aviões militares. Moscou também afirmou que suas aeronaves não estiveram envolvidas.
"De acordo com nossas informações, na noite de 27 de abril, pela primeira vez depois de uma longa pausa, um avião que pertence à chamada coalizão anti-EI sobrevoou a cidade de Aleppo", afirmou o Ministério da Defesa russo, sugerindo que o ataque foi realizado por caças militares da coalizão formada para combater a organização extremista "Estado Islâmico" (EI).
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, pediu que Moscou pressione seu aliado em Damasco para que cesse as hostilidades. "Enquanto ainda estamos tentando reunir os fatos que cercam as circunstâncias deste ataque, parece ter sido um ataque deliberado contra uma instalação médica conhecida e segue o histórico terrível do regime de Assad de atacar tais instalações e socorristas", disse Kerry.
"A Rússia tem a urgente responsabilidade de pressionar o regime para que cumpra os compromissos assumidos sob a Resolução 2254, incluindo, em especial, parar de atacar civis, instalações médicas e socorristas, e para que respeitem plenamente a cessação das hostilidades", acrescentou.
Cruz Vermelha adverte para fim de mantimentos
O chefe da missão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na Síria classificou o ataque ao hospital al-Quds de "inaceitável": "Infelizmente, esta não foi a primeira vez que os médicos que salvam vidas foram atingidos."
O CICV divulgou que os estoques de alimentos de emergência e ajuda médica provavelmente acabarão em breve e advertiu que um aumento dos combates impediria o reabastecimento. Dos 200 civis mortos na Síria na semana passada, mais da metade ocorreu em Aleppo.
PV/dpa/rtr/afp
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.