Mundo tem mais de 65 milhões de pessoas em fuga, diz ONU
20 de junho de 2016
Relatório do Acnur aponta que um em cada 113 habitantes do planeta é refugiado, requerente de asilo ou deslocado interno. Em 2015, 24 pessoas por minuto foram obrigadas a deixar suas casas.
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Uma em cada 113 pessoas no mundo é refugiada, requerente de asilo ou deslocada interna, revela um estudo divulgado nesta segunda-feira (20/06) pela agência da ONU para refugiados (Acnur). O número de pessoas forçadas a deixar suas casas chega a 65,3 milhões – equivalente à população do Reino Unido ou da França.
"Essa é a primeira vez que o patamar de 60 milhões foi ultrapassado", diz a Acnur, em relatório divulgado em decorrência do Dia Mundial do Refugiado. De acordo com a agência, em 2014, o número de deslocados era de 59,5 milhões, e o crescimento nos últimos cinco anos foi de 50%.
O relatório aponta os conflitos em Síria, Afeganistão, Burundi e Sudão do Sul como os fatores para que o número de refugiados tenha chegado a 21,3 milhões no ano passado, sendo metade deles crianças.
A agência diferencia refugiados de deslocados internos, que são pessoas forçadas a fugir de suas casas, mas que não cruzaram uma fronteira para encontrar refúgio, permanecendo em seu país de origem.
"Os refugiados e migrantes que cruzam o mar Mediterrâneo e chegam à Europa carregam a mensagem: se vocês não resolveram os problemas, eles virão até vocês", diz o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi.
Segundo o estudo, em média 24 pessoas foram deslocadas a cada minuto do ano passado - cerca de 34 mil por dia.
Alerta sobre xenofobia
As Nações Unidas lembraram ainda que a recente crise migratória na União Europeia, a pior desde a Segunda Guerra Mundial, é apenas uma parte do aumento da miséria humana liderada por palestinos, sírios e afegãos.
"Precisamos de uma ação política para acabar com conflitos, o que seria a mais importante maneira de prevenir o fluxo de refugiados", afirma Grandi.
Os palestinos continuam sendo o maior grupo de refugiados no mundo, com mais de 5 milhões de pessoas, seguidos de sírios (4,9 milhões), afegãos (2,7 milhões) e somalis (1,1 milhão).
Em 2015, os novos requerimentos de asilo em países industrializados bateram recorde e chegaram a 2 milhões. Deles, quase 100 mil eram crianças não acompanhadas ou separadas da família. A Alemanha registrou o maior número de pedidos, com 441,9 mil, seguida dos Estados Unidos, com 172,7 mil, onde muitos requerentes fogem da violência da América Central.
Países em desenvolvimento receberam 86% dos refugiados, sendo a Turquia, com 2,5 milhões de sírios, a que mais acolheu requerentes de asilo.
Grandi fez um alerta ainda para o aumento da xenofobia: "Barreiras estão sendo construídas em todos os lugares. Estou falando de barreiras legislativas que estão vindo, incluindo em países industrializados que durante muito tempo foram bastiões da defesa dos direitos fundamentais de refugiados."
CN/rtr/afp/ap
2015, o ano dos refugiados
Nunca tantas pessoas estiveram em fuga como em 2015. Muitos delas seguiram para a Europa, com o objetivo de chegar à Alemanha ou à Suécia. Confira uma restrospectiva fotográfica do "ano dos refugiados".
Foto: Reuters/O. Teofilovski
Chegada à União Europeia
Esses jovens sírios superaram uma etapa perigosa da sua viagem: eles conseguiram chegar à Grécia e, assim, à União Europeia. O objetivo final, porém, ainda não foi alcançado: eles querem continuar a jornada para o norte, em direção a outros países-membros do bloco. Em 2015, a maioria dos refugiados seguiu para a Alemanha e para a Suécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Perigosa travessia do Mediterrâneo
O caminho que eles deixam para trás é extremamente perigoso. Vários barcos com refugiados, nem sempre aptos à navegação, já viraram durante a travessia do Mar Mediterrâneo. Estas crianças sírias e seu pai tiveram sorte: eles foram resgatados por pescadores gregos na costa da ilha de Lesbos, na Grécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
A imagem que comoveu o mundo
Aylan Kurdi, de 3 anos, não sobreviveu à fuga. No início de setembro, ele se afogou no Mar Egeu, juntamente com o irmão e a mãe, ao tentar chegar à ilha grega de Kos. A foto do menino sírio, morto na praia de Bodrum, espalhou-se rapidamente pela mídia e chocou pessoas de todo o mundo.
