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"Mulheres são núcleo perigoso de radicalização islâmica"

Matthias von Hein (av)3 de março de 2016

Autoridades alemãs calculam que 800 cidadãos e cidadãs já deixaram o país para lutar ao lado do EI. Em entrevista à DW, autor de estudo sobre o tema diz que metade deles se radicalizou dentro de um ano ou menos.

Foto: Colourbox/krbfss

Um estudo dos departamentos federais da Alemanha de Investigações (BKA) e de Proteção da Constituição (BfV) se ocupou dos cidadãos alemães que viajaram para a Síria e o Iraque para combater nas alas da milícia terrorista "Estado Islâmico" (EI). Na mira das autoridades alemãs estão, em especial, aqueles que neste meio tempo retornaram ao país.

Ao mesmo tempo em que confirmou algumas suposições mantidas há anos sobre o grupo analisado, o relatório também traz dados inesperados, como a alta parcela de mulheres entre os viajantes extremistas emigrados, e a velocidade crescente dos processos de radicalização.

A DW entrevistou Daniel Heinke, que atua no Instituto de Pesquisa Policial e de Segurança, em Bremen, e participou do estudo. Ele lembra que há três grupos de jihadistas que retornam, e é importante levar em consideração as diferentes motivações.

"É preciso evitar ameaças, mas também oferecer ajuda psicológica aos necessitados e possivelmente empregá-los como testemunhas fidedignas nas medidas de prevenção", diz o criminologista.

DW: No Tribunal Superior Regional de Düsseldorf e em outras cortes de Justiça da Alemanha abrem-se quase semanalmente processos contra indivíduos que retornaram ao país depois de ter lutado pelo "Estado Islâmico" (EI). Além desses casos isolados que estão sendo examinados, o que os órgãos de segurança sabem sobre aqueles que viajam em nome do jihad (guerra santa islâmica)?

Daniel Heinke: No momento, partimos do princípio que mais de 800 pessoas deixaram a Alemanha em direção à Síria ou ao Iraque com motivação fundamentalista islâmica. Em 30 de junho de 2015 conseguimos, de fato, reunir dados pessoais relativamente numerosos sobre um total de 677 pessoas. Também pudemos avaliá-los de forma abrangente em nosso estudo, de forma que cremos ter uma visão relativamente boa sobre esse grupo de pessoas.

Daniel Heinke é criminologista e trabalha no Instituto de Pesquisa Policial e de Segurança, em BremenFoto: Heinke

A partir desses dados, o que é possível deduzir sobre os processos de radicalização?

Constatamos que mais ou menos a metade de todos os que viajaram se radicalizaram dentro de um ano ou menos – quase um quarto deles no prazo de seis meses. Isso contradiz suposições anteriores de que o processo seria lento. Cada vez mais são processos comparativamente breves, levando rapidamente a essa escalada, à saída do país.

No tocante às circunstâncias: no passado havia teorias de que a internet tivesse uma influência muito forte. Isso é inegável, mas também procede que a relação imediata com outros indivíduos é um fator decisivo.

A cobertura midiática sugere que seria relativamente pequena a parcela feminina entre os que procuram os territórios do EI. O que o senhor sabe sobre a faixa etária e a distribuição dos gêneros entre os jihadistas?

Nesse ponto, o resultado de nosso estudo é realmente surpreendente: no momento, mais de um quinto dos viajantes são mulheres. Em si, já é uma proporção alta, que fica mais interessante ainda quando se observa a fase seguinte à proclamação do califado pelo assim chamado "Estado Islâmico" em 29 de junho de 2014: após essa data, a percentagem das viajantes jihadistas subiu para 38%. Isso é extremamente elevado, e algo que se deve levar bem mais em consideração do que se fez no passado.

O senhor sabe por que tantas mulheres são atraídas para o EI?

Isso ainda não foi pesquisado em detalhe. Até agora, os órgãos de segurança têm se concentrado nos viajantes do sexo masculino, pois deles parte um perigo imediato maior. É extremamente raro as mulheres participarem de ações de combate. Elas servem, em primeira linha, à formação do "Estado Islâmico" e apoiam os combatentes no local. Ao mesmo tempo, são um núcleo muito perigoso para novas radicalizações ao retornarem à Alemanha, exatamente como suas contrapartes masculinas.

Dos 800 jihadistas de que o senhor falou no início, quantos voltaram para a Alemanha, segundo os dados dos órgãos de segurança?

As autoridades consideram, no momento, que mais ou menos um terço dos que saíram já retornaram à Alemanha, nesse ínterim, ou seja, cerca de 260. Sobre 70 entre estes sabe-se – ou no mínimo se supõe seriamente – que eles tiveram experiências de combate ou pelo menos receberam treinamento militar. Não se descarta que ainda outros tenham entrado no país sem que se saiba, juntamente com os refugiados.

O especialista em terrorismo Peter Neumann divide os que retornam em três grupos. De um lado, os desiludidos, que voltam dizendo: "Imaginamos a coisa diferente, e isso realmente não é aquilo que queríamos alcançar." Eles estão possivelmente abertos a uma desradicalização. Em segundo lugar, há as pessoas perturbadas, que, devido a vivências traumáticas, necessitam de ajuda psicológica ou psiquiátrica. E em terceiro lugar há aqueles que ainda se aferram à luta.

Os órgãos de segurança, mas também outras autoridades, precisam reagir especificamente a cada um desses grupos. Ou seja: evitar ameaças, mas também oferecer ajuda aos necessitados e possivelmente empregá-los como testemunhas fidedignas nas medidas de prevenção.

Entre os que viajaram para a zona da guerra civil síria, quantos permanecerão lá para sempre, por terem perecido em combate?

As autoridades de segurança nacionais partem do princípio de que cerca de 130 fundamentalistas chegados da Alemanha foram mortos lá, seja em ações de combate ou em atentados suicidas.

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