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Mujica diz que Argentina atrapalha Mercosul

28 de fevereiro de 2015

Às vésperas de deixar o cargo, presidente uruguaio afirma a jornal que política interna do país vizinho dificulta o desenvolvimento do bloco, apesar de Cristina Kirchner ter feito gestos para melhorar a integração.

Foto: picture-alliance/AP/N. Pisarenk

O presidente do Uruguai, José Mujica, afirmou em entrevista publicada neste sábado (28/02) que o antiquado modelo de política interna da Argentina – "típico de 1960" – cria problemas para o desenvolvimento do Mercosul, ainda que a nação vizinha "tenha feito gestos" para melhorar a integração.

"A Argentina está inserida em um projeto, na minha opinião, muito fechado, e isso traz consequências para a região", afirmou o mandatário na edição deste sábado do jornal uruguaio El País. Mujica, de 80 anos, deixa o cargo neste domingo, quando passará o comando do país sul-americano para seu antecessor e aliado, Tabaré Vázquez.

Mujica definiu o projeto político da Argentina como "típico de 1969, para escolher uma data", ao passo que, em sua definição, o Uruguai encontra-se "na época da integração". "Creio que essa política interna da Argentina nos cria problemas para o desenvolvimento do Mercosul", indicou o presidente sobre o bloco formado ainda por Brasil, Paraguai, Venezuela e Bolívia.

Ele assinalou que isso não significa que a Argentina "não tenha feito gestos", já que na visão dele o país vizinho "tem feito muitos", mas sofre a "imposição do modelo que assumiu, e isso é contraditório com a integração do Mercosul".

O presidente uruguaio assegurou que faz uma "crítica em família" e que "quando a Argentina vai bem, o Uruguai vai melhor", mesmo que muitos uruguaios não se deem conta disso, afirmou.

Mujica trabalhou durante os cinco últimos anos para melhorar as relações bilaterais com a Argentina e desarmou a maior crise das últimas décadas entre os dois países. O imbróglio se iniciou em 2006 por causa da instalação de uma fábrica de papel em um rio fronteiriço.

Dilma e Mujica inauguram parque eólico

A presidente Dilma Rousseff está no Uruguai para participar da cerimônia de posse de Tabaré Vazquez. Neste sábado, ela e Mujica destacaram a importância da integração regional durante a inauguração de um parque eólico instalado na cidade uruguaia de Tarariras por empresas estatais dos dois países – a Usinas Termoeléctricas del Estado (UTE) e a Eletrobras.

Mujica destacou que, "se tivéssemos um Brasil e uma Argentina rica", o Uruguai teria que "trabalhar muito menos" para conseguir mercados para absorver a produção uruguaia. Dilma afirmou seu compromisso em trabalhar por uma América latina "livre, desenvolvida e democrática".

Discurso emocionado de despedida

Milhares de uruguaios se despediram nesta sexta-feira de José Mujica. Ele foi ovacionado por cerca de 3 mil pessoas na Praça Independência, a principal de Montevidéu, após receber uma bandeira do país em seu último ato protocolar.

"Querido povo, obrigado, obrigado pelos abraços, críticas, pelo carinho e, sobretudo, obrigado pelo profundo companheirismo todas as vezes em que me senti sozinho no meio da presidência", disse Mujica, que será senador entre 2015 e 2020.

O uruguaio finaliza seu mandato com 65% de aprovação, segundo uma última pesquisa realizada em dezembro pela consultoria Equipos.

FC/efe/rtr/dpa

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