Moscou faz manobra militar na fronteira em resposta à Ucrânia
24 de abril de 2014A Rússia ordenou nesta quinta-feira (24/04) novos exercícios militares na fronteira com a Ucrânia e alertou sobre "consequências". A decisão foi anunciada após Kiev ter lançado um ataque contra os rebeldes pró-Kremlin que ocupam a cidade de Slaviansk, no leste do país, provocando pelo menos cinco mortes, segundo Kiev.
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o governo ucraniano está cometendo "crimes graves contra seu próprio povo" e, por isso, ordenou a manobra militar na fronteira. Ele avisou que poderá haver "consequências para aqueles que tomam essas decisões e, sobretudo, para as relações entre os dois países".
No leste da Ucrânia, cerca de dez outras cidades ainda estão nas mãos de grupos pró-russos. O ministro do Interior ucraniano, Arsen Avakov, anunciou que forças de segurança haviam recapturado a prefeitura da cidade de Mariupol.
O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, justificou a mobilização das tropas, de acordo com agências de notícias russas, como uma reação à operação militar ucraniana em Slaviansk.
"Somos obrigados a reagir a uma mudança da situação como essa. Começaram a empregar armas contra os cidadãos pacíficos de seu próprio país. Se esta máquina de guerra não for parada agora, levará a numerosas mortes e ferimentos", avisou Shoigu, afirmando que Kiev enviou ao leste do país 11 mil soldados, com 160 tanques e 230 veículos blindados.
Shoigu afirma que as milícias pró-russas só contam com 2 mil voluntários, munidos com cerca de uma centena de metralhadoras.
Obama acena com novas sanções
O presidente dos EUA, Barack Obama, ameaçou a Rússia com novas sanções, durante sua viagem ao Japão, caso Moscou "não contribua rapidamente" para o fim das revoltas armadas. "Como nós podemos perceber, não vemos que eles estejam respeitando o espírito dos acordos de Genebra", ressaltou ele em Tóquio, se referindo ao comportamento da Rússia.
Michael Mann, porta-voz da chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, lembrou "o direito da Ucrânia" de defender sua soberania e integridade territorial e exortou todos os participantes do acordo de Genebra a se empenharem por um relaxamento da situação.
O presidente interino da Ucrânia, Olexandr Turtchinov, exigiu que a Rússia retire suas tropas da fronteira com a Ucrânia e dê um fim às ingerências nos assuntos internos do país, num pronunciamento transmitido na televisão.
Após explicar que o reinício, na quarta-feira, da "operação antiterrorista", suspensa durante a Páscoa, foi motivada por uma "ameaça real", o presidente ucraniano interino assegurou que as autoridades "não recuarão ante a ameaça terrorista e continuarão a tomar medidas para defender a vida dos cidadãos".
Tropas ucranianas teriam recuado
No entanto, e pouco antes destas declarações, o diário ucraniano Kyiv Post informou que haveria uma "suspensão temporária" da "operação antiterrorista", devido ao risco de invasão de tropas russas.
O governo de Kiev teria decidido rever os seus planos sobre o reinício da "operação antiterrorista" após os seus serviços de informações terem registrado um importante aumento do risco de uma incursão de tropas russas em território ucraniano.
O ministro ucraniano do Exterior, Andriy Deshchytsia, criticou duramente a decisão do governo russo de iniciar manobras militares ao longo da fronteira da Ucrânia e disse que seu país vai lutar contra qualquer tropa invasora. Segundo ele, a medida "piora bastante a situação na região".
Se referindo à anexação da Crimeia por Moscou, ele disse que seu país aprendeu uma lição: "A partir dessa experiência, agora lutaremos contra as tropas russas se elas invadirem a Ucrânia."
Deshchytsia afirmou que os novos exercícios militares russos estão ocorrendo "ainda mais perto da fronteira com a Ucrânia do que o planejado anteriormente" e exigiu a retirada das tropas russas.