Foto: Reuters/Stringer
Onde as diferenças são visíveis
A ilha grega de Kos, a menos de 5 quilômetros de distância da Turquia continental, é o destino de muitos refugiados. As praias geralmente cheias de turistas servem de ponto de desembarque, como no caso deste grupo de refugiados paquistaneses que chegou à costa da Grécia com um bote de borracha.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Em meio ao caos
Porém, muitos refugiados não conseguem simplesmente seguir viagem quando chegam a Kos. Eles somente podem seguir para o continente após serem registrados. Durante o verão europeu, a situação se agravou quando as autoridades fizeram com que os refugiados esperassem pelo registro num estádio, sob o sol escaldante e sem água.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Um navio para refugiados
Por causa da condições precárias, tumultos eram frequentes na ilha de Kos. Para acalmar a situação, o governo grego fretou um navio, que permaneceu ancorado e foi transformado em alojamento temporário para até 2.500 pessoas e em centro de registro de migrantes.
Foto: Reuters/A. Konstantinidis
"Dilema europeu"
Mais ao norte, na fronteira da Grécia com a Macedônia, policiais não permitiam mais a passagem de pessoas, entre elas crianças aos prantos, separadas de seus pais. Esta foto tirada pelo fotógrafo Georgi Licovski no local, e que mostra o desespero de duas crianças, foi premiada pelo Unicef como a imagem do ano, já que mostra "o dilema e a responsabilidade da Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem conexões para refugiados
No final do verão europeu, Budapeste se transformou em símbolo do fracasso das autoridades e da xenofobia. Milhares de refugiados estavam acampados nas proximidades de uma estação de trem da capital húngara, pois o governo do país os proibira de seguir viagem. Muitos decidiram seguir a pé em direção à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Fronteiras abertas
Uma decisão na noite de 5 de setembro abriu caminho para os refugiados: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chanceler austríaco, Werner Faymann, decidiram simplesmente liberar a continuação da viagem por parte dos migrantes. Como consequência, vários trens especiais e ônibus seguiram para Viena e Munique.
Foto: picture alliance/landov/A. Zavallis
Boas vindas em Munique
No primeiro final de semana de setembro, cerca de 20 mil refugiados chegaram a Munique. Na estação central de trem da capital da Baviera, inúmeros voluntários se reuniram para receber os refugiados com aplausos e lhes fornecer comida e roupas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Stollarz
Selfie com a chanceler
Enquanto a chanceler federal Angela Merkel era aplaudida por refugiados e defensores de sua política de asilo, muitos alemães se voltavam contra a política migratória. "Se tivermos de pedir desculpas por mostrar uma face acolhedora em situações de emergência, então este não é mais o meu país", respondeu a chanceler. A frase "Nós vamos conseguir" se tornou o mantra de Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Histórias na bagagem
No final de setembro, a polícia federal alemã divulgou uma imagem comovente: o presente que uma menina refugiada deu a um policial da cidade alemã de Passau. O desenho mostra o horror que vários migrantes vivenciaram e o quão felizes eles estavam por, finalmente, estarem em um local seguro.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundespolizei
O drama continua
Até o final de outubro, mais de 750 mil refugiados haviam chegado à Alemanha. Mas o fluxo não parava. Sobrecarregados, os países da chamada Rota dos Bálcãs decidiram fechar suas fronteiras. Apenas sírios, afegãos e iraquianos estavam autorizados a passar. Em protesto, migrantes de outros países chegaram a costurar seus lábios.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem fim à vista
"Ajude-nos, Alemanha" está escrito em cartazes de manifestantes na fronteira com a Macedônia. Na Europa, o inverno se aproxima, e milhares de pessoas, entre elas crianças, estão presas nas fronteiras. Enquanto isso, até mesmo a Suécia retomou o controle temporário de fronteiras. Em 2016, o fluxo de refugiados deverá continuar.