Falta de água, causada por alteração no volume de chuvas e aquecimento da temperatura, já impacta rota marítima inaugurada em 1914. Presidente panamenho diz que alteração no clima é o maior desafio para operação da via.
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A falta de água decorrente das mudanças climática é o maior desafio que o Canal do Panamá enfrenta para continuar operando normalmente, anunciou o governo panamenho nesta terça-feira (01/01) nas comemorações dos 20 anos da transferência da administração da via marítima ao país da América Central.
Segundo o presidente panamenho, Laurentino Cortizo, nos últimos 20 anos o canal rendeu frutos ao ser administrado "com maior eficiência", gerando "lucros crescentes" que foram destinados ao "desenvolvimento do país". Cortizo alertou, porém, que o abastecimento de água é um grande desafio para o futuro.
"Não somente a água para o consumo humano, mas para a produção de alimentos e para abastecer o canal", destacou o presidente.
O administrado do Canal, Ricaurte Vásquez, ressaltou que os impactos do aquecimento global já são evidentes na via. "Neste século, vimos novas oportunidades e ameaças, a maior delas é mudança climática e seus efeitos, que claramente já nos afetam", acrescentou.
De acordo com a Autoridade do Canal do Panamá (ACP), as chuvas ficaram 27% abaixo da média em 2019, enquanto o aumento da temperatura no Lago Gatún, que chegou a 1,5°C nos últimos dez anos, impulsionou uma maior evaporação da água nos reservatórios que abastecem a via marítima.
Diante a esses fatores, o Canal só dispôs de 3 bilhões de metros cúbicos de água neste ano, em vez dos 5,2 bilhões de metros cúbicos necessários para operar de maneira sustentável. Essa redução fez com que companhias de navegação optassem por outras rotas, como o Canal de Suez.
Para reduzir os impactos do aquecimento global, a ACP pretende implementar novas medidas, entre elas a busca por novas fontes de água, por meio da transferência de rios, da construção de novos reservatórios ou da dessalinização da água do mar.
Construído e administrado pelos Estados Unidos desde a sua inauguração em 1914, o Canal do Panamá foi transferido ao país da América Central em 31 de dezembro de 1999 como resultado de um tratado assinado entre os países em 1977. Desde então, os lucros da via contribuem para as finanças do país.
Em 2019, essa contribuição foi de 1,786 bilhões de dólares, batendo novamente um recorde desde a ampliação do canal, inaugurada em junho de 2016. A obra custou mais de 5,6 bilhões de dólares e durou quase uma década.
Com a ampliação, a rota, que une o Atlântico ao Pacífico, possibilitou o acesso aos navios Post Panamax, que transportam até 14 mil contêineres. Antes, o máximo possível eram navios de até 4.400 contêineres.
Além das mudanças climáticas, o Canal, usado principalmente para conectar a Ásia à costa leste dos Estados Unidos, enfrenta ainda o declínio global do comércio decorrente da desaceleração econômica. Até recentemente, quase 5% do comércio mundial transitava pela via, porém, esse número caiu para 3,5%. Apesar do declínio, em 2019, a rota bateu recorde de faturamento, que chegou a 3,37 bilhões de dólares.
Até o século 19, só a necessidade extrema faria alguém querer atravessar o oceano. Em 1891, o advento da navegação a vapor e o proprietário de navios alemão Albert Ballin mudaram esse quadro com os cruzeiros de férias.
Foto: Hapag-Lloyd AG
Novo capítulo da navegação
O 22 de janeiro de 1891 foi um dia desagradável na cidade de Cuxhaven, na Baixa Saxônia. O vento era forte, o mar se encrespara. A bordo do Augusta Victoria, parte dos 174 passageiros lutava para manter os estômagos calmos, com ostras intactas na sala de jantar. Mas os dois meses seguintes mudaram tudo: a "Orient Expedition", a primeira viagem de um navio-cruzeiro, foi um sucesso espetacular.
Foto: Hapag-Lloyd AG
Ideia surgida da necessidade
A ideia de Albert Ballin, de enviar o Augusta Victoria num cruzeiro de lazer em climas mais quentes, era simplesmente genial. De outra forma, o maior navio de passageiros então existente, com 144 metros, teria passado todo o inverno ancorado. Durante a estação fria, a demanda pela passagem transatlântica usual se reduzia bastante, pois o Atlântico Norte era perigoso demais para se navegar.
Foto: Hapag-Lloyd AG
Nascem os cruzeiros de férias
Com esse cruzeiro mediterrâneo de férias em 1891, Ballin, então diretor da companhia de navegação Hapag, encontrou uma excelente oportunidade de negócios. Havia clientes interessados em destinos ensolarados, como Constantinopla ou Nápoles. E, em vez de migrantes desesperados, os passageiros eram industriais ricos. Essa sacada de mercado colocou a Hapag na dianteira da concorrência.
Foto: Hapag-Lloyd AG
Sem luxo nem diversão
Até meados do século 19, as viagens oceânicas eram tudo, menos diversão. No convés inferior, onde passageiros da terceira classe tomavam o lugar da carga vinda da América, as condições eram cruéis. Epidemias se alastravam e a comida era escassa. O pior de tudo: o tempo que uma embarcação levaria para atravessar o Atlântico era desconhecido e variável.
Foto: picture-alliance/dpa/UPI
Jornada com fim incerto
Milhões de pessoas deixaram a Alemanha depois de 1850, fugindo do desemprego e da fome. Mesmo contando com a benevolência dos mares, o trajeto até a América levava cerca de seis semanas. Se as condições meteorológicas fossem ruins, muitos sucumbiam à inanição a bordo ou afundavam nos navios de carga, de difícil manobra. Na época, a chance de completar a viagem não passava de 50%.
Foto: picture-alliance/dpa/KNA
Vapores promissores
A situação melhorou a partir de 1889, quando entrou em serviço o Teutonic, o primeiro transoceânico a vapor sem velas. Ele pertencia à britânica White Star Line, que competia com outras companhias marítimas pelo controle do mercado atlântico. Sua meta era sempre continuar se aprimorando em velocidade e conforto – pelo menos para a primeira classe. Na foto, o salão das senhoras do Augusta Victoria.
Foto: Hapag-Lloyd AG
Titanic, um golpe fatídico
Ao começar a navegar, em 1912, o Titanic era o maior navio em funcionamento do mundo. Seus operadores pretendiam estabelecer novos padrões de luxo em termos de recursos e serviços. No entanto, em sua viagem inaugural entre Southampton e Nova York, ele colidiu com um iceberg, indo a pique. Num dos desastres marítimos mais fatídicos da história moderna, 1.514 dos 2.200 passageiros morreram.
Foto: picture-alliance/dpa/DB Ulster F & T Museum
Cruzeiros de massa
Apesar do golpe representado pelo Titanic, de lá para cá o número dos navios-cruzeiros e de passageiros só tem aumentado. Em 2015, cerca de 22 milhões de pessoas viajaram em cruzeiros, cujos preços foram baixando à medida que se transformaram em negócio de massa. Hoje, uma viagem transatlântica a partir da Alemanha gira em torno de 1.500 euros – 30% menos do que cinco anos atrás.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Weißbrod
Palácios flutuantes
Em vez da biblioteca a bordo, hoje se aposta em simuladores de surfe, cinemas Imax e tobogãs de dez andares. Ervas são cultivadas em estufas nos próprios navios, e robôs preparam coquetéis no bar. Em 2016, 11 novos cruzeiros da classe superluxo serão lançados em diversas partes do mundo. Eles ostentam suítes de até 360 metros quadrados – por bem mais de 1.500 euros por pessoa, é claro.