Mulheres em profissões técnicas são exceção na Alemanha
Mischa Ehrhardt
12 de março de 2023
Poucas jovens optam por seguir carreira em áreas consideradas masculinas no país europeu. Setores técnicos querem mudar esse padrão.
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A 5ive Bike é uma pequena loja de bicicletas com uma oficina no leste de Frankfurt. Bettina Karow, de 41 anos, abriu aqui seu negócio próprio há 13 anos. E não foi um caminho fácil. "Já foi difícil encontrar um curso de qualificação e depois um emprego. Muitas vezes ouvia que não havia vestiários nem banheiros para funcionárias mulheres, isso era um problema".
Apesar de todos os obstáculos, ela seguiu no seu caminho. Mas, como mecânica de bicicletas, ela muitas vezes teve de lutar contra preconceitos num setor fortemente dominado por homens. "Antes, tive uma loja em outro local. Era pequena porque o dono do prédio não queria me alugar um espaço maior, porque [ele acreditava que] nenhum homem deixaria uma mulher consertar uma bicicleta. Isso foi extremo".
O que é profissão de mulher?
04:25
Agora Karow tem outra loja, embora ela ainda tenha de lidar com dificuldades. São sobretudo as consequências da pandemia e os problemas da cadeia de abastecimento, que dificultam os pequenos negócios como o dela.
Apenas 20% dos aprendizes são mulheres
Bettina Karow pode ser considerada uma "mulher modelo" nas profissões técnicas. Entre os aprendizes, a proporção de mulheres em profissões como a sua, na construção civil, ou na mecânica de automóveis não passa de 5%.
"As mulheres estão ainda fortemente sub-representadas nas profissões técnicas", diz Gabriele Wydra-Somaggio, do Instituto de Pesquisa para o Mercado de Trabalho e do Emprego (IAB) da Agência Federal de Emprego da Alemanha. "É aí que esta divisão de gênero do mercado de formação e de trabalho se mostra muito claramente".
O percentual de mulheres entre os aprendizes é de cerca de 20%. As diferentes áreas das profissões técnicas são particularmente divididas por gênero. Há claramente profissões dominadas por mulheres, como é o caso das cabeleireiras. Profissões como confeiteira, costureira ou ourives são também áreas preferidas por elas.
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Campanha para melhorar a imagem
As profissões de técnico dentário e também óptico são populares entre as mulheres. Já em áreas como a construção civil os homens ainda dominam. "Portanto, ainda há espaço para melhorias", disse à DW o presidente da Confederação Alemã das Profissões Técnicas, Jörg Dittrich.
O segmento e a sua associação estão tentando atrair as jovens mulheres por meio de vários projetos e iniciativas, como o Dia das Garotas, em que empregadores abrem as portas para cativar aprendizes femininas. Uma campanha de imagem visa ajudar a apresentar o setor como mais um campo de atividades para mulheres. São estímulos importantes num momento de escassez de trabalhadores especializados na Alemanha.
As medidas já mostram resultados. O número de aprendizes femininas na construção civil tem aumentado continuamente nos últimos anos – embora num nível ainda baixo. A proporção de mulheres entre os aprendizes no setor principal da construção em 2021 era de apenas 2,5%.
Tecnologia e digitalização facilitam o trabalho
Pode valer a pena para as mulheres entrar no mundo das profissões até agora dominadas pelos homens. Um efeito secundário da divisão por gênero é que as profissões seguidas por mulheres em geral são mais mal pagas.
Segundo Gabriele Wydra-Somaggio, "as mulheres costumam seguir carreiras mais criativas, cujo nível salarial é significativamente mais baixo do que em profissões técnicas praticadas principalmente por homens". Isto deve-se também ao fato de, nestes campos profissionais, existirem frequentemente empresas maiores, onde o nível salarial é fixado por acordos coletivos.
A fim de aumentar o recrutamento de mulheres para todos os setores técnicos no futuro, a Confederação Alemã das Profissões Técnicas assinala que muitas profissões evoluíram. "Algumas exigem mais do ponto de vista físico. Mas agora há também muitas melhorias que facilitam o acesso para as mulheres", diz Dittrich. Ele cita o uso de drones por construtores de telhados como exemplo de que, em muitos outros setores, o progresso tecnológico e a digitalização substituíram o esforço físico.
