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Mugabe reaparece em público após intervenção militar

17 de novembro de 2017

Oficialmente em prisão domiciliar, presidente do Zimbábue é visto em público pela primeira vez desde que Forças Armadas assumiram o controle do país. Sua saída do poder, após quase quatro décadas, ainda é incerta.

Robert Mugabe durante cerimônia em universidade em Harare
Robert Mugabe durante cerimônia em universidade em HarareFoto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, presidiu uma graduação numa universidade da capital Harare, nesta sexta-feira (17/11), no que foi sua primeira aparição pública desde que foi posto em prisão domiciliar pelos militares, que mantêm o controle do país.

Segundo informou o portal noticioso local News Day, o presidente compareceu ao local sob vigilância e sem a companhia da esposa, Grace Mugabe.

O ministro da Educação, Jonathan Moyo, que, segundo a imprensa local, continua detido, também não foi visto na cerimônia. O ato oficial na Universidade Aberta do Zimbábue estava programado na agenda de Mugabe antes da intervenção das Forças Armadas.

Leia também: O dedo da China na crise no Zimbábue

Desde o início da semana, Mugabe está confinado em sua residência, enquanto ocorrem uma série de negociações políticas sobre seu afastamento. Ele está no poder há 37 anos – somando os cargos de primeiro-ministro e presidente. Até o momento, os militares têm mostrado respeito pelo presidente de 93 anos, referindo-se a ele como "comandante-em-chefe".

No entanto, também nesta sexta-feira, o líder da associação de veteranos de guerra do Zimbábue – uma voz poderosa na política do país – disse que Mugabe deveria renunciar imediatamente e convocou protestos contra o presidente para sábado.

"Os generais fizeram um trabalho fantástico. Está feito, está terminado", disse Christopher Mutsvangwa, em Harare. "Não há volta para Mugabe. Ele tem que sair." O líder oposicionista Morgan Tsvangirai também pleiteou a renúncia de Mugabe.

A crise em torno do presidente de 93 anos atingiu seu ápice quando o Exército interveio e tomou o controle do país na noite de terça para quarta-feira. Mugabe foi colocado em prisão domiciliar em seu complexo em Harare, e os militares assumiram a televisão estatal e bloquearam as estradas principais na capital.

Na quinta-feira, porém, a televisão estatal mostrou o encontro de Mugabe com o comandante militar Constantino Chiwenga sem sua casa, onde ele aparentemente também se encontrou com enviados sul-africanos.

As fotos num jornal estatal mostraram um sorridente Mugabe apertando a mão de Chiwenga. Os dois se encontraram com o ministro da Defesa da África do Sul, Nosiviwe Mapisa-Nqkula, e seu homólogo zimbabuense Sydney Sekeramayi.

Apesar do caos político, a população de Harare começou a retomar sua rotina na quinta-feira, enquanto escolas e lojas permaneceram abertas na capital, embora soldados mantivessem patrulha e vigilância nos arredores dos principais edifícios governamentais.

O comissário para a paz e a segurança da União Africana (UA), Smail Chergui, disse em entrevista à DW que a UA espera uma resolução pacífica. "Acredito que, enquanto falamos, o Parlamento ainda está em vigor, o governo está trabalhando e não há sinal de violência. Esperamos que a SADC venha a ser bem-sucedida na neutralização das tensões."

A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) é uma organização intergovernamental com sede em Botswana que visa promover a cooperação política e de segurança entre 16 Estados do sul da África, incluindo Zimbábue e África do Sul.

A crise atual no Zimbábue eclodiu após semanas de agitação política depois que Mugabe demitiu seu vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, extremamente popular entre as Forças Armadas. Críticos afirmam que a medida visava abrir o caminho para a esposa Grace, de 52 anos, suceder Mugabe na presidência do país.

Embora Mugabe seja fortemente criticado por violações de direitos humanos, para muitos ele é um herói da luta da independência do país contra o Reino Unido e um provedor de estabilidade, mesmo que a outrora próspera economia tenha se desintegrado sob suas políticas financeiras atuais. Em 2009, a inflação atingiu proporções tão altas que a própria moeda do Zimbábue foi nulificada em favor transações com o dólar americano.

Desde a intervenção, os militares negam se tratar de um golpe e dizem que as ações têm o objetivo de "derrubar criminosos no entorno de Mugabe". A imprensa estatal publicou nesta sexta-feira um comunicado indicando que as conversações "prosseguem".

PV/efe/lusa/ap/rtr/afp

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