Mulheres dão início aos protestos de 1º de Maio em Berlim
Alex Berry
1 de maio de 2022
Milhares de manifestantes condenam a violência contra a mulher em ato feminista na capital alemã, que termina em confrontos com a polícia. Em outro protesto, ativistas por moradia ocupam hostel abandonado.
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Após dois anos de ações limitadas devido à pandemia de covid-19, manifestantes voltaram às ruas de Berlim na noite deste sábado (30/04) para dar início à série de protestos e festividades que envolvem o 1º de Maio na Alemanha.
Sob o lema "Retomem a noite", centenas de mulheres participaram de uma manifestação feminista no centro da cidade, visando condenar principalmente a violência contra a mulher. A agência de notícias alemã DPA estima a presença de 2.500 pessoas, além de forte presença policial.
A marcha começou pacífica, mas prisões também foram relatadas. Uma repórter do jornal Berlin Tagesspiegel escreveu no Twitter que os primeiros confrontos ocorreram quando a polícia tentou retirar à força os manifestantes, que gritavam "Sem Deus, sem Estado, sem patriarcado".
Relatos apontam que houve repetidos confrontos entre policiais e manifestantes. Em seguida, o protesto se dissolveu espontaneamente, o que teria deixado os oficiais surpresos.
A capital alemã contou ainda com outros atos durante a noite, incluindo protestos contra o aumento dos aluguéis e contra a abertura de uma nova delegacia policial no bairro de Kreuzberg.
No início da manhã, um grupo de ativistas habitacionais ocupou o prédio de um antigo hostel desocupado no centro de Berlim, antes de a polícia os retirar do local.
"Enquanto milhares de pessoas vivem em acomodações de massa de baixa qualidade, são colocadas umas contra as outras e não têm um lar seguro, 80 quartos estão aqui vazios há anos", escreveu no Twitter o grupo ativista Hotels to Housing (em tradução livre, "hotéis para habitação").
Forte presença policial
Berlim tem uma longa tradição de marchas e protestos em 1º de maio – uma data tradicionalmente celebrada pela esquerda por seu significado histórico para o movimento dos trabalhadores.
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Uma "manifestação revolucionária" está programada para ocorrer na noite deste domingo, com a polícia alertando para a possibilidade de violência em um protesto "autônomo", ou anarquista, na capital.
A secretária do Interior de Berlim, Iris Spranger, afirmou à emissora pública RBB que cerca de 6.000 policiais foram mobilizados para o fim de semana. Segundo ela, a polícia vai "intervir massivamente se houver confrontos". "É claro que sabemos que isso pode resultar em violência, e provavelmente acontecerá", alertou.
Oficiais também foram trazidos de outros estados alemães, embora também sejam esperados protestos em outras grandes cidades do país.
Tradições alemãs do 1º de maio
Festas, fogos ou árvores com fitas coloridas: várias tradições marcam a passagem de 30 de abril para 1º de maio na Alemanha.
Foto: Getty Images
Galhos enfeitados
Na noite para 1º de maio, os rapazes deixam o Maibaum, uma árvore enfeitada com fitas coloridas, diante da casa da amada. Muitos ainda confeccionam artesanalmente uma placa com o nome dela para prender na árvore. Em anos bissextos, isso é feito pela garota. O costume ficou conhecido como Maibaum (árvore de maio). Reza a tradição que, em um mês, a árvore tem de ser retirada por quem a colocou.
Foto: Imago/Blickwinkel
Árvore comunitária
Em algumas cidades, como Munique ou Dresden, é tradicional colocar uma grande árvore de maio na praça central da cidade. Na foto, 40 pessoas ajudam a prender a árvore de 800 quilos e 12 metros de altura em Dresden. Muitas vezes há competição entre os rapazes para ver quem consegue subir até a ponta dela.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hiekel
Entrar dançando
A virada de 30 de abril para 1º de maio é celebrada com festas e música, na Tanz in den Mai (algo como "comece o maio dançando"). Antigamente, em regiões de forte influência católica, o relacionamento entre homens e mulheres era restrito, de forma que os jovens de sexos opostos tinham dificuldades para se conhecer. Para eles, esta era a única oportunidade para fazer contatos.
Foto: DW
Dança folclórica
No sul da Alemanha, há vilarejos em que as crianças dançam nas ruas vestidas com trajes típico, enquanto interpretam canções sobre o mês de maio.
Foto: picture-alliance/dpa
Rainha de maio
Desde a Idade Média, é tradição alemã coroar uma garota como a "rainha de maio". Em muitos locais, ela tem de dançar ou dar um beijo em quem pagar mais (o dinheiro vai para a organização da festa) ou no "rei de maio".
Foto: picture-alliance/dpa/R. Scheidemann
Fogo de maio
Em muitas regiões alemãs pulam-se fogueiras na noite antes do 1º de maio. Muitos locais têm até uma bruxa feita de palha e panos velhos, que é queimada para banir maus espíritos.
Foto: AP
Festa de bruxas
A Noite de Santa Valburga, que antecede o 1º de maio, é tradicionalmente uma festa cristã para celebrar a canonização da princesa inglesa e abadessa Valburga, que morreu na Baviera. Como esta noite também é associada a ritos pagãos pela chegada da primavera na Europa, há festas e encontros de "bruxas". Na região de Harz, por exemplo, há encontros inspirados na mãe natureza e forças ocultas.
Foto: AP
Linha do amor
Maistrich, ou linha de maio, é a tradição que consiste em pintar com cal uma linha ligando as moradias de duas pessoas apaixonadas. Nas extremidades, pode ser pintado um coração e o nome dos enamorados. Na região da Renânia, há ainda o hábito de fazer um coração e o nome da pessoa amada com grãos de arroz.
Foto: Fotolia/d-jukic
Distúrbios em Berlim
Mas nem tudo são flores. Na noite para 1º de maio já viraram tradição em Berlim as passeatas de manifestantes de extrema esquerda e os confrontos com a polícia. Tudo começou em 1º de maio de 1987, com graves tumultos no bairro alternativo berlinense de Kreuzberg, incluindo saques, vidros quebrados e carros incendiados.