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CiênciaReino Unido

Mulheres negras morriam mais de peste em surto de Londres

Clare Roth
22 de novembro de 2023

Estudo revela taxas mais elevadas de mulheres negras que morreram durante surto entre 1348 e 1350. Pesquisadores apontam ainda para um "racismo estrutural" presente já na Idade Média.

Ilustração mostra pessoas caídas ao chão com peste negra
Peste negra matou mais da metade da população da Europa no século 14Foto: Ken Welsh/Design Pics/IMAGO

Mulheres negras de ascendência africana foi o grupo populacional mais propenso a morrer durante o surto de peste bubônica que atingiu a capital britânica, Londres, entre 1348 e 1350, segundo um estudo publicado na revista especializada Bioarchaeology International.

Pesquisadores do Museu de Londres queriam entender o papel potencial do racismo nas mortes do surto de peste que atingiu a cidade e desmantelar a imagem de uma Inglaterra medieval branca. Os cientistas analisaram os ossos e dentes de 145 pessoas que estavam enterradas em três cemitérios do Reino Unido e que teriam sido vítimas da peste.

Dessas 145 vítimas, os pesquisadores identificaram 49 que morreram de peste, e nove delas eram de ascendência africana, ou seja, cerca de 18%. Entre os outros 96 que morreram de outras causas, oito eram de ascendência africana, ou seja, cerca de 8%. Os cientistas afirmam que essa maior proporção de africanos que morreram de peste em comparação com outras causas pode ser representativa.

Os pesquisadores descobriram ainda que mais negros, especialmente mulheres negras, foram enterradas em cemitérios destinados às vítimas de peste do que brancos.

A grande maioria dos negros que vivia na Londres medieval eram escravos de comerciantes ricos.

Londres negra

"A Londres medieval de Chaucer no século 14 era uma Londres negra", afirmou uma das autoras do estudo Dorothy Kim, da Universidade Brandeis, nos EUA. [Nota da edição: Geoffrey Chaucer era, entre outros, um poeta inglês e servido público envolvido em assuntos públicos em meados de 1300.]

Estudo analisou ossos de supostas vítimas da peste negraFoto: Museum of London Archaeology

A morte por peste foi amplamente relegada aos grupos menos privilegiados da sociedade, afirma o estudo, que destaca que seus resultados indicam os "efeitos devastadores" do "racismo estrutural pré-moderno".

O surto de peste negra é considerado um dos mais devastadores desastres de saúde pública da história. Mais de 50 milhões de pessoas morreram da doença – cerca de 60% da população da Europa. Na época, não se sabia como a doença se espalhava. Pesquisas revelaram que a peste era transmitida por gotículas no ar, como a covid-19, ou por roedores que carregavam pulgas infectadas.

"Nostalgia branca"

Os autores escreveram que seu trabalho destaca "como uma comunidade substancial pode ser apagada da história". Embora pesquisas anteriores tenham notado o caráter multirracial da sociedade britânica na época medieval, o período é frequentemente considerado, de maneira errada, como tendo sido puramente branco, destaca o estudo.

"Essa nostalgia branca está enraizada na mesma ideologia de supremacia branca que alimentou a violência contemporânea", pontua o texto. "Do mesmo modo, os estudos medievais impulsionaram essa versão ‘pré-racial' do passado pré-moderno que permitiu que culturas, sociedades, escritores e agentes do poder medievais se escondessem atrás da ‘inocência branca', quando a verdade é que a raça (o racismo estrutural) foi inventada, refinada e ensaiada na Inglaterra medieval".

Os pesquisadores afirmaram ainda que seu trabalho oferece um "exemplo pré-moderno" das discussões que ocorreram desde 2020 sobre raça e a pandemia de covid-19, que afetou desproporcionalmente os negros.

"Essa pesquisa mostra que há uma história profunda de marginalização social moldando a saúde e vulnerabilidade às doenças nas populações humanas", diz a coautora do estudo Sharon DeWitte, da Universidade do Colorado.

Embora durante séculos a peste negra tenha sido considerada uma "assassina universal" que não fazia discriminação entre suas vítimas, há um crescente número de pesquisadores, incluindo os deste estudo recente, que questiona essa suposição.

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