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Mulheres, uma frente contra Bolsonaro

17 de setembro de 2018

Ataque de hackers contra grupo de mulheres no Facebook com mais de 2 milhões de integrantes chama a atenção para um dos maiores focos de resistência ao candidato do PSL: o eleitorado feminino.

Mulheres fazem protesto contra a proibição do aborto no Rio de Janeiro
Mulheres fazem protesto contra a proibição do aborto no Rio de JaneiroFoto: Reuters/R. Moraes

Os ânimos aflorados da corrida eleitoral estão resultando em uma guerra on-line sem precedentes no Brasil. O ataque de hackers ao grupo e às administradoras da página no Facebook intitulada "Mulheres unidas contra Bolsonaro” no sábado (15/09) foi mais um episódio de uma eleição de extremos, que já teve esfaqueamento de um candidato e tiros a uma caravana de outro.

O grupo é fechado apenas para inscritos e se descreve como apartidário, contra o "machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores”. A página foi restabelecida no domingo. Até a tarde desta segunda-feira (17/09), contava com mais de 2,5 milhões de integrantes (ele só pode ser visto por membros ou quem for convidado). Por algumas horas passou a se chamar "Mulheres com Bolsonaro #17” e enviou mensagens de apoio ao candidato do PSL. 

Algumas administradoras da página também tiveram seus perfis invadidos. A criadora do grupo, Ludimilla Teixeira, fez um boletim de ocorrência no domingo em Vitória da Conquista, interior da Bahia. O caso está sendo investigado pelo Grupo Especializado de Repressão a Crimes por Meios Eletrônicos da Polícia Civil do estado.

"Nos foi passado pela advogada da administradora que o boletim de ocorrência seria investigado pela polícia civil primeiramente como crime contra a pessoa, mas se a polícia concluir que é crime cibernético, aí a PF tem competência”, informou o grupo em nota.

A nota, em resposta a perguntas encaminhadas pela DW, ainda critica o ataque e reforça o posicionamento a favor dos direitos das mulheres.

"O que está em jogo é a liberdade de expressão, temos o direito garantido pela Constituição de nos manifestarmos contrárias a um posicionamento político que vai de encontro às necessidades das mulheres. O discurso de ódio disseminado pelo candidato que fazemos frente de resistência está sendo refletido nas atitudes dos apoiadores que insistem em invadir nosso grupo e silenciar nossas mulheres”, comunica o texto do "Mulheres unidas contra Bolsonaro".

#Elenão e #elenunca

A equipe da FGV DAPP (Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas) monitora o comportamento das redes nesta eleição. Um levantamento feito nesta segunda-feira mostra que o impacto do ataque acabou favorecendo o discurso contra o candidato do PSL no fim de semana.

"A campanha #elenão teve mais de 193,4 mil citações no Twitter entre sexta-feira e domingo, e a #elenunca chegou a 152 mil citações. Além disso, após a página ser hackeada, surgiram várias com o mesmo teor”, explica Amaro Grassi, pesquisador da FGV DAPP.

O pesquisador diz ainda que a violência dos discursos e das práticas dentro das redes sociais são um reflexo do que acontece do lado de fora, em uma eleição polarizada.

"O que essas páginas mostram é algo que as próprias pesquisas já indicam, que há um eleitorado feminino que é contra o que o candidato defende. Então é importante deixar claro que hackear uma página é uma agressão à liberdade de expressão”, afirma Grassi.

Segundo a última pesquisa Datafolha, a candidatura de Bolsonaro tem mais apoio entre homens (35%) do que entre as mulheres (18%). A rejeição do eleitorado feminino ao candidato está em 49%, cinco pontos maior que entre o masculino.

Além dos ataques de hackers, o grupo de mulheres, criado há apenas duas semanas, foi alvo de diversas acusações falsas. Uma delas foi de que suas criadores alteraram o nome de outra conta para simular um número alto de participantes. No fim de semana, Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro e candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro, foi uma das pessoas que espalhou essa informação incorreta. 

Vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão também propagou notícia falsa contra as administradoras da página.

"Essa rede aí que apareceu dizendo que tinha 800 mil mulheres contra o Bolsonaro, a gente sabe que aquilo ali é uma coisa fake. Ela era um site, foi comprado por um grupo de opositores e que se apropriou daquilo ali. Essa é a realidade e nós estamos até aprofundando os nossos dados sobre isso", disse Mourão em entrevista ao jornal A Crítica, de Manaus (AM), no sábado. 

O "grupo rival”

Poucos dias após a criação da página contra o Bolsonaro, o Facebook ganhou uma página a favor do candidato do PSL: "Mulheres com Bolsonaro #17”. Karla Lima, uma das administradoras do grupo que conta com 1,3 milhão de participantes, afirma que a página é uma resposta aos que criticam candidato e que, apesar dos hackers terem usado um nome idêntico, não há qualquer relação entre eles e o ataque cibernético do fim de semana.

O dia-a-dia de um grupo que deveria ser apenas de apoio a um candidato é uma batalha por espaço e alcance. Em entrevista à DW por Whatsapp, Karla diz não concordar com os ataques dos hackers. Chamando a outra página de "grupo rival”, ela diz ainda que já sofreu xingamentos de pessoas do grupo contra Bolsonaro.

"Não concordamos com esses ataques, e está nas regras do grupo desde sua criação que qualquer publicação promovendo ataques a páginas, grupos, perfis rivais serão apagados e, se insistido nisso, os membros serão bloqueados. Não permitimos de forma alguma posts sobre o grupo contra e apagamos todos os posts que os membros fazem. Orientamos incansavelmente para que isso não seja feito.”

Facebook e Twitter divulgaram diversas ações para evitar manipulação ou uso de robôs nas suas plataformas nesta eleição. Além disso, juntamente com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), passaram a controlar as propagandas eleitorais nas redes.

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