Museu da Segunda Guerra abre sob controvérsia na Polônia
Gerhard Gnauck
md
23 de março de 2017
Após uma década em construção, o audacioso museu da Segunda Guerra Mundial em Gdansk é finalmente inaugurado – mas seu olhar sobre a História é criticado por contar, lado a lado, a história de vítimas e culpados.
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Após meses de controvérsia, Gdansk ganha um novo museu, considerado o único do mundo dedicado completamente à Segunda Guerra Mundial.
Bem perto do centro histórico da cidade, em um bairro que foi completamente destruído pela guerra, surge uma construção incomum, de tijolos vermelhos, projetada do chão em um ângulo de 56 graus, como se fosse parte de um foguete que caiu e pode explodir a qualquer momento. O projeto é do escritório polonês de arquitetura Kwadrat. Um lado é completamente envidraçado, de onde se tem vista para o centro histórico. Mas quem quer descobrir os tesouros deste prédio tem que ir ao subsolo.
A história de um apartamento em Varsóvia
Quem entra na exposição, vê em primeiro lugar três recintos, que mostram de forma muito clara e fácil de entender como a guerra transformou um apartamento em Varsóvia. Primeiro, entra-se em um cômodo em 1939, quando uma família judia mora ali. Depois, visita-se o mesmo local no ano 1943, quando os antigos habitantes já estão no gueto, e o lugar abriga uma família polonesa expulsa da cidade de Gdynia. Na terceira sala a visita se passa em 1945, e os visitantes ficam sabendo que o filho da família foi morto na Revolta de Varsóvia, de resistência contra a ocupação alemã. Seus parentes retornam de um campo de concentração. O novo vizinho é da milícia comunista.
Os recintos do início da exposição se destinam aos jovens e representam apenas uma mostra do terror apresentado na parte principal do museu. A Segunda Guerra Mundial, com seus 50 milhões de mortos, foi "a maior catástrofe na história da humanidade", diz uma placa na entrada do museu. Em três outras salas, são apresentados os sistemas totalitários dos anos 1930, na Alemanha, União Soviética e Itália. O busto de Hitler, do escultor Josef Thorak, que integra a exibição, foi encontrado em 2015, enterrado sob o jardim do Museu Nacional de Gdansk.
Dois tanques e um cachimbo de Stalin
Então, vem a guerra. Mas não no sentido de batalhas e ocorrências do front. No ponto central estão o cotidiano e o destino de civis e soldados, vítimas e culpados. Em um salão particularmente impressionante, uma tela exibe bombardeios em uma longa série de imagens. Bombardeios em Varsóvia, Londres, Hamburgo, Dresden, bem como registros pouco conhecidos do bombardeio soviético de Helsinki em 1940. Eles são mostrados sem comentários. Ao fundo, ouve-se a Sinfonia nº 7 - Leningrado, em que o compositor Dmitri Shostakovich lembra o cerco à sua cidade natal.
O museu exibe, ao lado de equipamento militar, incluindo um tanque americano e um soviético, sobretudo objetos da cultura cotidiana e recordações pessoais. Um diplomata dinamarquês doou ao museu um cachimbo de Josef Stalin. Na aquisição de uniformes da época, uma dificuldade foi conseguir as partes inferiores das roupas, segundo o diretor adjunto do museu, Piotr Majewski. "Foi especialmente difícil, porque calças se desgastam mais rápido", explica.
O sino do navio de refugiados Wilhelm Gustloff
A exibição inclui uma bicicleta usada para contrabandear alimentos durante o regime de Vichy e as chaves da porta de judeus que foram assassinados por seus vizinhos poloneses durante o pogrom de Jedwabne. Também está exposto um lenço em que o polonês Boleslaw Wnuk escreveu em 1940 sua mensagem de despedida para sua família. "Hoje, serei fuzilado pelas autoridades alemãs."
Também é possível ver o sino do navio Wilhelm Gustloff, que naufragou com milhares de refugiados alemães a bordo. Cerca de metade do acervo de 2 mil peças é de presentes ou empréstimos, muitos vindos de indivíduos privados. A exposição tem muito pouco texto. O foco está em filmes e fotografias, também cartazes (em parte reproduções), assim como em objetos de época.
Imbróglio político
Mesmo após a inauguração do museu, nesta quinta-feira (23/03), o destino do lugar permanece incerto. O governo da Polônia, liderado pelo partido nacionalista Lei e Justiça (PiS), acusa a exibição de destacar pouco a perspectiva polonesa da guerra e tenta afastar o diretor do museu, nomeado pelo governo anterior, do presidente Donald Tusk. Uma decisão judicial sobre o assunto é aguardada para o próximo mês.
O museu ainda corre perigo de sofrer mudanças. O governo pretende promover uma "fusão" com um outro museu, minúsculo, de Gdansk para, dessa forma, conseguir se livrar do diretor. Uma sentença do Supremo Tribunal Administrativo da Polônia sobre o assunto é esperada para 5 de abril. Mas o diretor do museu, Pawel Machcewicz, pretende continuar lutando para que a concepção original da mostra não seja modificada. "Temos conversado com juristas e vemos boas oportunidades de podermos defender contra mudanças nossa exposição, na qual temos trabalhado há anos, baseados nos direitos autorais."
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.