Vinte anos depois do fim do conflito, exposição em Pristina recorda menores que perderam suas vidas ou desapareceram na guerra. Itens da exibidos incluem fotos, objetos pessoais e brinquedos.
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"Era uma vez e nunca mais" é o título de uma nova exposição na capital do Kosovo, Pristina. Ela está sendo realizada duas décadas após o término da Guerra do Kosovo, em memória das mais de mil crianças que perderam suas vidas no conflito.
Em cartaz na Biblioteca Hivzi Sylejmani até maio de 2020, a mostra exibe fotografias e histórias, assim como pertences pessoais, brinquedos e roupas, como pequenos suéteres e sapatos, ou um berço e bolinhas de gude com as quais uma criança brincava. Os pais das jovens vítimas mantiveram os itens como lembranças de seus entes perdidos.
Lembrando a família perdida
Ejup Caraku da cidade de Poklek, povoado perto de Pristina, perdeu quatro membros da família na guerra. Seus dois filhos, Hasan, 12, e Berat, 13, foram mortos junto com sua esposa, Baftija, 30, e sua cunhada, Mihria, 47.
Ele diz ser importante que agora haja uma exposição recordando as vítimas mais jovens da guerra. "Gosto muito da ideia por trás dessa exposição. É bom que alguém tenha pensado em nossos filhos e feito algo para lembrá-los. Sentimos uma sensação de alívio, embora saibamos que nossas esposas e filhos nunca poderão ser trazidos de volta", diz Caraku.
Os filhos de Mejreme Kelmendi também foram mortos durante a guerra. Ela diz que é doloroso lembrar os detalhes das mortes de seus filhos, Haxhiu e Besimi. Os dois tinham apenas 10 e 12 anos. "Nesta exposição, você pode ver o cobertor que eu usei para cobrir meus filhos. Eu gostaria que as balas tivessem me atingido, em vez de meus filhos. Então eu não teria que ver suas fotos penduradas nesta exposição", diz.
"Emocionante"
Visitantes de toda a Europa já viram a exposição. Albin Morina, 20 anos, cuja mãe fugiu para a Alemanha antes do conflito no Kosovo, fez a viagem especialmente para vê-la. "Eu mesmo perdi meu pai na guerra. Minha mãe estava grávida de mim, e eu nunca tive a chance de conhecê-lo. Certamente é bom ter uma exposição dessas para mostrar o que vivenciamos na guerra e como crianças inocentes morreram. É simplesmente emocionante", diz Morina.
"Até hoje, não há monumento ou dia de especial dedicado às crianças que perderam suas vidas", diz Dea Dedi, do Centro de Direito Humanitário do Kosovo, que organizou a exposição. Segundo o centro, um total de 1.024 crianças perderam a vida durante a guerra e 109 ainda estão desaparecidas.
"Achamos importante que as crianças que foram assassinadas ou desapareceram durante a guerra do Kosovo não sejam esquecidas. Entramos em contato com suas famílias para obter informações sobre elas", relata Dedi. "Contamos a elas sobre a exposição e que queríamos fazer algo para lembrá-las. As famílias foram extremamente cooperativas e prestativas, e apoiaram a nossa ideia", diz.
Dedi explica que obter roupas, material escolar e fotos dos pais das crianças não foi fácil. A maioria das coisas foi queimada ou perdida na guerra, e muitos pais ficaram com apenas a memória.
Mas ela acredita que é importante lembrar as crianças que foram mortas. "Vinte anos após o fim da guerra, nós, como sociedade, temos que processar o que tem ocorrido neste país para que algo assim nunca mais aconteça", diz ela.
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Enquanto os mais velhos lutavam nas trincheiras da Primeira Guerra, as crianças "viviam" o conflito nos livros infantis. Exposição na Alemanha mostra que nem tudo era propaganda nacionalista.
Foto: DW/S. Hofmann
Papai na guerra
Quando em 1914 a Europa – e depois o resto do mundo – entrou em guerra, o conflito não passou despercebido pelas crianças. Afinal, seus pais e irmãos as tinham deixado em casa para irem lutar nos campos de batalha. Também não é surpreendente que inúmeros livros juvenis e infantis dessa época retratem a guerra de diferentes maneiras.
Foto: DW/S. Hofmann
Sobre heróis e outros contos
Esse é o tema da exposição "O livro infantil declara guerra", que reúne 200 livros, brochuras e folhetos no Museu dos Livros Ilustrados em Troisdorf, na Alemanha. "Tem de tudo na exposição, de uma literatura patriótica e belicista adequada a qualquer idade até livros moderados, que chamam a atenção para o fato de que os inimigos também eram seres humanos", afirma a curadora Carola Pohlmann.
