Muda imagem das primeiras-damas na Alemanha
23 de março de 2005Eva Luise Köhler, esposa do atual presidente alemão, Horst Köhler, não tem aparência de monarca. Ao invés de coroa e cetro, ela usa um terninho e carrega um laptop. A primeira-dama pode participar de mais de uma coletiva por dia, por exemplo, a da organização Achse (Aliança de Amparo a Doenças Raras e Crônicas), na qual tomou posse neste mês de março. Desde que seu marido foi eleito presidente da Alemanha, em julho de 2004, a delicada mulher de 58 anos, tem trabalhado continuamente.
Do seu escritório, na sede da Presidência em Berlim, ela coordena um período de trabalho de 12 horas. A leitura de jornais, a análise da mídia e o planejamento de encontros beneficentes são algumas das atividades rotineiras.Ela está longe de ser apenas a figura feminina, bonita e sorridente. A ex-professora do curso primário conhece a importância da sua posição. "Eu tenho condições de sensibilizar a mídia para certos problemas e conseguir patrocínio para o financianciamento de projetos", diz.
Personalidade forte no lugar de fada boazinha
A figura da primeira-dama sofreu grandes transformações nas últimas décadas. Claro que é fundamental que elas ainda se mostrem maternas, charmosas e engajadas na sociedade, conferindo um lado humano e sensível ao homem mais poderoso do Estado. Mas as mulheres que se limitam a esse papel são vistas rapidamente como antiquadas.
A autora Helene Walterskirchen também sabe disso. No livro An der Seite der Macht (Ao Lado do Poder), ela faz uma análise detalhada das esposas dos presidentes alemães. Para ela, a imagem das primeiras-damas reflete a história da emancipação da mulher. Como administrar a casa? Como cozinhar bem? Essas eram as virtudes que as damas do período pós-guerra expunham. Nos anos 70 a emancipação da mulher contribuiu fortemente para a mudança dessa imagem. "Nessa época as primeiras damas começaram a apresentar e desenvolver idéias próprias", conta a escritora. Hoje em dia as primeiras-damas já estão bem engajadas em assuntos políticos, acrescenta.
Um bom exemplo dessa participação foi Christina Rau, esposa do ex-presidente Johannes Rau. Formada em Ciências Políticas, ela aconselhava o presidente, principalmente em questões do relacionamento político entre Alemanha e Inglaterra.
A atual primeira-dama participou durante anos da política regional do Partido Social Democrata (SPD) e é considerada boa conhecedora do movimento dos sindicatos na Alemanha.
A escritora diz ainda que o poder das primeiras-damas começa com a influência delas sobre os esposos. Existe uma que ficou muito conhecida: Wilhelmine Lübke. Ela dizia em público ao marido: 'Você não pode fazer isso assim!'. Durante os dois mandatos de Lübke, de 1959 a 1969, era de conhecimento público que Wilhelmine era quem tomava as decisões.
Muito stress e muita influência
Ao ser perguntada sobre a sua influência sobre o marido, Eva Luise Köhler, sorri discretamente e prefere não responder. Com a agenda cheia, ela segue para os seus próximos compromissos, uma sessão de fotos para uma entidade de assistência a mães carentes e um debate do comitê do Unicef na Alemanha, do qual é patrona.
Ela não é a mulher à sombra de Horst Köhler, mas sim uma especialista em relações públicas, que através do próprio brilho aumenta a popularidade do marido.
Um primeiro cavalheiro?
É possivel a troca oficial de papéis? Uma presidente alemã com um 'primeiro cavalheiro' a seu lado? A autora Helene Walterskirchen mantém-se cética em relação à questão: "Nós já tivemos algumas candidatas, mas nenhuma foi eleita. A sociedade alemã é conservadora e ainda não está preparada para uma presidente e um primeiro cavalheiro".
Isso já é possível em outros países. Na tradicionalista sociedade bitânica, Margaret Thatcher, a mulher de ferro, recuperava suas forças depois de um cansativo dia de trabalho com a ajuda de um chazinho, preparado por seu cônjuge Dennis. Nos Estados Unidos, a ex-primeira-dama Hillary Clinton já é tratada como futura presidente. Se a Alemanha já está suficientemente preparada para ter uma mulher no cargo mais alto do Estado, será comprovado somente em 2009, quando a Assembléia Nacional eleger o próximo presidente.