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Mozart para os olhos, a cabeça e o estômago

(av)10 de julho de 2006

Além de ser comemorado com concertos, shows e récitas, o Ano Mozart 2006 também testemunha uma explosão no mercado livreiro. De biografias especulativas a livros de receitas, a música é quase secundária.

Um gênio musical lota as prateleirasFoto: dpa

Em 1991, ano do bicentenário da morte de Wolfgang Amadeus Mozart, calculava-se em 12 mil o número das publicações sobre o compositor austríaco lançadas até então nos países germanófonos. Em seu 250º aniversário, apenas 15 anos mais tarde, "devemos estar em torno dos 20 mil títulos", estima a musicóloga Silke Leopold.

Biografias do mestre, em todos os tamanhos e saboresFoto: DPA

Ela própria contribuiu com seu Mozart-Handbuch para essa inflação literária, embora se limitando àquilo que menos parece interessar a massa dos autores: a música mozartiana. De resto, a psicologia de Mozart, sua saúde, contexto histórico e social, hábitos alimentares, suas mulheres, etc., são assunto de uma enxurrada que cresce diariamente e, aparentemente, sem cessar.

O outro Einstein

Um mozartmaníaco é diferente dos outros seres humanos. Interpelado sobre "quem é Einstein?", ele hesitará, perguntando: "Você quer dizer Albert ou Alfred?". Pois o segundo é o autor da (ainda) mais popular biografia do grande músico, Mozart, sein Charakter, sein Werk, de 1947 (o original em inglês foi lançado dois anos antes).

O interesse pela vida do compositor (1756–1791) parece realmente não ter fim. Ainda no final de 2005, a editora Laaber relançava, em edição comentada, a primeira biografia do gênio de Salzburgo: Lebensbeschreibung des K. K. Kapellmeisters Wolfgang Amadeus Mozart, de Franz Xaver Niemetschek, 1798.

No outro extremo então as monografias recentes de Gernot Gruber (editora C.H. Beck), Piero Melograni (Siedler) , Martin Geck (Rowohlt), Ulrich Konrad (Bärenreiter) e Georg Knepler (Henschel). Elas oscilam entre 144 e 532 páginas e preços de 7,90 euros a 34,95 euros.

Nesta categoria, o lançamento mais sensacional foi, sem dúvida, a tradução alemã da obra de Maynard Solomon, lançada em Nova York há cerca de dez anos. O autor norte-americano aborda Amadeus sobretudo através de sua relação com o pai, o também músico Leopold Mozart.

Palavra e imagem

Entre as coletâneas de escritos do próprio compositor, a gama vai desde o "Mozart para crianças" Ich bin ein Musikus, com 93 páginas, até às 4500 da exaustiva Briefe und Aufzeichnungen, lançada pela editora dtv. E ela inclui não só cartas, como diários, notas de viagem, catálogos de obras e entradas em livros de visitas, e abarca desde uma carta do pai a seu editor, de 1755, até o testamento da esposa Constanze.

Capa de 'Chronik Bildbiografie W. A. Mozart'

Confiando que uma imagem diz mais do que mil palavras, Volkmar Braunbehrens e o fotógrafo Karl-Heinz Jürgens lançaram o volume ilustrado Mozarts Lebensbilder (Imagens da vida de Mozart, Lübbe). A mesma opção fizeram os autores da Chronik Bildbiographie Wolfgang Amadeus Mozart, Max Becker e Stefan Schickhaus.

Ambos acompanham a trajetória do músico do ponto de vista geográfico: de Salzburgo a Viena passando por Augsburg, Berlim, Chemnitz, Leipzig, Dresden, Frankfurt, Mannheim, Munique, Schwetzingen, Londres, Milão e Paris, entre muitas outras cidades. Os capítulos trazem títulos convidativos, como: "Mozart e a dança", "Mozart no teatro de marionetes" e "Mozart no cinema".

Continue lendo: As presenças femininas e Mozart para gourmets.

Nem erotismo nem bordel

A atriz Elisabeth Berridge representa Constanze no filme 'Amadeus' (1984)Foto: picture-alliance/ dpa

"Mozart e as mulheres" (Mozart und die Frauen, Enrik Lauers e Regine Müller, editora Lübbe): quem, insuflado pelas imagens do filme de Milos Forman Amadeus, espera, sob tal título, aventuras amorosas e contos de bordel, sairá desapontado. Assim como Melanie Unseld em Mozarts Frauen (Rowohlt), os autores se concentram nas duas mulheres mais marcantes e sua influência sobre os curtos 35 anos de vida do compositor.

A correspondência com a primeira destas, a mãe Anna Maria, compõe uma outra antologia epistolar. "Fort mit Dir nach Paris" – "Fora contigo, para Paris": com esta frase, o rigoroso Leopold Mozart "expulsou" o filho da pacata Mannheim, acompanhado pela mãe. Essas cartas testemunham grande alegria de viver, mas também saudade e renúncia.

A verdadeira Constanze Mozart (esq.) aos 78 anos, em foto de 1840Foto: stadtarchiv altötting

No diário fictício, porém meticulosamente pesquisado, Tagebuch der Constanze Mozart (Ullstein), a autora Isabelle Duquesnoy retrata a segunda grande presença feminina na vida de Mozart: sua esposa Constanze. Lea Singer também aborda de forma especulativa essa "pessoa perdulária e vulgar, sem qualquer significação" – como afirmaram repetidamente seus detratores – em Das nackte Leben (A vida nua e crua, DVA).

Música à la carte

'Mozart-kugeln'Foto: dpa - Bildarchiv

Se não estivesse ao piano, no teatro, nem no bordel, o que estava fazendo esse misto de criança obscena e gênio profundo? Comendo, é claro. Por último, uma série de publicações explora essa faceta sibarítica do clichê Mozart, eternizada nas superestimadas mozart-kugeln.

Em Zu Gast bei Mozart (À mesa com Mozart, Rolf Heyne), a musicóloga Eva Gesine Baur entrelaça aspectos biográficos com receitas culinárias do Rococó, de sopa de mexilhões a assado de faisão.

Mas a vida é também creme de vinho riesling, capão recheado e ostras ao forno. No livro Mozart-Kochbuch (Orac), o ator Sascha Wussow apresenta uma seleção de receitas da época e dos lugares onde Wolfgang Amadé viveu.

O desfile histórico-gastronômico é naturalmente salpicado de anedotas mozartianas. Como quando, em 1777, o novo arcebispo de Salzburgo recusou férias pagas ao jovem compositor. Após se demitir, Mozart comentou em carta ao pai: "Meu coração está leve como uma pena, desde que me afastei dessa chicana! Estou até mais balofo".

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