Convocados por movimentos de mulheres, protestos levam manifestantes a dezenas de cidades brasileiras e do exterior para demonstrar repúdio à candidatura do ex-capitão à Presidência da República.
Anúncio
Manifestantes saíram às ruas neste sábado (29/09) em dezenas de cidades do Brasil e do exterior para demonstrar repúdio à candidatura do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Os atos são parte do movimento de mulheres #EleNão, que tomou as redes sociais nas últimas semanas para criticar posições machistas e misóginas do candidato.
No Brasil, atos foram agendados em cidades como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Porto Alegre, Vitória, Florianópolis, Belo Horizonte, Salvador, Natal, João Pessoa, Recife, Fortaleza, Aracaju, Palmas, Campo Grande, Manaus, Belém e Cuiabá. Ao menos 40 cidades já registraram protestos contra a candidatura do militar reformado.
Em São Paulo, milhares de manifestantes se reuniram no Largo da Batata para participar do ato "Mulheres contra Bolsonaro". No Rio de Janeiro, outro ato de mulheres aconteceu na Cinelândia. Alguns militantes carregaram bandeiras de partidos como PT e PSOL. No ato em Curitiba, militantes estenderam faixas de apoio ao ex-presidente Lula.
Adversários de Bolsonaro na campanha abraçaram o movimento. Em São Paulo, a candidata a vice na chapa de Ciro Gomes, a senadora Kátia Abreu (PDT), e a candidata a vice de Fernando Haddad, Manuela D’Ávila (PCdoB), participaram do ato no Largo da Batata. Os presidenciáveis Guilherme Boulos (PSOL) e Marina Silva (Rede) também compareceram.
Nas redes, os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) manifestaram apoio ao movimento.
Em Juiz de Fora (MG), a cidade onde ocorreu o atentado contra Bolsonaro no dia 6 de setembro, manifestantes também saíram às ruas em um protesto contra o presidenciável. A Polícia Militar impediu que a manifestação passasse pelo calçadão da Rua Halfeld, no centro da cidade, local onde ocorreu o ataque contra o deputado.
Em Brasília, cerca de 7 mil pessoas compareceram ao protesto contra o candidato.
Ao longo do dia, também houve registro de manifestações de brasileiros na Alemanha, nos Estados Unidos, na Itália, na Holanda, no Líbano, na África do Sul, na Irlanda, na Espanha, em Portugal, na França e na Argentina. Na Alemanha, foram registrados protestos em Berlim, Munique e Bonn.
Em resposta às manifestações, apoiadores do candidato também organizaram atos a favor do candidato. Em escala, as convocações reuniram menos pessoas que as manifestações contra o candidato. No Rio de Janeiro, algumas centenas de apoiadores se reuniram na Avenida Atlântica, em Copacabana. Em São Paulo, os manifestantes se reuniram em frente ao Estádio do Pacaembu. Pelo menos 14 atos a favor do candidato foram registrados pelo país.
Uma das manifestações, em Itatiaia, no sul do Rio do Janeiro, contou com a participação de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro que se tornou personagem de reportagens ao longo da semana que relatam seu tumultuado processo de divórcio do ex-capitão. Candidata a deputado pelo PSL do presidenciável, Valle apareceu com uma camiseta com a frase “Mulher inteligente vota em Bolsonaro”.
Bolsonaro é o presidenciável com a maior rejeição entre os 13 candidatos que disputam o Planalto. Segundo o último Datafolha, 46% dos eleitores afirmam que não votariam no militar reformado. O índice é ainda mais alto entre as mulheres: 52% rejeitam o candidato. Os índices de rejeição têm provocado dificuldades para a campanha do ex-capitão, que pena em cenários de segundo turno das eleições. Ele seria derrotado por todos os adversários em uma segunda rodada.
Também neste sábado, Bolsonaro deixou o hospital Albert Einstein, em São Paulo, após passar 23 dias internado por causa da facada que recebeu em Juiz de Fora. Ele seguiu em um voo para o Rio de Janeiro. Houve registro de tumulto no momento do embarque. Apoiadores e críticos do presidenciável gritaram palavras pró e contra Bolsonaro no interior da aeronave, como “Mito!” e “Ele não!”.
A menos de oito dias do primeiro turno, ele continua a liderar as pesquisas eleitorais, com 28% das intenções de voto. O petista Fernando Haddad (PT) aparece em segundo, com 22%.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.