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Mubarak volta ao tribunal entre a indignação e a indiferença dos egípcios

Markus Symank (av)18 de outubro de 2013

Atual repúdio à Irmandade Muçulmana redefine imagem do ex-ditador, hoje visto até com nostalgia por alguns. Enquanto interesse popular no julgamento é baixo, prestígio do chefe da junta militar cresce.

Hosni Mubarak no tribunalFoto: picture alliance/AA

O processo contra o ex-ditador Hosni Mubarak entra em sua fase decisiva. Durante três dias, a partir deste sábado (19/10), o tribunal responsável ouve testemunhas ligadas aos altos escalões do antigo regime egípcio – entre elas o ex-chefe de polícia Ahmed Gamal Eddin e o ex-diretor do serviço secreto Murad Muwafi.

A intimação dos dois homens de confiança de Mubarak a depor poderá ajudar a esclarecer os crimes e a culpa na morte de centenas de pessoas durante o levante popular de 2011. Um primeiro veredicto contra Mubarak foi anulado em janeiro deste ano, após um recurso apresentado por seus advogados.

Apesar das testemunhas importantes, o julgamento vem recebendo pouca atenção dos egípcios. "Depois de tudo o que a Irmandade Muçulmana aprontou, não damos grande atenção ao processo. Não faz diferença se ele vai ser condenado ou não. Acho que a maioria dos egípcios pensa assim. O assunto não nos ocupa mais", diz o advogado Mustafa Naggar, morador do Cairo.

Desilusão popular

Agora, inimigo nº 1 da nação é sucessor MorsiFoto: picture-alliance/AP

O desinteresse contrasta fortemente com as emoções em torno do primeiro processo contra Mubarak. Em 3 de agosto de 2011, milhões de egípcios acompanharam, colados à TV, como um ditador ia a tribunal pela primeira vez na história moderna do mundo árabe.

No entanto, de lá para cá muita coisa mudou de sentido no país, que foi atravessado por uma nova onda de protestos em massa. Pela segunda vez, um ex-presidente responde a julgamento, o sucessor de Mubarak, Mohammed Morsi – assim como líderes da fundamentalista Irmandade Muçulmana, à qual ele pertence.

"As pessoas se concentram, é claro, nos processos contra a Irmandade, pois foi ela que governou o país por último. Durante essa época, houve muitos problemas, e as pessoas querem saber quem é o responsável", diz o estudante Ali, que, juntamente com milhões de outros egípcios, foi às ruas protestar contra Morsi em meados deste ano. "São os da Irmandade, como afirmam os militares, ou eles é que são os oprimidos? Isso, ainda se vai ver."

História recente reescrita

O sentimento anti-islamista, impulsionado pela imprensa egípcia, chega num bom momento para os advogados de Hosni Mubarak. Por um lado, a defesa se empenha com afinco em reescrever os acontecimentos da revolta de 2011. Agora, a culpa da violência contra os manifestantes não mais caberia às forças de segurança, mas à Irmandade Muçulmana.

Por outro lado, dada a perda de confiança nos islamistas, é cada vez menos provável que sejam incluídas nos autos as conclusões do relatório de inquérito sobre a revolta de 2011, encomendado por Morsi. Até o momento, só chegaram a público partes do documento que lança nova luz sobre os 18 dias de revolta popular. Nelas, numerosas testemunhas acusam a polícia e o Exército de violações graves dos direitos humanos.

Egípcios acompanharam com suspense primeira fase do processo pela TVFoto: dapd

Observadores do processo também se manifestam decepcionados com a falta de transparência. De início, o juiz Mahmud al Rashidi prometera que todas as audiências seriam transmitidas pela televisão. Depois, no entanto, ele decretou toque de recolher noturno em todos os dias do julgamento, alegando questão de segurança nacional.

O ex-ditador e o homem forte

O próprio Mubarak parecia bem tranquilo durante as últimas audiências: ao entrar no tribunal numa maca de hospital, até acenou várias vezes para seus adeptos. Também não houve protestos pelo fato de, dois meses atrás, o réu ter sido liberado da penitenciária e posto em prisão domiciliar num hospital militar.

Em vez disso, movidos pelo caos dos últimos meses, alguns egípcios dizem ter saudades da era Mubarak. Na internet cursa uma campanha para convencer o político de 85 anos a se candidatar para a presidência.

Ex-ditador bem disposto no julgamentoFoto: picture alliance/AP Photo

Em muitas regiões, contudo, essa nostalgia de Mubarak é suplantada pela euforia em torno comandante do Exército, Abdel Fattah al-Sisi. Até mesmo o ex-presidente parece contar entre os admiradores do novo "homem forte" do Egito.

Numa gravação de áudio enviada para o jornal egípcio Youm 7, Mubarak discute com amigos a situação política no país. "Precisamos de alguém com cabeça, alguém do Exército", diz um dos presentes. O ex-ditador completa: "Tem que ser alguém que seja forte e tenha metas claras. Tem gente boa no Exército". O ponto de vista é praticamente o mesmo do novo governo no Cairo.

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