'Muitos surfam na onda'
22 de dezembro de 2008O ministro alemão da Defesa, Franz Josef Jung, visita nesta segunda-feira (22/12) a capital da Somália, Mogadíscio. De lá parte, na terça-feira, a fragata alemã Karlsruhe, para, diante da costa do país, apoiar a missão Atalanta, da União Européia, na luta contra a pirataria.
Na rede do crime organizado
Os números são impressionantes: 250 marinheiros e mais de uma dúzia de embarcações estão, no momento, em mãos de piratas somalianos. O International Maritime Bureau, sediado em Londres, registrou 92 ataques por piratas no Chifre da África somente este ano. Os resgates exigidos circulam geralmente em torno de um a dois milhões de dólares por embarcação abordada. As exigências atingiram um ponto máximo com o espetacular seqüestro do superpetroleiro saudita Sirius Star: 25 milhões de dólares.
Porém quem, além dos piratas, lucra com essas somas gigantescas? Roger Middleton, especialista em assuntos somalianos do think tank londrino Chatham House, está convencido que os criminosos, na maior parte, não agem isolados, mas possuem boas conexões com o crime organizado no exterior.
"Muitos são oportunistas e atacam qualquer navio que esteja passando, mas com certeza muitas dessas quadrilhas de piratas possuem contatos com outras partes do mundo, alguns mais, outros menos. Certos piratas revelam abertamente ter parceiros no Oriente Médio, na Europa e na América do Norte."
A problemática maior
Sem sombra de dúvida, a pirataria é uma conseqüência direta do vácuo de poder reinante na Somália desde 1991. O frágil governo de transição de Abdullahi Yusuf Ahmed já é a 15ª tentativa de encontrar uma saída pacífica para o país.
Um sistema estatal e jurídico operante continua sendo uma meta longínqua. Segundo dados de organizações humanitárias, a metade dos somalianos depende de ajuda externa para sobreviver. E centenas de milhares passam fome. Middleton está convencido que as enormes somas movimentadas pelos piratas nas regiões costeiras representam uma enorme tentação.
"Eu soube de pelo menos um caso em que os piratas contrataram um professor para traduzir durante as negociações. Sempre que uma embarcação é abordada, põe-se, de súbito, uma gigantesca máquina em movimento, nas cidades costeiras. Vários afirmam: 'sou o chefe de negociações', 'sou o assessor jurídico dos piratas', 'sou isso e aquilo'. Muitos querem surfar na onda de sucesso dos piratas."
Também funcionários e representantes do governo embolsam polpudas somas com os negócios ilegais diante da costa somaliana. Em especial na região autônoma Puntland, no nordeste do país. Lá, transcendendo as solidariedades tradicionais, uma rede de corrupção sem precedentes une tanto clãs locais e piratas quanto membros do governo nacional, partidos de oposição e movimentos militantes."Os piratas pagam qualquer um que tenha suficiente influência política", explica Middleton.
"Temos que compreender que toda a problemática da pirataria tem a ver com o fato de a Somália ser um Estado fracassado. E um motivo disso é que a comunidade internacional nunca levou a sério os assuntos somalianos. Se quisermos combater os piratas, temos que penetrar na dimensão política subjacente."
Autor: Jan-Philipp Scholz (av)