Foto: DW/S. Hofmann
Da Guerra Franco-Prussiana até o nazismo
A exposição abrange desde o fim da Guerra Franco-Prussiana, em 1871, até a ascensão de Hitler ao poder, em 1933, o que permite identificar a influência da literatura de guerra em mais de uma geração. Mas o ponto forte são os quatro anos da Primeira Guerra Mundial. Na foto, o "Divertido livro infantil de guerra", de 1916, mostra crianças vestidas com uniformes de soldados a expulsar os inimigos.
Foto: DW/S. Hofmann
Humor na guerra? Parece que não...
Os ingleses são conhecidos por seu humor negro, e isso vale também para livros infantis. "No entanto, até os britânicos deixaram de lado o humor diante das atrocidades da guerra. O que significou uma perda para a literatura infantil", comenta Pohlmann, que avaliou uma enorme quantidade de material para compor a exposição.
Foto: DW/S. Hofmann
Brincando de guerra
Diversos livros infantis têm um caráter lúdico, como uma versão em francês de Chapeuzinho Vermelho em que franceses e seus aliados belgas e ingleses lutam contra o Lobo Mau, neste caso a Alemanha. Como também comprova a imagem de um livro infantil alemão, a guerra era também encenada como um jogo, na maioria das vezes fácil de ganhar.
Foto: DW/S. Hofmann
Cartas e jogos de tabuleiro
Além dos livros, brincava-se de guerra também com cartas e jogos de mesa, como mostra o baralho "O mico preto da Sérvia" (Schwarzen Peter aus Serbien). Por trás dos jogos bélicos estavam não somente os aspectos educacionais e de propaganda, mas sobretudo as questões comerciais. Para as editoras, a guerra foi uma boa oportunidade para fazer dinheiro.
Foto: DW/S. Hofmann
Matéria no quadro: guerra!
Os livros não eram lidos apenas em casa. Também na escola os professores davam lições patrióticas sobre a guerra. Frequentemente as aulas eram suspensas porque a escola era transformada em hospital, ou porque não havia carvão e madeira para o aquecimento.
Foto: DW/S. Hofmann
Livros para meninas
Grande parte da literatura de guerra apelava aos anseios de aventura da juventude e, conforme o pensamento da época, isso significava literatura para meninos. Mas as garotas também eram um público-alvo. As histórias para meninas se davam sobretudo no front, dentro da própria Alemanha – como nos contos "Cabeça teimosa" (Trotzkopf) ou "Caçula" (Nesthäkchen), passado em Berlim.
Foto: DW/S. Hofmann
Entre a impressão rápida e a arte
Em geral, os desenhistas tinham prazos muito curtos para ilustrar determinadas batalhas, afirma o pesquisador da área de literatura infantil e co-curador da exposição Friedrich C. Heller. Os livros franceses quase sempre chamavam a atenção por sua boa qualidade. Na imagem acima vê-se a invasão da Bélgica pelos alemães, representados pelo coturno gigantesco que esmaga a pequena cidade de Liège.
Foto: DW/S. Hofmann
Propaganda social na guerra
As crianças também apareciam em diversas brochuras e cartazes de propaganda, como nessa impressão de 1915. Abaixo da imagem lê-se "não vamos morrer de fome". A assistência social utilizava esses cartazes para arrecadar doações para alimentar as crianças. Afinal, não se pode esquecer que elas não conheciam a guerra somente dos livros, mas também viveram e sofreram com o conflito.
Foto: DW/S. Hofmann
Nada restou da euforia inicial
Com os mortos e feridos deixados pelo conflito, as ilustrações nos livros infantis se tornaram mais sombrias. Ao contrário das "engraçadas" histórias nas quais os heróis venciam rapidamente, em 1917 e 1918 algumas publicações passaram a mostrar cenas mais realistas dos horrores desta primeira guerra moderna, que inaugurou a utilização de tanques blindados e de gases venenosos.
Foto: DW/S. Hofmann
A Catedral de Reims
O cansaço da guerra também fez surgir, mesmo em pequena quantidade, uma literatura que pregava a paz. Na publicação francesa "Reims, a catedral" surge o sonho de um mundo sagrado, no qual a catedral bombardeada – símbolo da barbárie alemã na França – ressurge e une os povos.
Foto: DW/S. Hofmann
Paz? Só por um curto período...
Em 11 de novembro de 1918, o Império Alemão finalmente assina o armistício de Compiègne com os franceses e os ingleses. Mas a paz não duraria muito. Muitos dos jovens que leram os livros infantis durante a Primeira Guerra Mundial vestiriam os uniformes de soldado a partir de 1939, na Segunda Guerra Mundial.
Foto: DW/S. Hofmann
Poder das imagens
"Se, na infância, eu sou repetidamente submetido a determinadas imagens, então elas provavelmente vão marcar a imagem que tenho de mim mesmo como soldado ou combatente", comenta o especialista em livros infantis Heller. "O poder das imagens e dos textos não deve ser subestimado."