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Muçulmanos na Alemanha lutam contra rótulo de terroristas

Geraldo Hoffmann25 de agosto de 2006

Devido aos atentados fracassados a trens, supostamente planejados por libaneses, alemães travam debate nervoso sobre segurança. Comunidade mulçumana no país distancia-se do terrorismo.

Fiéis muçulmanos oram na mesquita do bairro Kreuzberg, em BerlimFoto: AP

Se as duas bombas descobertas em trens em Dortmund e Koblenz no final de julho passado tivessem explodido, a Alemanha teria entrado na lista dos países europeus que já sentiram o terror na própria pele, como a Espanha e o Reino Unido. Mas a tentativa de ataque terrorista bastou para abalar a sensação de segurança dos alemães.

Ainda que os atentados tenham fracassado e os dois principais suspeitos já estejam presos, o fato provocou um clima no país que em muito lembra os dias que sucederam aos ataques de 2001 em Nova York, 2004 em Madri e 2005 em Londres. Embora os motivos reais, neste caso, ainda não estejam esclarecidos.

Na mídia alemã, que já preparava publicações especiais sobre o quinto aniversário do 11/09, a retrospectiva da "guerra contra o terrorismo" foi atropelada pelos trens com a carga explosiva. Para os políticos de linha dura, as malas com bombas caíram do céu para justificar e até ampliar as leis e os gastos já feitos ou planejados em nome do combate ao terror.

Como os supostos autores dos atentados fracassados vieram do Líbano e são muçulmanos, as investigações e o debate nervoso sobre novas medidas de segurança colocaram a comunidade muçulmana na Alemanha na incômoda posição de ter de se defender contra a suspeita generalizada e de explicar que obviamente nem todos os muçulmanos são terroristas.

Cobrança política

"Os muçulmanos na Alemanha deveriam dizer com maior ênfase que rejeitam o terror. Do contrário, correm o risco de ser socialmente marginalizados e estigmatizados", adverte o ministro do Interior, Wolfgang Schäuble (CDU).

Segundo o perito em segurança do Partido Social Democrata (SPD), Dieter Wiefelspütz, "eles deveriam dizer claramente que não têm nada a ver com terrorismo e extremismo".

Wiefelspütz ressalta, porém, não ter dúvida de que a maioria dos 3,25 milhões de muçulmanos na Alemanha são "pacíficos e fiéis às leis" e se distanciam dos terroristas. Especialistas em segurança interna estimam que entre dois e três mil islâmicos dispostos à violência vivam na Alemanha.

Entidades rejeitam terror

Dezesseis entidades representativas dos muçulmanos no país publicaram nesta quinta-feira (25/08) em Colônia uma declaração conjunta, dizendo exatamente o que os políticos esperavam. "Com pavor e repulsa condenamos as tentativas de atentados a bomba", diz o texto.

Referindo-se à "impressão de uma suspeita generalizada", os muçulmanos disseram no documento ter sido duplamente atingidos pelos acontecimentos recentes. "Por um lado, como parte da sociedade, também somos potenciais alvos para ataques, como todos os outros cidadãos; por outro, sofremos cada vez mais com o fato de sermos vistos por muitos como cúmplices".

"Os muçulmanos não são o problema e, sim, parte da solução", acrescentou o secretário-geral do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha (ZMD), Aiman Mazyek. Ele disse que o ZMD vem recebendo cada vez mais cartas e e-mails de ameaça e que teme uma divisão da sociedade. "Temos de trabalhar contra isso, que significaria uma vitória para os terroristas."

Diálogo através da mídia

Schäuble vê perigo de marginalizaçãoFoto: AP

As 16 associações dispuseram-se a cooperar com a prevenção contra o perigo do terrorismo. "A cooperação é necessária. Mas não se deve esperar que atuemos como policiais auxiliares", avisou o presidente do Conselho Islâmico, Ali Kizilkaya.

Alguns analistas observam que grande parte da comunicação entre alemães e muçulmanos acontece através da mídia. "Mesmo no bairro Neukölln, em Berlim, que abriga a maior comunidade libanesa no país, alemães e imigrantes se desconhecem", diz o prefeito distrital, Heinz Buschkowsky.

No final de setembro próximo, 15 representantes do governo se encontrarão para um "diálogo real" com 15 entidades islâmicas. Ali Kizilkaya, presidente do Conselho Islâmico – considerado a maior organização islâmica do país, com 140 mil sócios – diz ter recebido carta do Departamento Federal de Migração e Refugiados, segundo a qual sua presença "não é desejada" na chamada cúpula da integração.

Marginalizados

Segundo o teuto-libanês Ralph Ghadban, perito em islamismo da Escola Superior Técnica Evangélica de Berlim, em comparação com outros grupos de estrangeiros, os 56 mil libaneses na Alemanha são os menos integrados.

"A maioria é xiita e a maior parte destes apóia o Hisbolá, que em regra não planeja ações terroristas. Os suspeitos presos pertencem à organização radical islâmica Hizb ut-Tahrir, proibida na Alemanha e pouco difundida entre os libaneses", disse em entrevista ao site Spiegel Online.

Ele contou que "a maioria dos libaneses chegou ao país logo após a queda do Muro de Berlim, através do aeroporto de Berlim Oriental, quando não havia mais controle na fronteira interalemã. Muitos vieram do cinturão de pobreza de Beirute. Durante anos, estiveram ameaçados de ser expulsos da Alemanha e não puderam trabalhar. Tiveram tempo suficiente para criar uma sociedade paralela, mas não significa que todos sejam terroristas".

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