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Mulheres de Hollywood lançam plano contra assédio sexual

2 de janeiro de 2018

Com iniciativa 'Time's Up', atrizes e outras profissionais da indústria do entretenimento querem chamar atenção para abusos no ambiente de trabalho. "O assédio continua demasiadamente frequente", diz carta aberta.

Eva Longoria, Reese Whiterspoon e Nina L. Shaw
Eva Longoria, Reese Whiterspoon e Nina Shaw estão entre as que apoiaram a campanha Foto: Getty Images

Mais de 300 mulheres que trabalham como atrizes, diretoras, agentes, escritoras e produtoras em Hollywood lançaram nesta semana um plano de ação para combater o assédio sexual no local de trabalho.

Leia também: Mulheres que romperam silêncio são Pessoa do Ano da "Time"

"O assédio continua demasiadamente frequente porque perpetradores e empregadores nunca enfrentam nenhuma consequência", escreveram as organizadoras numa carta aberta publicada no jornal The New York Times e no diário em língua espanhola La Opinión.

A iniciativa, chamada de Time's Up (O tempo acabou, em tradução livre), é capitaneada por atrizes como Meryl Streep, Jennifer Lawrence, Emma Thompson, Cate Blanchett, Reese Witherspoon e Eva Longoria, além da advogada da indústria do entretenimento Nina Shaw.

A campanha foi lançada após um ano em que as denúncias de crimes sexuais protagonizados pelo produtor Harvey Weinstein desencadearam uma onda de acusações que derrubaram homens poderosos nos setores do entretenimento, da política e da comunicação. O escândalo também levou empresas, agências do governo e até o sistema de tribunais de Justiça dos Estados Unidos a reavaliarem políticas antiassédio.

As mulheres proeminentes de Hollywood pedem apoio a mulheres camponesas e de trabalhadoras de pouco destaque, como operárias.

"Reconhecemos nosso privilégio e o fato de que temos acesso a enormes plataformas para amplificar as nossas vozes. Ambas as coisas chamaram ampla atenção para a existência desse problema [os crimes sexuais] na nossa indústria, [uma atenção] que mulheres camponesas e incontáveis mulheres empregadas em outras indústrias não tiveram", diz o texto.

Falta de representação

A carta pede que mais mulheres assumam posições de liderança e poder em todas as indústrias, além de exigir representação igualitária e oportunidades, benefícios e pagamentos justos para mulheres em todos os setores – "sem falar de maior representação de mulheres negras, imigrantes e lésbicas, bissexuais e transgêneros, cujas experiências no local de trabalho frequentemente são significativamente piores que as de seus pares brancos, cisgêneros [que mantiveram o gênero definido após o nascimento] e heterossexuais", constatam as autoras.

Carta aberta de solidariedade da iniciativa "Time's Up" contra o assédio sexualFoto: timesupnow.com

"Fervorosamente exortamos a mídia que está cobrindo as revelações de pessoas em Hollywood a dedicar o mesmo tempo às infinitas experiências de pessoas trabalhando em mercados menos glamurosos e menos valorizados", continua a carta.

As atrizes ainda apoiam "cada mulher que trabalha no setor da agricultura e que teve que rechaçar avanços indesejados de seu chefe, cada arrumadeira que tentou escapar de um hóspede violento, cada faxineira presa à noite num prédio com um supervisor predatório, cada garçonete agarrada por um cliente e de quem se espera que ela receba [a agressão] com um sorriso... Estamos com você".

O grupo também se aliou à Alianza Nacional de Campesinas, uma organização que combate o abuso sexual contra as mulheres – em sua maioria, de ascendência latina – que trabalham na indústria agrícola dos EUA.

Doações

Entre os itens específicos que anunciou, a iniciativa Time's Up estabeleceu um fundo legal de defesa que arrecadou 13,4 milhões de dólares – de um objetivo de 15 milhões – em apenas 12 dias. O objetivo do fundo é fornecer ajuda legal para mulheres e homens que foram vítimas de assédio sexual, abuso ou ataques no local de trabalho ou enquanto buscam construir uma carreira profissional.

"A discriminação sexual, o assédio e os ataques que foram relatados e vieram à luz durante os dois últimos meses foram igualmente aterrorizantes e esclarecedores", diz um texto no site da iniciativa, que também lista uma série de passos sobre como agir em caso de crimes sexuais e onde procurar ajuda.

No mês passado, o chefe da Ford Motor Company se desculpou com funcionárias de duas fábricas em Chicago e prometeu mudanças após uma denúncia detalhada publicada no The New York Times sobre o assédio a mulheres nessas instalações nos anos 1990. Trata-se de uma das primeiras grandes investigações da imprensa sobre o assédio sexual em ambientes industriais.

A Time's Up quer pressionar para que a legislação reforce leis de assédio e discriminação no local de trabalho. A campanha também pediu que as mulheres presentes na cerimônia de entrega dos prêmios do Globo de Ouro, no próximo domingo, vistam preto como uma manifestação contra a desigualdade de gênero e racial, e para chamar a atenção para os esforços do grupo.

RK/afp/dpa/ots

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