Mudança climática causará tragédia humana, alerta ONU
3 de novembro de 2016
Metas estabelecidas pelo acordo de Paris podem não ser suficientes para evitar impacto do aumento da temperatura. Medidas adicionais devem ser tomadas desde já, afirma agência das Nações Unidas.
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Os governos devem redobrar urgentemente os esforços para diminuir as emissões de gases do efeito estufa a fim de evitar uma "tragédia humana" causada pela mudança climática, segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira pela agência das Nações Unidas para o meio ambiente (Pnuma).
Às vésperas da entrada em vigor do acordo de Paris, a agência adverte que, antes de 2030, essas emissões excederão em mais de 25% os níveis necessários para manter o aquecimento global abaixo do limite crucial de 2 graus centígrados acordado na capital francesa.
"Se não começarmos a adotar ações adicionais a partir de agora, já na próxima reunião para o clima em Marrakesh, sofreremos uma tragédia humana inevitável", afirma o chefe da Pnuma, Erik Solheim, no documento.
Representantes dos 196 países que assinaram o acordo de Paris – que entra em vigor nesta sexta-feira – se reunirão entre 7 e 18 de novembro em Marrakesh, no Marrocos.
"O aumento do número de refugiados do clima atingidos pela fome, pobreza, doenças e conflitos será um lembrete constante de nosso fracasso", diz Solheim.
O relatório da Pnuma analisa o chamado orçamento de carbono global – o total de gases causadores do efeito estufa que a humanidade pode ainda adicionar à atmosfera sem elevar as temperaturas acima dos limites do aquecimento capaz de gerar destruição.
Após estabelecerem em Paris o teto máximo para o aquecimento global de 2ºC acima dos níveis pré-industriais, um turbilhão de desastres naturais reforçados pelas mudanças climáticas levou os países a reduzirem o limite de alerta para 1,5ºC, se possível.
Metas ambiciosas
Segundo o relatório, essas metas ainda mais ambiciosas indicam que "o orçamento global do carbono restante é agora consideravelmente baixo".
Por esse motivo, o documento conclui que as emissões de CO2 na atmosfera projetadas para 2030 – incluindo os atuais esforços para reduzi-las – devem ser cortadas em mais 25% para que se tenha uma chance razoável de evitar impactos mais graves provocados pelo clima.
Mesmo se todos os planejamentos nacionais para a redução dos gases causadores do efeito estufa forem implementados em sua totalidade, incluindo os que estão condicionados a ajuda financeira, o orçamento do carbono que daria à humanidade uma chance de dois terços das temperaturas ficarem abaixo do teto de 2ºC seria completamente esgotado num período de 15 anos.
Numa outra estimativa em que se considerou uma chance de 50% de que o aquecimento global seja limitado a 1,5ºC, esse orçamento se esgotaria antes de 2030.
As emissões de carbono do setor de energia se mantiveram estáveis em 2014 e 2015, apesar de um forte aumento no Produto Interno Bruto (PIB) global. Isso pode significar que o crescimento econômico pode ser desvinculado do aumento da poluição de CO2.
Entretanto, as emissões de gases em todos os outros setores apresentaram um aumento estável em 2015, segundo o relatório da Pnuma. O ano de 2015 foi o primeiro em que a as temperaturas médias atingiram a marca de 1ºC acima dos níveis pré-industriais.
RC/afp/ap
Giro por um mundo transformado pelo clima
As mudanças do clima global estão alterando a face do mundo, do derretimento do gelo polar e elevação do nível do mar à migração da vegetação. Quem quiser mostrar aos filhos como é uma geleira de verdade, que se apresse.
Foto: Reuters/Mariana Bazo
Mundinho pequeno
Mesmo se conseguirmos manter o aquecimento global abaixo de 2°C, 2015 poderá ser o ano mais quente já registrado desde a era pré-industrial. O risco de o nível do mar subir mais de um metro e submergir Amsterdã persiste. Se continuarmos a emitir dióxido de carbono na velocidade atual, até 2100 a Terra terá se aquecido em 4°C – e Nova York estará sob o mar.
Foto: CC BY 2.0 Duncan Hull
Recifes de coral por um fio
Mergulhar na Austrália para admirar os belos recifes de coral pode ser um prazer com dias contados, pois o aquecimento global vai destruindo esses ecossistemas submarinos. As águas cada vez mais quentes causam a descoloração dos corais, e um aumento de 2°C pode dissolvê-los. O acréscimo de CO2 torna a água dos oceanos mais ácida, impedindo o crescimento normal das estruturas calcárias.
Foto: picture-alliance/ dpa
Alpes sem esqui
O aquecimento nos Alpes é "três vezes a média global", segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O nível de neve diminui a cada ano e a vegetação conquista montanhas mais altas. Estações de esqui nas zonas inferiores estão ameaçadas de falência. Alguns resorts até cobrem a neve com material reflexivo durante os meses mais quentes, na tentativa de deter o derretimento.
Foto: picture-alliance/chromorange
Veneza – beleza submersa?
A italiana Veneza é apenas uma entre as cidades ameaçadas de desaparecer com a subida do nível do mar. Ou de se tornar inabitável, devido a inundações e tempestades cada vez mais fortes. O mesmo medo atinge Miami, Nova York, Santo Domingo, Bangkok, Barranquilla, Hong Kong, Cidade de Ho Chi Minh, Palembang, Tóquio, Mumbai, Alexandria, Amsterdã: todas elas correm risco.
Foto: picture-alliance/dpa
Passagem Noroeste
O derretimento das geleiras está permitindo que navios cortem caminho entre a Europa e a Ásia pela historicamente intransitável Passagem Noroeste. Em 2007, a Agência Espacial Europeia anunciou que o trecho estava "inteiramente navegável". Embora ainda não esteja suficientemente livre para navios de carga, os cruzeiros agora já oferecem uma rota antes reservada aos aventureiros e exploradores.
Foto: DW/I.Quaile
Elefantes em perigo
O aumento populacional e as mudanças climáticas afetam os animais. Eles lutam para se ajustar às secas cada vez mais frequentes e intensas, ondas de calor, tempestades e o aumento do nível do mar. A organização de proteção ambiental WWF incluiu o elefante africano na lista das espécies e lugares atingidas pelas mudanças climáticas, juntamente com as tartarugas, tigres, golfinhos e baleias.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca californiana
As mudanças climáticas são claramente visíveis no estado americano da Califórnia, que é afetado por fortes períodos de seca. Os últimos três anos foram os mais quentes de todos os tempos. Quem quiser passear pelas plantações de amêndoas na Califórnia, as de café no Brasil ou os campos de arroz no Vietnã, é agora ou nunca.
Foto: Reuters/L. Nicholson
Escalando as últimas geleiras
A lista do Patrimônio Mundial da Humanidade inclui numerosas belezas naturais, mas com um aquecimento global de 3°C, 136 dessas 700 maravilhas serão afetadas. Entre elas o Glacier National Park, nos EUA, onde os efeitos das mudanças climáticas estão sendo estudados. Das 150 geleiras existentes aqui no século 19, sobravam 24 em 2010. A previsão é que em 2030 o parque estará privado de todas elas.
Foto: gemeinfrei
Mudança climática a domicílio
Se depois de todas essas imagens, você ainda não teve vontade de conhecer nenhum desses lugares, pode ficar onde está. As mudanças climáticas poderão vir bater à sua porta, sem que você sequer precise se levantar do sofá. A Climate Central acredita que mais de 150 milhões de pessoas moram em áreas que serão submersas ou estarão sujeitas a inundações constantes até 2100. Ou mesmo bem antes disso.