A evolução do trabalho ao longo da história
Até a Idade Média, o trabalho tinha má reputação. Então Martinho Lutero o pregou como dever divino. Hoje, robôs ameaçam substituir a mão de obra humana, mas esta pode ser uma oportunidade positiva para os humanos.
Ócio como ideal
Entre os pensadores da Grécia Antiga, trabalhar era malvisto. Aristóteles colocava o trabalho em oposição à liberdade ,e Homero via na ociosidade da antiga nobreza grega um objetivo desejável. O trabalho pesado era para mulheres, servos e escravos.
Foto: Imago/Leemage
Quem faz festa não trabalha
Na Idade Média, trabalhar na agricultura era uma tarefa árdua. Quem era obrigado a trabalhos forçados por seus patrões, não tinha escolha. Mas, quem a tinha, preferia fazer festa e não se preocupar com o amanhã. Pensar em algum tipo de lucro era considerado vício. Uma cota de até cem dias livres por ano servia para garantir que o trabalho não ficasse em primeiro plano.
Foto: Gemeinfrei
Trabalho como ordem divina
No século 16, Martinho Lutero declarou a ociosidade um pecado. O homem nasce para trabalhar, escreveu Lutero. Segundo ele, o trabalho é um "serviço divino" e ao mesmo tempo "vocação". No puritanismo anglo-americano, o trabalho é visto como um sinal de que quem o executa foi escolhido por Deus. Isso acelerou o desenvolvimento do capitalismo.
Foto: picture-alliance/akg-images
A serviço das máquinas
No século 18, começou a industrialização na Europa. Enquanto a população crescia, diminuía o espaço cultivável. As pessoas migraram para as cidades em busca de trabalho em fábricas e fundições. Em 1850, muitos ingleses trabalhavam 14 horas por dia, seis dias por semana. Os salários mal davam para sobreviver. Descobertas como a máquina a vapor e o tear mecânico triplicaram a produção.
Otimização da linha de montagem
No início do século 20, Henry Ford aperfeiçoou o trabalho na linha de montagem da indústria automobilística, estabelecendo padrões para a indústria em geral. Com isso, a produção do Ford modelo T foi facilitada em oito vezes, o que baixou o preço do veículo e possibilitou salários mais altos aos funcionários.
Surge uma nova classe
Com as fábricas surge uma nova classe: o proletariado. Para Karl Marx, que cunhou este termo, o trabalho é a essência do homem. O genro de Marx, o socialista Paul Lafargue, constatou em 1880: "Um estranho vício domina a classe trabalhadora em todos os países (...) é o amor ao trabalho, um vício frenético, que leva à exaustão dos indivíduos". O cartaz acima diz: "Proletários do mundo, uni-vos"
Produção barateada
Ao longo do século 20, aumentaram significativamente os custos sociais com os trabalhadores nas nações mais ricas do mundo. Como resultado, as empresas transferiram a produção para onde a mão de obra é mais barata. Em muitos países pobres prevalecem até hoje circunstâncias que lembram o início da industrialização na Europa: trabalho infantil, salários baixos e falta de segurança social.
Foto: picture-alliance/dpa/L.Jianbing
Novas áreas de trabalho
Enquanto isso, são criados na Europa mais empregos no setor de prestação de serviços. Cuidadores de idosos são procurados desesperadamente. Novos campos de trabalho estão se abrindo como resultado das transformações sociais e dos avanços tecnológicos. Com o passar do tempo, a jornada de trabalho foi reduzida e o volume de trabalho per capita diminuiu 30% entre 1960 e 2010.
Foto: DW/V.Kern
Trabalhar, nunca mais?
Eles não fazem greve, não exigem aumento salarial e são extremamente precisos: os robôs industriais estão revolucionando o mundo do trabalho. O economista americano Jeremy Rifkin fala até de uma "terceira revolução industrial" que irá acabar com trabalho assalariado.
Foto: picture-alliance/dpa/Stratenschulte
Robôs vão nos substituir?
Esta pergunta já é feita desde que a automação chegou às fábricas, mas agora a situação parece se acirrar. Com o avanço da digitalização, da Internet das Coisas e da Indústria 4.0, muitas ocupações estão se tornando obsoletas – e não só na indústria.