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'Chocado, horrorizado e envergonhado'

19 de julho de 2011

Diante de comissão do Parlamento britânico, magnata Rupert Murdoch atribui toda responsabilidade pelo escândalo a seus colaboradores. Transmitida ao vivo pela televisão, audiência constitui sensação de mídia.

Murdoch (d) na audiência em LondresFoto: picture alliance/dpa

"Só quero dizer uma frase: este é o dia mais humilhante na minha vida", comentou o magnata da mídia Rupert Murdoch, de 80 anos, antes de começar a depor a uma comissão da Câmara dos Comuns em Londres nesta terça-feira (19/07). Segundo suas declarações, ele nada sabia das práticas de espionagem em seu tabloide e foi enganado pelos responsáveis, "pessoas em quem eu confiava". As práticas dos jornalistas do News of the World o deixaram "chocado, horrorizado e envergonhado", afirmou.

Quando o caso veio à tona, sua empresa News Corporation teria cooperado com a polícia. Além disso, seus advogados em Londres estariam encarregados de investigar as acusações, assegurou. A audiência foi transmitida ao vivo pela televisão, o que, em si, constituiu uma sensação, já que Murdoch raramente se pronuncia em público.

O australiano com passaporte americano estava visivelmente abatido pelo escândalo, apesar de ainda aparentar grande energia. Além de ter lhe custado dois de seus mais leais colaboradores – Rebekah Brooks e Les Hinton – o caso ameaça sua própria posição à frente do conglomerado de mídia. Também interrogado pelos parlamentares, seu filho James Murdoch pediu desculpas tanto pelo grampeamento de conversas telefônicas como pelo pagamento de propinas à polícia.

O fechamento do tabloide News of the World foi decidido por causa da "vergonha" que causou à News Corporation, afirmou Rupert Murdoch aos deputados britânicos. "Sentimo-nos envergonhados com o que aconteceu e pensamos que era melhor fechar", afirmou, em referência às revelações sobre escutas telefônicas feitas por jornalistas do News of the World. "Traímos a confiança dos nossos leitores."

A audiência foi interrompida quando um homem atirou um prato de plástico com espuma de barbear no rosto do presidente da News Corporation. Após uma breve suspensão, a sessão foi retomada, tendo terminado duas horas depois do previsto.

Ex-chefes da polícia negam dolo

O ex-comissário-chefe da Scotland Yard Paul Stephenson igualmente depôs diante da câmara inferior do Parlamento britânico nesta terça-feira. Segundo ele, trabalhavam no departamento de imprensa da polícia londrina dez funcionários – quase um quarto da repartição – antes pertencentes ao império Murdoch. Apesar disso, não havia qualquer conexão dolosa com a News International, alegou.

Stephenson disse ignorar que jornalistas estavam sendo espionados. Ao mesmo tempo, admitiu como embaraçoso o fato de que, em 2009, o Metropolitan Police Service houvesse contratado Neil Wallis como assessor de relações públicas. O antigo jornalista do News of the World foi preso há cerca de uma semana, acusado de envolvimento no escândalo dos grampos.

O ex-vice de Stephenson, John Yates – o qual, como o chefe, pediu demissão do cargo – foi também ouvido pela comissão extraordinária. Também ele negou haver incorrido em comportamento fraudulento. Entretanto admitiu, em retrospectiva, ter sido um erro ordenar a suspensão das investigações sobre o escândalo de espionagem jornalística em 2009.

News Corp: império mundial

A norte-americana News Corporation conta entre os maiores conglomerados de mídia do mundo. Ela atua na Alemanha, Austrália, Itália, Reino Unido e diversos países asiáticos, mas sobretudo nos Estados Unidos. Em 2010, fez no país 17,3 bilhões de dólares de seu faturamento total de 32,8 bilhões de dólares.

À News Corp pertencem não só a associação Fox Broadcasting, a que estão ligadas 27 emissoras de TV, como também as operadoras de cabo FX Network e Fox News. Com sua programação de cunho claramente patriótico, esta última alcançou, no ano passado, 98 milhões de lares.

Desde 2007 pertence a Murdoch o periódico econômico Wall Street Journal. De perfil liberal, ele é considerado o veículo de imprensa escrita de maior tiragem nos EUA (2,1 milhões de exemplares). Por outro lado, nos últimos anos o tabloide da News Corporation New York Post (523 mil exemplares) tem apresentado prejuízos. A app do novo jornal para o iPad The Daily foi baixada mais de 800 mil vezes, porém o periódico digital ainda não é lucrativo para Murdoch.

Em 1985, a News Corp passou a controlar o estúdio 20th Century Fox, em Hollywood, e a operadora de vídeos e DVDs Century Fox Home Entertainment. Fazem ainda parte do império midiático a editora HarperCollins e 35% do portal Hulu.

Na Inglaterra, o empresário possui o popular tabloide The Sun, assim como The Times e The Sunday Times. Dez dias atrás fechou o tabloide News of the World, com 168 anos de existência, em decorrência do escândalo de espionagem. Ao império Murdoch pertence, ainda, 39% do conglomerado televisivo British Sky Broadcasting (BSkyB). O magnata fizera uma oferta bilionária para sua incorporação total, a qual, entretanto, retirou em 13 de julho último, pressionado pelas consequências do escândalo dos grampos.

AV/dapd/dpa/afp/rtr/lusa
Revisão: Alexandre Schossler

Prédio da News Corp em Nova YorkFoto: picture alliance / dpa
Ex-chefe da Scotland Yard Paul Stephenson também depôs no ParlamentoFoto: AP
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