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HistóriaPolônia

Imagens do ataque alemão à Polônia de 1939 em mostra online

Publicado 30 de agosto de 2019Última atualização 31 de agosto de 2019

Anos de propaganda nazista desde a tomada de poder em 1933 surtiram o efeito desejado na mentalidade dos soldados da Wehrmacht. Projeto disponibiliza documentos da época.

"Estes são os frutos da política polonesa": esta cínica frase está escrita à mão, em vermelho, junto a fotos de casas bombardeadas e uma ponte destruída sobre o rio Pilica. As fotos provêm do álbum do soldado Otto Hardick, então com 19 anos, que participou do ataque à Polônia em setembro de 1939. Tanto as imagens quanto as legendas não deixam dúvidas sobre a mentalidade do jovem ao marchar sobre o país vizinho.

Anos de propaganda desde que os nazistas subiram ao poder em 1933 haviam moldado a Wehrmacht: os soldados alemães aparecem como senhores naturais, os poloneses são difamados como inferiores, especialmente se são judeus. Esse tipo de humilhação pode ser vista na exposição online Stumme Zeugnisse 1939 (Testemunhos silenciosos 1939) a partir de 1º de setembro de 2019, 80º aniversário da invasão da Polônia pelos alemães que marcou o início da Segunda Guerra Mundial.

Trata-se de uma cooperação entre a cadeira de História Pública da Universidade Livre de Berlim, o museu e memorial Casa da Conferência de Wannsee e o Centro Leibniz de Pesquisas em História Contemporânea, de Potsdam. Durante um ano, a equipe liderada pela historiadora Svea Hammerle pesquisou documentos originais, na forma de fotos, diários ou cartas. Após uma chamada em jornais e redes sociais, chegaram-lhe mais de mil fotografias para o projeto.

Acima, à direita: "Estes são os frutos da política polonesa"Foto: CC BY 4.0 DE GHWK

Encenações como mortes heroicas

Nunca se mostram soldados alemães mortos, apenas sepulturas. O fato de o ataque à Polônia ter trazido perdas aos dois lados não é ignorado, mas as vítimas nas próprias fileiras são encenadas como mortes heroicas: o soldado desconhecido que dá a vida por seu povo e pelo "Führer". Já em relação aos poloneses mortos, não se hesitava em retratá-los como animais abatidos numa caçada.

Rostos que poderiam ser atribuídos a uma pessoa específica aparecem pixelados online, por respeito aos mortos e "porque não temos ideia do que possa acontecer depois com elas", justifica a historiadora Hammerle. A intenção é evitar que neonazistas difundam na internet fotos não censuradas de vítimas de guerra como se fossem troféus, ou as usem de outra maneira indevida.

Segundo a historiadora, não se pode ignorar que a invasão da Polônia já tinha características de guerra de extermínio. "Ataques violentos maciços contra a população civil, bombardeios de lugarejos e cidades, massacres de judeus poloneses": tudo isso não começou apenas com a guerra contra a União Soviética, em 1941. Sobretudo os diários descrevem como "mais uma vez tantos e tantos judeus foram baleados, ou que um lugarejo foi incendiado porque lá supostamente havia franco-atiradores".

Um importante objetivo do projeto Testemunhos silenciosos 1939, contudo, não se cumpriu: documentar os horrores da invasão de uma perspectiva polonesa. A chamada por fotos privadas da época não encontrou ressonância na Polônia – fato que Svea Hammerle e o diretor da Casa da Conferência de Wannsee, Hans-Christian Jasch, lamentam muito.

Jasch suspeita que uma grande barreira psicológica impeça os poloneses de enviarem tais documentos à Alemanha. Outra razão poderia ser poucos soldados poloneses disporem de câmera fotográfica na época, enquanto na Wehrmacht fotografar era um "esporte popular".

Decepção de um nazista convicto

O historiador Stefan Troebst disponibilizou o material arquivado por seu avô, Woldemar Troebst, comandante de uma unidade pioneira motorizada que participaram da invasão da Polônia. Muitos anos após a morte dele, em 1996, Stefan encontrou no espólio do avô o álbum de fotos que acabou emprestando à exposição online.

Stefan TroebstFoto: DW/M. Fürstenau

Ele não teve dúvidas em disponibilizar na internet o material, por vezes brutal e humilhante. Como historiador, sua visão é pragmática, e ele deseja que "o maior número possível de fontes históricas privadas" estejam acessíveis. Por outro lado, o material guardado pelo avô, incluindo cartas pessoais, mudou sua visão sobre a história da própria família.

Troebst conta que para os avós, nazistas convictos, o transcurso do ataque à Polônia foi um choque, pois acabou não sendo tão fácil quanto se esperava. A admiração de Woldemar pelo regime nazista sofreu assim o primeiro golpe, pois aparentemente o soldado da Wehrmacht acreditava que a invasão da Polônia seria uma aventura inofensiva. Na realidade, era o começo de uma guerra de extermínio que só se encerraria em 1945, com a capitulação da Alemanha.

Com 5,7 milhões de mortos, na maioria civis, a Polônia perdeu um quinto de sua população. Na memória alemã sobre os crimes da guerra, esse cruel capítulo permaneceu descuidado por muito tempo. Por isso, a exposição Testemunhas silenciosas 1939 deve contribuir para ampliar e aguçar o olhar sobre os fatos. Ela também faz parte do livro 80 Jahre danach (80 anos depois), que Svea Hammerle e Hans-Christian Jasch publicaram com o colega Stephan Lehnstaedt.

Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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