MP vê lavagem de dinheiro em imóveis de Flávio Bolsonaro
16 de maio de 2019
Transações imobiliárias suspeitas e altamente lucrativas do então deputado fluminense envolvem 19 imóveis e podem ter servido para mascarar desvio de dinheiro público, afirmam promotores.
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O Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro apontou "sérios indícios de lavagem de dinheiro" em transações imobiliárias para embasar seu pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro e de mais 94 pessoas ou empresas ligadas a ele, em 15 de abril, informaram nesta quarta-feira (15/05) os sites da Veja e da Folha de S. Paulo.
Segundo a Veja, com base no documento do MP que embasa o pedido de quebra de sigilo, entre 2010 e 2017, o então deputado estadual lucrou R$ 3,089 milhões em transações imobiliárias nas quais há "suspeitas de subfaturamento nas compras e superfaturamento nas vendas". O valor supera os seus vencimentos como deputado.
As transações suspeitas envolvem 19 imóveis, entre salas e apartamentos, nos quais Flávio Bolsonaro investiu R$ 9,425 milhões. O MP afirmou que as transações podem simular ganhos fictícios para encobrir enriquecimento ilícito decorrente de desvios de recursos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Os promotores relacionam casos em que o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro lucrou com a valorização excessiva de imóveis adquiridos por ele a preços abaixo de mercado.
Segundo a Folha, que teve acesso ao mesmo documento, Flávio Bolsonaro comprou dois imóveis em Copacabana por R$ 310 mil em novembro de 2012 e os revendeu, 15 meses depois, por mais do que o triplo desse valor.
Os donos anteriores dos imóveis os haviam adquirido em 2011 por R$ 440 mil e os revenderam por menos do que isso ao senador eleito em pleno boom imobiliário da cidade.
Alguns negócios suspeitos envolvem uma empresa com sede no Panamá, um conhecido paraíso fiscal, afirma o documento do MP.
A quebra dos sigilos faz parte das investigações que começaram depois de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), em desdobramento da Operação Lava Jato, ter indicado movimentações de dinheiro atípicas numa conta bancária de Fabrício Queiroz, um ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, segundo o Coaf. Ele também teve o sigilo bancário e fiscal levantado. Para o MP, há indícios de uma organização criminosa dedicada ao crime de peculato (desvio de dinheiro público) no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio.
Via Twitter, Flávio Bolsonaro disse que o sigilo bancário de suas contas já havia sido levantado "ilegalmente, sem autorização judicial", e que informações detalhadas de suas contas bancárias haviam sido divulgadas. "Agora tentam uma manobra para esquentar informações ilícitas, que já possuem há vários meses."
Ele afirmou que as informações sobre o seu patrimônio não são verdadeiras. "A verdade prevalecerá, pois nada fiz de errado e não conseguirão me usar para atingir o governo de Jair Bolsonaro", escreveu no início desta semana.
AS/ots/afp
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História do país é marcada por episódios de corrupção. Uma seleção com alguns dos mais emblemáticos.
Foto: Reuters/P. Whitaker
As origens
A colonização do Brasil foi baseada na concessão de cargos, caracterizada pelo patrimonialismo (ausência de distinção entre o bem público e privado) e o clientelismo (favorecimento de indivíduos com base nos laços familiares e de amizade). Apesar de mudanças no sistema político, essas características se perpetuaram ao longo dos séculos.
Foto: Gemeinfrei
Roubo das joias da Coroa
Em março de 1882, todas as joias da Imperatriz Teresa Cristina e da Princesa Isabel foram roubadas do Palácio de São Cristóvão. O roubo levou a oposição a acusar o governo imperial de omissão, pois as joias eram patrimônio público. O principal suspeito, Manuel de Paiva, funcionário e alcoviteiro de Dom Pedro 2º, escapou da punição com a proteção do imperador. O caso ajudou na queda da monarquia.
Foto: Gemeinfrei
A República e o voto do cabresto
Em 1881 foi introduzido no país o voto direto, porém, a maioria da população era privada desse direito. Na época, podiam votar apenas homens com determinada renda mínima e alfabetizados. Durante a Primeira República (1889 – 1930), institucionaliza-se no Brasil o voto do cabresto, ou seja, o controle do voto por coronéis que determinavam o candidato que seria eleito pela população.
Foto: Gemeinfrei
Mar de lama
Até década de 1930, a corrupção era percebida comu um vício do sistema. A partir de 1945, a corrupção individual aparece como problema. Várias denúncias de corrupção surgiram no segundo governo de Getúlio Vargas. O presidente foi acusado de ter criado um mar de lama no Catete.
Foto: Imago/United Archives International
Rouba mas faz
Engana-se quem pensa que Paulo Maluf é o criador do bordão "rouba mas faz". A expressão foi atribuída pela primeira vez a Adhemar de Barros (de bigode, atrás de Getúlio), governador de São Paulo por dois mandatos nas décadas de 1940 e 1960. O político ganhou fama por realizar grandes obras públicas, e nem mesmo as acusações constantes de corrupção contra ele lhe impediram de ganhar eleições.
Foto: Wikipedia/Gemeinfrei/DIP
Varrer a corrupção
Em 1960, o candidato à presidência da República Jânio Quadros conquistou a maior votação já obtida no país para o cargo desde a proclamação da República. O combate à corrupção foi a maior arma do político na campanha eleitoral, simbolizado pela vassoura. Com a promessa de varrer a corrupção da administração pública, Jânio fez sucesso entre os eleitores.
Foto: Imago/United Archives International
Ditadura e empreiteiras
Acabar com a corrupção foi um dos motivos usados pelos militares para justificar o golpe de 1964. Ao assumir o poder, porém, o novo regime consolidou o pagamento de propinas por empreiteiras na realização de obras públicas. Modelo que se perpetuou até os dias atuais e é um dos alvos da Operação Lava Jato.
Foto: picture-alliance/AP
Caça a marajás
Mais uma vez um presidente que partia em campanha eleitoral prometendo combater a corrupção foi aclamado com o voto da população. Fernando Collor de Mello, que ficou conhecido como "caçador de marajás", por combater funcionários públicos que ganhavam salários altíssimos, renunciou ao cargo em 1992, em meio a um processo de impeachment no qual pesavam contra ele acusações que ele prometeu combater.
Foto: Imago/S. Simon
Mensalão
Em 2005, veio à tona o esquema de compra de votos de parlamentares aplicado durante o primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que ficou conhecido como mensalão. O envolvimento no escândalo de corrupção levou diversos políticos do alto escalão para a prisão, entre eles, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Lava Jato
A operação que começou um inquérito local contra uma quadrilha formada por doleiros tonou-se a maior investigação de combate à corrupção da história do país. A Lava Jato revelou uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos. O pagamento de propinas por construtoras, descoberto na operação, provocou investigações em 40 países.