MPF denuncia irmãos Batista por manipulação de mercado
10 de outubro de 2017
Donos do grupo J&F são acusados de usar informações privilegiadas e lucrar com a compra de dólares às vésperas do vazamento de seus acordos de delação premiada.
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O Ministério Público Federal (MPF) denunciou nesta terça-feira (10/10) os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F, por uso de informação privilegiada e manipulação de mercado financeiro. Os empresários são acusados de lucrar 100 milhões de reais com a compra de dólares pouco antes do vazamento do conteúdo de seus acordos de delação premiada.
De acordo com a investigação da Polícia Federal (PF), o J&F comprou 1 bilhão de dólares às vésperas do dia 17 de maio, quando o acordo de delação premiada fechado entre os empresários e a Procuradoria-Geral da República (PGR) foi revelado pela imprensa. Os irmãos teriam ainda vendido mais de 327 milhões de reais em ações da JBS, controlada pelo grupo, na época das negociações do acordo.
O MPF alega que os irmãos sabiam que a divulgação do acordo tinha potencial para mexer com o mercado financeiro, causando possível queda das ações da empresa e a alta do dólar. Por isso, os empresários teriam usado as informações privilegiadas para realizar operações financeiras e reduzir o prejuízo do grupo.
No dia seguinte ao anúncio da delação, a bolsa fechou na maior queda em nove anos. O dólar, por sua vez, registrou alta de 8%, resultando em lucros milionários para os delatores, segundo a PF.
Funcionários do grupo confirmaram o caráter atípico das operações. A compra de dólares ocorreu entre 28 de abril e 17 de maio. A empresa JBS chegou a admitir a operação antes do anúncio da delação premiada, mas disse que o objetivo não era obter lucro, e sim proteger financeiramente seus negócios. As movimentações estavam "alinhadas à política de gestão de riscos e proteção financeira" da empresa, informou a JBS na época.
Na denúncia, o MPF afirma que Wesley foi o responsável pela compra de dólares, cuja pena varia de três a 18 de prisão, e Joesley seria o articulador da manipulação do mercado, cuja pena fica entre dois e 13 anos de detenção.
Irmãos detidos
Pivô do escândalo que resultou na maior crise política do governo de Michel Temer, Joesley está preso desde o último dia 10 de setembro, após suspeitas de que ele teria omitido informações em seus depoimentos às autoridades, o que anularia o acordo de delação e a imunidade garantida por ele.
Já Wesley, diretor-presidente da JBS, foi preso preventivamente três dias mais tarde, justamente devido ao suposto uso de informações privilegiadas para obter lucros no mercado financeiro.
Na ocasião da detenção, os advogados dos irmãos Batista afirmaram, em nota, que a prisão de ambos "no inquérito de insider information é injusta, absurda e lamentável". Eles ainda acusam o Estado brasileiro de utilizar todos os meios para "promover uma vingança contra aqueles que colaboraram com a Justiça".
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vinculada ao Ministério da Fazenda e que regula e fiscaliza o mercado de capitais, colaborou com informações para a denúncia, e paralelamente abriu processos administrativos para investigar o caso.
CN/abr/efe/ots
A corrupção através da história do Brasil
História do país é marcada por episódios de corrupção. Uma seleção com alguns dos mais emblemáticos.
Foto: Reuters/P. Whitaker
As origens
A colonização do Brasil foi baseada na concessão de cargos, caracterizada pelo patrimonialismo (ausência de distinção entre o bem público e privado) e o clientelismo (favorecimento de indivíduos com base nos laços familiares e de amizade). Apesar de mudanças no sistema político, essas características se perpetuaram ao longo dos séculos.
Foto: Gemeinfrei
Roubo das joias da Coroa
Em março de 1882, todas as joias da Imperatriz Teresa Cristina e da Princesa Isabel foram roubadas do Palácio de São Cristóvão. O roubo levou a oposição a acusar o governo imperial de omissão, pois as joias eram patrimônio público. O principal suspeito, Manuel de Paiva, funcionário e alcoviteiro de Dom Pedro 2º, escapou da punição com a proteção do imperador. O caso ajudou na queda da monarquia.
Foto: Gemeinfrei
A República e o voto do cabresto
Em 1881 foi introduzido no país o voto direto, porém, a maioria da população era privada desse direito. Na época, podiam votar apenas homens com determinada renda mínima e alfabetizados. Durante a Primeira República (1889 – 1930), institucionaliza-se no Brasil o voto do cabresto, ou seja, o controle do voto por coronéis que determinavam o candidato que seria eleito pela população.
Foto: Gemeinfrei
Mar de lama
Até década de 1930, a corrupção era percebida comu um vício do sistema. A partir de 1945, a corrupção individual aparece como problema. Várias denúncias de corrupção surgiram no segundo governo de Getúlio Vargas. O presidente foi acusado de ter criado um mar de lama no Catete.
Foto: Imago/United Archives International
Rouba mas faz
Engana-se quem pensa que Paulo Maluf é o criador do bordão "rouba mas faz". A expressão foi atribuída pela primeira vez a Adhemar de Barros (de bigode, atrás de Getúlio), governador de São Paulo por dois mandatos nas décadas de 1940 e 1960. O político ganhou fama por realizar grandes obras públicas, e nem mesmo as acusações constantes de corrupção contra ele lhe impediram de ganhar eleições.
Foto: Wikipedia/Gemeinfrei/DIP
Varrer a corrupção
Em 1960, o candidato à presidência da República Jânio Quadros conquistou a maior votação já obtida no país para o cargo desde a proclamação da República. O combate à corrupção foi a maior arma do político na campanha eleitoral, simbolizado pela vassoura. Com a promessa de varrer a corrupção da administração pública, Jânio fez sucesso entre os eleitores.
Foto: Imago/United Archives International
Ditadura e empreiteiras
Acabar com a corrupção foi um dos motivos usados pelos militares para justificar o golpe de 1964. Ao assumir o poder, porém, o novo regime consolidou o pagamento de propinas por empreiteiras na realização de obras públicas. Modelo que se perpetuou até os dias atuais e é um dos alvos da Operação Lava Jato.
Foto: picture-alliance/AP
Caça a marajás
Mais uma vez um presidente que partia em campanha eleitoral prometendo combater a corrupção foi aclamado com o voto da população. Fernando Collor de Mello, que ficou conhecido como "caçador de marajás", por combater funcionários públicos que ganhavam salários altíssimos, renunciou ao cargo em 1992, em meio a um processo de impeachment no qual pesavam contra ele acusações que ele prometeu combater.
Foto: Imago/S. Simon
Mensalão
Em 2005, veio à tona o esquema de compra de votos de parlamentares aplicado durante o primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que ficou conhecido como mensalão. O envolvimento no escândalo de corrupção levou diversos políticos do alto escalão para a prisão, entre eles, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Lava Jato
A operação que começou um inquérito local contra uma quadrilha formada por doleiros tonou-se a maior investigação de combate à corrupção da história do país. A Lava Jato revelou uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos. O pagamento de propinas por construtoras, descoberto na operação, provocou investigações em 40 países.