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Munique ama o crime

Augusto Valente8 de abril de 2003

Um festival de literatura detetivesca toma de assalto a metrópole bávara, celebrando uma interminável história de amor entre os leitores alemães e os subterrâneos do crime.

Quem é o culpado?

Munique atrai os criminosos como o queijo os ratos. Apenas em ficção, claro, pois trata-se de uma das mais seguras cidades da Europa. O que nada lhe rouba da atratividade para os amantes dos dramas e das intrigas fatais: inúmeros episódios de Tatort (Cena do crime, seriado cult da TV alemã) desenrolam-se na capital bávara, comissários fictícios têm um fraco pela metrópole às margens do rio Isar, tantos autores do gênero lá moram e trabalham.

No ano passado, o festival literário itinerante Criminale atraiu cerca de 20 mil visitantes a Munique. Foi o maior evento, nos 16 anos de história do encontro anual dos autores policiais germanófonos, reunidos sob a égide do "Das Syndikat". A próxima Criminale terá Westerwald como palco, porém o sucesso de 2002 foi tão grande que se resolveu criar o Festival do Romance Policial de Munique, cuja primeira edição foi aberta nesta segunda-feira (07). Como assegurou o patrono e prefeito da cidade, Christian Ude, esta se orgulha de ter seu próprio "espetáculo criminal-literário".

O programa promete sete dias de suspense e calafrios, reunindo cerca de 80 autores alemães e estrangeiros em 66 eventos sob o signo do homicídio e assassinato. O time de cinco organizadores cuidou em dar cor local às leituras e peças teatrais, programando-as, por exemplo, durante um tenebroso passeio pelo Jardim Botânico ou uma viagem especial com o bonde urbano, para o Bairro das Luzes Vermelhas ou o castelo medieval de Pappenheim. Entre as festas, "Murder on the Dance Floor", no Muffat Halle.

As emoções reservadas aos Sherlock Holmes de mentirinha não ficam por aí: o Instituto Médico Legal de Munique é cenário de uma leitura com o assustador título Patologia: testemunhas mudas. Até mesmo a Polícia e a Justiça serão cúmplices: Caça aos assassinos na selva metropolitana tem como palco a Delegacia Central e, no Palácio da Justiça, juízes e criminosos (do papel) discutem ficção e prática criminal.

O fascínio do homicídio

Capa: H. Mankell - O primeiro caso de Wallander

O interesse dos alemães pela literatura policial tem uma longa porém dinâmica tradição. Ao lado de autores nacionais e já clássicos, como Jan Eik, Doris Gercke ou Jürgen Lodemann, nos últimos anos ele vivenciou o boom dos autores suecos como Henning Mankell (Os assassinos sem rosto, A leoa branca), pai do comissário Wallander, e Hakan Nesser (Kim Novak badete nie im See Genezareth – Kim Novak nunca se banhou no rio Genezareth), e quase superou a longa fase de Donna Leon (Morte no Teatro La Fenice). Esta última escritora, norte-americana residente em Veneza, conquistou os leitores com a gentil excentricidade de seu comissário Guido Brunetti, que já teve parte de suas aventuras filmada pela televisão alemã.

A presença nas telinhas é também um indicador da fidelidade do público germânico. Entra moda, sai moda, este não abandona nem a Miss Marple, de Agatha Christie, que Margareth Rutherford personificou na década de 60, ou, da mesma época, as filmagens dos romances de Edgar Wallace, em que o exacerbado ator Klaus Kinski desfila uma inesquecível galeria de psicopatas.

Romances detetivescos históricos, eróticos ou culinários, focalizando gatos, futebol, anões de jardim (!), o mundo feminino ou gay, tematizando Berlim, Colônia ou Munique: a palheta da literatura policial na Alemanha é inesgotável, e mostra as nuances de um infinito interesse (literário) pelo homicídio e violência.

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