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Revolução espanhola?

20 de maio de 2011

Alta taxa de desemprego e crise econômica levam milhares de manifestantes às praças espanholas. Movimento também questiona sistema político dominado por dois partidos, e pede mudanças.

Desemprego atinge 45% dos jovens na EspanhaFoto: AP

O protesto que ficou conhecido na Espanha como "movimento dos indignados" não poderá fazer manifestações neste final de semana. Segundo a lei eleitoral do país, neste sábado (21/05) estão proibidas as propagandas eleitorais porque no domingo acontecem as eleições municipais e autônomas.

Na noite desta quinta-feira, a Junta Eleitoral Central (JEC) declarou ilegais os protestos marcados para estas datas. Desta maneira, ficam proibidos os acampamentos que tomaram conta da Puerta Del Sol, em Madri, e de outras cidades espanholas.

Os protestos pacíficos e espontâneos começaram em meados de maio em dezenas de cidades espanholas. Eles reivindicam uma mudança na política e na sociedade espanhola, pois os manifestantes consideram que os partidos não os representam nem tomam medidas que os beneficiem.

Razões dos protestos

"Tenho a sensação que a Espanha vive agora o mesmo momento que a Alemanha viveu em meados dos anos de 1970: enfrenta a primeira grande crise econômica, afetada por enormes incertezas, e começa a conceber novas formas de organização política", compara Lothar Witte, da Fundação Friedrich Ebert (FES, do alemão), em Madri.

O especialista admite a possibilidade de um início de mudança no sistema espanhol. "Caminho que levaria a um distanciamento gradual do bipartidarismo e ao surgimento de novos movimentos sociais que obriguem as formações políticas a tratar os eleitores de outra maneira."

De momento, o novo movimento social espanhol se chama 15-M, porque foi iniciado com uma série de manifestações em 15 de maio e, em nome dele, milhões de pessoas saíram nas ruas do país. E nelas pretendem permanecer até, pelo menos, as eleições municipais deste domingo.

Barracas e sacos de dormir ocupam as praças na Espanha. Na tradicional Puerta Del Sol, não somente jovens lotam o local, suportam a chuva e desafiam a proibição imposta pela Justiça Eleitoral. "Nós não iremos", "Não votem" e "Democracia real já", são os gritos de protesto.

Puerta del Sol: ponto turístico de Madri que virou palco de protestoFoto: picture alliance/dpa

Bipartidarismo caduco

"Meu presente é negro e meu futuro é incerto", descrevia uma das manifestantes a situação que quase se pode estender a todo o país. "Por trás do que acontece na Espanha, se esconde uma profunda frustração pelo fim do boom econômico e por suas consequências", opina Witte.

Para o especialista alemão, o descontentamento com a classe política vem em segundo lugar, com a precariedade do trabalho e a alta taxa de desemprego, que supera 20% no total e atinge 45% dos jovens. E Witte reconhece que o governo de José Luis Rodriguez Zapatero não conduziu bem vários assuntos.

"Eu cheguei à Espanha há dois anos e meio. Então, a bonança havia acabado de terminar, mas a sensação era que a festa continuava. Zapatero negou durante muito tempo a existência de uma crise, e depois se dedicou a repetir, uma ou outra vez, que ela estava prestes a acabar, quando a situação não era essa. A isso, soma-se o fato de o presidente ter prometido que as medidas para enfrentar os problemas não iriam ser postas em prática em detrimento dos mais fracos e o que ele implantou depois afetou, sim, principalmente os grupos desfavorecidos, a perda de credibilidade é evidentemente alta", analisa o representante da FES.

Força a dois partidos

Nas ruas da Espanha, é clara a indignação contra os banqueiros, e também com o Executivo e a oposição. Os socialistas do PSOE, partido de Zapatero, acredita Witte, serão os mais castigados nas urnas. O conservador Partido Popular, o outro grande partido espanhol, conseguirá mobilizar seus eleitores habituais.

Os que se negam a votar, seja em forma de abstenção ou voto em branco, e que são contrários a todos os grupos políticos, não surtirão efeito significativo, acredita o especialista. Para Witte, quem desempenhará um papel decisivo na votação serão os partidos nacionalistas. Em outros sistemas políticos, eles seriam uma terceira ou quarta força.

Depois da morte de Francisco Franco, em 1975, o poder do Partido Comunista Espanhol, um dos mais importantes da Europa na clandestinidade, passou a ser temido em todo o continente. Social-democratas alemães e diversas organizações, como a FES, contribuíram com muita influência e dinheiro para estruturar o socialismo na Península Ibérica. Ao fim, entre a direita e o PSOE, não sobrou espaço para outros partidos fortes.

"A transição espanhola para a democracia é uma história de sucesso, não há dúvida. [...] Mas acredito que seria bom abrir o espectro de partidos na Espanha. Acho que a lei eleitoral deveria ser modificada para que um voto valesse o mesmo para todas as formações. Acho que coligações são melhores do que os governos minoritários que buscam aliados para aprovar cada projeto", sentencia Witte.

A aliada internet

Uma olhada através das fronteiras nacionais mostra que seria um erro subestimar a determinação dos manifestantes. Exemplos disso são a Islândia, também gravemente afetada pela crise, onde os protestos foram capazes de derrubar o governo. Na Alemanha, o descontentamento popular com a reforma da estação ferroviária de Stuttgart fez com que as obras fossem interrompidas, pelo menos temporariamente. A insistência dos usuários da internet em encontrar e denunciar passagens plagiadas da dissertação do então ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, acabou por forçar a sua renúncia.

Da mesma forma, a rede é um pilar fundamental para o movimento 15-M. No twitter e no facebook, o protesto está vivo como nas ruas: comenta-se, informa-se e convocam-se manifestações. "Não se pode sobrevalorizar a influência da internet na tomada das decisões concretas. Mas como ambiente onde se expressam opiniões às margens das instituições e das hierarquias habituais, assim como para a coordenação de campanhas, seu impacto é muito importante", avalia Lars Holtkamp, professor de Política e Administração da Universidade à Distância de Hagen, na Alemanha.

#cams34 - spnishrevolution.eu é uma das páginas que surgiu em paralelo com os protestos espanhóis. O site recolhe e propaga vídeos sobre os acontecimentos na Espanha, e é gerido a partir de Stuttgart, na Alemanha.

Autora: Luna Bolívar Manaut / dpa (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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