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Entre as duas Alemanhas

Kate Bowen (sv)4 de fevereiro de 2009

As duas Alemanhas – Oriental e Ocidental – em tempos de Guerra Fria são o ponto de partida para uma exposição em Los Angeles. Em entrevista à Deutsche Welle, a curadora Stephanie Barron fala sobre a mostra.

'Os anos 50', de Sigmar Polke, na mostra de Los AngelesFoto: Hessisches Landesmuseum Darmstadt

A exposição Art of Two Germanys/Cold War Cultures (Arte das duas Alemanhas/Culturas da Guerra Fria) fica até 19 de abril no Los Angeles County Museum of Art (LACMA). Depois a mostra segue para a Alemanha: primeiro para o Museu Nacional Germânico de Nurembergue (maio a setembro) e posteriormente para o Museu Histórico Alemão de Berlim, onde fica de outubro a janeiro de 2010. Leia abaixo entrevista com a curadora Stephanie Barron.

Deutsche Welle: Qual é o objetivo desta exposição?

Stephanie Barron: O propósito da exposição é realmente o frescor de um novo olhar – provido da distância de 20 anos e da condição de estar fora da Alemanha – frente a um conjunto significativo de obras de arte criadas durante a Guerra Fria nas duas Alemanhas.

Queremos olhar de forma distinta para alguns conceitos correntes a respeito da arte deste período. Ela vem sendo primariamente caracterizada pela pintura, o que já explica porque há na mostra tantos exemplos de escultura, fotografia, instalação, vídeo, além de documentação de performances e livros de artistas.

Tentamos também verificar a suposição de que muito da arte alemã do pós-guerra tenha sido realmente expressionista por natureza. Olhando essas várias vertentes, acho que conseguimos argumentar. Quisemos também olhar de perto, lado a lado, as obras de artistas da ex-Alemanha Oriental e Ocidental. De preferência num mesmo espaço, sem tentar isolar uma da outra.

Parece-me que vocês estão interessados em mudar a forma de pensar a arte produzida durante a Guerra Fria.

A curadora Stephanie BarronFoto: 2009 Museum Associates / LACMA

Estamos, embora eu não pense que foi isto o que nos moveu desde o início. Este foi o resultado de uma boa pesquisa. Ao desenvolver esse projeto como norte-americana, não trago a mesma bagagem que traria se fosse uma curadora alemã – o que tem vantagens e desvantagens.

Gostei muito de trabalhar com colegas alemães na exposição, mas sempre tendo em mente como isso iria funcionar para um público norte-americano, o que foi muito importante. Acho que não carreguei o ônus das expectativas que teriam que ser supridas, caso a mostra fosse voltada para um público alemão.

Que expectativas seriam essas?

Vou dar um exemplo: quanto montamos a exposição, tínhamos um rótulo em toda obra de arte, que descrevia o nome do artista, local de nascimento e morte, onde viveu e onde esteve em atividade. Em suma, você tinha que ler esses rótulos para saber o que era do Leste e o que era do Oeste.

Boa parte do público, que desconhece tanto a obra de Konrad Lueg e Eugen Schoeneberg quanto de Werner Tübke ou Willi Sitte, mantém esse frescor do olhar, que encara tudo como arte, sem o preconceito de que o Leste seja uma coisa e o Oeste outra. Acho esse que esse olhar liberta e revigora.

A mostra segue para a Alemanha, onde deve permanecer por um tempo até maior do que na Califórnia. Você acredita que será um desafio maior exibir as obras para um público alemão?

'Deutsche Geisteshelden' de Anselm KieferFoto: The Broad Art Foundation / Parker

Não sei. Uma coisa que percebi em 30 anos trabalhando com exposições e viajando bastante pela Alemanha é o fato de que as tendências demográficas no país têm mudado. Eu me pergunto se as pessoas que se interessam por uma exposição como essa, dependendo da geração, irão trazer o mesmo tipo de expectativa ou a mesma bagagem. Mas suspeito que uma geração mais jovem – na casa dos 20 anos – irá ver essa exposição com olhos distintos daqueles das pessoas que já passaram dos 60.

Do ponto de vista artístico, é possível falar sobre uma Alemanha "unificada", mesmo 20 anos depois da queda do Muro de Berlim?

A mostra acaba em 1989 e não penso que seja apropriado, neste contexto, fazer observações ligeiras sobre o período pós-Muro. Mas penso que tentamos desafiar os preconceitos. A segunda sala da exposição coloca de um lado exemplos do realismo socialista dos anos 1950, enquanto do outro estão obras abstratas de Emil Schumacher e KO Götz.

E bem no meio há uma mesa enorme cheia desses maravilhosos pequenos exercícios culturais de Hermann Glöckner, de Dresden, o que desestabiliza totalmente qualquer expectativa ou estereótipo. Ou seja, tentamos expor artistas que não são necessariamente aqueles que se espera encontrar.

Você acha que, com base nesta exposição que termina em 1989, podem ser tiradas conclusões a respeito das relações da arte com a política de modo geral?

Acho difícil olhar para a arte alemã do século 20 sem pensar na interseção com a política. Com certeza a arte dos anos 1990 – e isso internacionalmente – é uma experiência muito mais global.

Quando vou agora para Berlim, posso muito facilmente encontrar alguém de Londres, Los Angeles, Budapeste ou Hamburgo. É uma situação muito mais internacional, particularmente em Berlim. Acho isso muito interessante, mas penso que o "germanismo" se tornou menos identificável do que era há 25 anos.

De onde vem seu interesse pessoal pela arte alemã?

Instalação de Hermann GlöcknerFoto: Museum Associates / LACMA

Quando ainda era estudante, me interessava pela arte francesa, como a maioria dos historiadores de arte nos EUA. Quando passei pela Universidade Columbia, estudava francês e arte contemporânea. Depois me mudei para Los Angeles em meados da década de 1970, quando encontrei essa biblioteca maravilhosa sobre o expressionismo alemão e um grande acervo de imagens e livros.

Longe de Nova York e antes que o Ghetty estivesse disponível com sua fantástica biblioteca, dispor desse material original em Los Angeles foi uma experiência inesquecível. Esse era também um assunto que não tinha sido tão esgotado por outros.

Quando você passeia pela exposição, costuma parar frente a alguma obra específica?

Quando ando por ali e vejo obras de Hermann Glöckner, confesso que ainda sinto arrepios. Lembro-me de pensar como eram absolutamente estupendas, ao vê-las pela primeira vez, nos arquivos em Dresden. Eu realmente queria exibi-las e trazê-las para Los Angeles.

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