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Greve pelo Futuro conseguirá manter o impulso inicial?

Stuart Braun av
20 de agosto de 2019

Há 12 meses a sueca de 16 anos Greta Thunberg iniciou seu movimento jovem contra a mudança climática. Será que foi apenas uma moda, ou as greves escolares realmente apontam para um novo futuro?

Multidão desfila com cartazes contra a mudança climática
Greve pelo Futuro no início de agosto de 2019, em Lausanne, FrançaFoto: picture-alliance/KEYSTONE/J. C. Bott

Um ano depois de Greta Thunberg se colocar diante do Parlamento sueco com seu hoje icônico cartaz "Skolstrejk för klimatet" (Greve escolar pelo clima), o movimento iniciado por ela estabeleceu o tom das ações de protesto por todo o mundo.

No espaço de apenas 12 meses, a própria Thunberg, de 16 anos, se transformou numa espécie de ícone adolescente do clima, e seu movimento Greve pelo Futuro (nome internacional: Fridays For Future) resultou em paralisações em 3.804 locais em 161 países. A maior foi em 15 de março, quando cerca de 1,6 milhão de estudantes participaram de uma greve global pelo clima.

Com as férias escolares na Europa provocando um declínio nos números dos protestos, já surgem perguntas sobre se o movimento teria atingindo seu ápice, e como manteria o impulso em seu segundo ano. Alguns jovens admitem ter notado uma queda de participação.

"É mais difícil os estudantes perderem aulas hoje em dia", explica à DW Martha Stert, de Berlim, que assistiu a mais de 20 "greves pelo futuro" semanais em 2018. Segundo a colegial de 18 anos, cujas férias de verão terminaram no começo de agosto, os professores ficaram mais rigorosos com as faltas, à medida que os protestos continuaram. Além disso, a reputação do movimento teria sido prejudicada por alguns estudantes que usam as greves como pretexto para matar aula.

Ela mesma está tendo que empreender esforços extras para participar das manifestações, à medida que os exames de fim de ano se aproximam, mas acredita que os mais jovens têm o mesmo entusiasmo que ela e manterão o ímpeto. Protestar no horário escolar é uma parte essencial da estratégia, justifica Stert, pois é a única coisa "que os adultos vão notar".

Orli Mastrocola-Simon, de 18 anos, que frequenta o último ano do curso médio e participou das passeatas pelo clima em Hobart, na ilha da Tasmânia, no sul da Austrália, concorda: "Muita gente ainda está envolvida, definitivamente, eles são muito entusiásticos e apaixonados."

Ainda se preparando para os exames, ela acha que o movimento também atraiu adeptos por estar na moda, mas frisa que, desde então, muitos de seus amigos se tornaram ativistas engajados e empreendem viagens interestaduais para, por exemplo, assistir a protestos contra a mina de carvão de Adani.

Moritz Sommer ensina no Instituto de Sociologia da Universidade Livre de Berlim e é coautor de um estudo sobre a emergência do Greve pelo Futuro na Alemanha, sustenta que parte do sucesso se deve ao fato de o movimento "gerir o problema do clima como um problema geracional".

"Esses jovens se sentem ligados entre si, eles sentem que seu futuro está em perigo", explica, acrescentando que o movimento cresceu menos através das plataformas das redes sociais do que na sala de aula. Como demonstra em seu recém-publicado estudo sobre o Greve para o Futuro, a maioria dos participantes ficou sabendo sobre ele no boca a boca, não no Twitter ou Facebook.

Greta Thunberg (c., de casaco amarelo) encabeça "Greve escolar pelo clima" em Estocolmo, março de 2019Foto: picture alliance/dpa/Zumapress/M. Thor

Alguns grupos políticos apoiaram e tentaram influenciar o movimento, a que se atribui ter ajudado os partidos verdes nacionais a obterem suas maiores votações nas eleições de maio de 2019 para o Parlamento Europeu. No entanto, lembra Sommer, as greves foram administradas através dos conselhos escolares, não de legendas políticas. Assim, por ser politicamente não partidário, o movimento climático conseguiu atrair um amplo espectro de adeptos.

"Um ano atrás, quem acreditaria que ia haver um movimento como esse", comenta um ativista do Fridays For Future que só se identifica como Simon. Mesmo na 52ª semana dos protestos, em 16 de agosto, quando grande parte do Hemisfério Norte ainda estava na sonolência de verão, houve no mínimo mil greves em 99 países. Em Berlim, centenas compareceram, menos de uma semana após a volta às aulas.

Em Ottawa, Canadá, a participação ainda é hesitante: um pequeno grupo inicial de quatro manifestantes diante do Parlamento se expandiu para cerca de 20. "É difícil exigir da juventude, que nunca tomou parte em nenhuma forma de desobediência civil, que se levante e lute contra os governos do mundo que via como aliados", justifica Mia Beijer, de 15 anos, que cofundou o grupo Future Rising Ottawa em janeiro.

"Mas sendo tão fácil obter conhecimento e informação, mais e mais jovens estão se levantando e participando do movimento do clima, e estamos ficando cada vez mais conectados." Por outro lado, ela se preocupa que "mesmo o Partido Verde está mostrando sinais de fraqueza, quando se trata do meio ambiente e de efetuar mudanças significativas para o nosso futuro".

"Ainda não vimos suficientes mudanças dramáticas, por nenhum governo do mundo, que nos desviem do apocalipse climático para o qual estamos nos encaminhando", condena Beijer. "Então, vamos continuar fazendo greves, marchando e protestando até não estarmos mais aterrorizados de sonhar com o que está vindo em nossos futuros."

Para Simon, do Greve pelo Futuro alemão, a estratégia está funcionando: "Acredito que o movimento está ajudando a colocar a crise climática no topo da agenda política." Desde que os protestos começaram, recorda, foi declarada emergência climática no Reino Unido, França e Canadá, assim como em diversas cidades por todo o planeta.

"A mobilização continua", asseguram os autores do relatório Protesto por um futuro: Composição, mobilização e motivos dos participantes dos protestos do clima Greve pelo Futuro, em 15 de março de 2019, em 19 cidades europeias, divulgado em julho.

"Esta onda de mobilização de protesto climático é única em sua tática, âmbito global e apelo a colegiais adolescentes", registram os editores do relatório, Mattias Wahlström, Piotr Kocyba, Michiel De Vydt e Joost de Moor, prevendo um longo futuro para o movimento.

Essa longevidade estará ainda mais assegurada à medida que o movimento se expanda, crê o autor Moritz Sommer. As greves da Semana Global pelo futuro, programada a partir de 20 de setembro, simbolizarão a nova fase de um "surpreendente" movimento de protesto.

Na Alemanha, por exemplo, importantes sindicatos se unirão aos grevistas escolares. "Esperamos que adultos de todos os setores da vida se reúnam aos jovens de todo o mundo", exorta o ativista alemão Simon. Acima de tudo, porém, o movimento se manterá fiel ao lema de Greta Thunberg, de que "ninguém é pequeno demais para fazer uma diferença" – que é também o título de seu best-seller.

Um excelente exemplo é a americana Mary Ellis Stevens, de 14 anos, de Charlotte, Carolina do Norte, que durante 19 semanas manteve uma greve escolar semanal diante do Centro de Governo de Charlotte Mecklenburg, muitas vezes sozinha. "Não estou mais aceitando as coisas que não posso mudar. Estou mudando as coisas que não posso aceitar", consta de sua biografia no Twitter.

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