Museu de Arte de Berna aceita herança do "Tesouro de Munique"
24 de novembro de 2014
Valiosa coleção, que inclui obras de arte suspeitas de terem sido saqueadas de proprietários judeus por oficiais nazistas, foi herdada pelo museu após morte do filho do mercador de arte Hildebrandt Gurlitt.
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O Museu de Arte de Berna, na Suíça, declarou nesta segunda-feira (24/11) que aceita receber a valiosa coleção herdada do filho do colecionador de arte Hildebrand Gurlitt, o chamado "Tesouro de Munique". A instituição afirmou que irá cooperar com as autoridades alemãs para assegurar que quaisquer obras que tenham sido saqueadas pelos nazistas sejam devolvidas a seus antigos proprietários.
O presidente do Conselho de Administração do museu, Christoph Schäublin, afirmou a repórteres que só depois de "longas e difíceis deliberações" a instituição decidiu aceitar a coleção. "O objetivo era esclarecer como o Museu de Arte de Berna irá cumprir as responsabilidades impostas em razão da herança", explicou Schäublin, ressaltando que o museu irá realizar pesquisas extensas para determinar a procedência das obras.
Arte saqueada
Em novembro de 2013, revelou-se que o colecionador de arte Cornelius Gurlitt mantinha em seu apartamento em Munique e na sua casa em Salzburgo cerca de 1.500 obras de artistas como Monet, Renoir, Matisse, Picasso e Chagall – herdadas do pai, o negociador de arte Hildebrand Gurlitt, que trabalhava para o regime nazista.
Havia a suspeita de se tratar, ao menos em parte, de Raubkunst – "arte saqueada", roubada ou extorquida de comerciantes e particulares judeus pelas autoridades nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
No início de abril de 2014, a Promotoria Pública aceitou devolver as peças a Gurlitt em troca de umacordo contratual em que o colecionador permitiria que especialistas de arte analisassem sua coleção no intuito de determinar quais obras de arte teriam sido extorquidas pelos nazistas para, se possível, devolvê-las aos antigos donos.
O caso deu uma guinada inesperada com a morte do colecionador, em 6 de maio de 2014. Em seu testamento, ele designava o Museu de Arte de Berna, Suíça, como herdeiro único de sua coleção. As autoridades alemãs afirmaram que o acordo com Cornelius Gurlitt sobre as investigações de procedência das obras se estende também a seus herdeiros.
Investigação prossegue
O acordo fechado entre o museu e o autoridades alemãs estipula que a força-tarefa estabelecida pelo governo alemão irá continuar a investigar a origem das obras para determinar se foram de fato roubadas, e a quem pertenciam.
Se não for possível determinar a origem, o acordo estabelece que as obras deverão ser expostas na Alemanha juntamente com uma explicação sobre sua procedência, para que os proprietários de direito tenham a oportunidade de reclamar a posse das mesmas.
A coleção permanecerá na Alemanha até o final das investigações da força-tarefa. Uma atualização dos resultados dos trabalhos deverá ser divulgada em meados de 2015.
RC/dpa/ap
Quadros do "Tesouro de Munique"
Grande parte da coleção de obras de arte do negociador Hildebrandt Gurlitt, apreendida na residência de seu filho Cornelius, em Munique, pode ser vista na internet.
Foto: picture-alliance/dpa
Henri Matisse (1869-1954)
Fotografias de obras de arte do "Tesouro de Munique" como "Mulher sentada", do pintor francês Henri Matisse, foram publicadas na plataforma lostart.de. Os quadros foram confiscados do apartamento de Cornelius Gurlitt em 2012 e são suspeitos de terem sido extorquidos de proprietários judeus pelo regime nazista.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Marc Chagall (1887-1985)
Também a "Cena alegórica", do famoso pintor francês Marc Chagall foi encontrada entre as obras confiscadas. O chamado "poeta entre os pintores", de origem russo-judaica, é considerado um dos mais importantes artistas do século 20. Seu trabalho é associado ao estilo expressionista.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Wilhelm Lachnit (1899-1962)
O pintor alemão Wilhelm Lachnit realizou a maior parte de seus trabalhos na cidade de Dresden. Sua arte era voltada contra o nazismo. Em 1933, sua obra, qualificada como "arte degenerada", foi confiscada e o pintor, preso. Durante os bombardeios a Dresden em 1945, a maior parte de seu trabalho foi destruída. Agora, algumas de suas obras ressurgem, como é o caso de "Menina à mesa".
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Otto Griebel (1895-1972)
A obra do alemão Otto Griebel é classificada como pertencente ao movimento artístico Nova Objetividade. Após a Primeira Guerra Mundial, ele se afiliou ao Partido Comunista alemão e mais tarde fundou o "Grupo Vermelho", em Dresden. Sua arte "proletária-revolucionária" não agradava os nazistas. Ele foi preso em 1933 e sua obra foi qualificada de "arte comunista". Aqui, o quadro "Mulher de véu".
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Erich Fraass (1893-1974)
O pintor Erich Fraass é da chamada "geração perdida" de artistas alemães, cuja arte foi amplamente reprimida e proibida pela propaganda nazista. Ele pertencia à direção do grupo "Nova Secessão de Dresden", dissolvido pelos nazistas em 1934. "Mãe e filho" também consta do acervo de Gurlitt.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Ludwig Godenschweg (1889-1942)
Ludwig Godenschweg era escultor e gravurista. Além desta sua gravura, "Retrato de um homem", também foi encontrada na casa de Gurlitt a obra "Nu feminino". Segundo o jornal "Die Zeit", ambas podem ter sido confiscadas da coleção do advogado Fritz Salo Glaser, de Dresden. Seus herdeiros reclamam agora a posse das obras.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Fritz Maskos (1896-1967)
Pouco se sabe sobre o escultor alemão Fritz Maskos, autor de "Mulher contemplativa". Tido como artista controverso, ele criou obras como a escultura de bronze "O líder". Sua obra "Sonâmbulo" foi exposta em 1938 em Berlim como "arte degenerada". Seu pastel "Natureza morta do fim do verão" pôde ser vista na Grande Exposição de Dresden, em 1943.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Edvard Munch (1863-1944)
Diversas obras do pintor norueguês Edvard Munch foram encontradas na coleção de Gurlitt. O artista influenciou o Expressionismo e o Modernismo. Seu trabalho mais famoso, "O grito", foi roubado em 2004 do museu de Oslo e recuperado em 2006. A obra "Noite, melancolia I" é datada de 1896.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Franz Marc (1880-1916)
O guache "Paisagem com cavalos", de Franz Marc, é uma das 11 obras do "Tesouro de Munique" apresentadas pela primeira vez publicamente numa coletiva de imprensa em Augsburg.
Foto: Christof Stache/AFP/Getty Images
Otto Dix (1891-1969)
Autorretrato cuja existência era, até então, totalmente desconhecida, não tendo sido publicado nem no catálogo de obras do artista alemão nem em qualquer outro lugar. Estima-se que date de 1919, contando, portanto, entre as raras obras que Otto Dix realizou depois da Primeira Guerra Mundial.
Foto: Reuters
Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938)
Xilogravura "Menina melancólica", também apreendida no apartamento do Cornelius Gurlitt, em Munique, encontrava-se originalmente no Salão de Arte de Mannheim.
Foto: Reuters
Antonio Canaletto (1697-1768)
O achado histórico no bairro de Schwabing não inclui apenas pinturas modernistas. Os investigadores e a historiadora de arte Meike Hoffmann também apresentaram uma paisagem do italiano do século 18 Giovanni Antonio Canal, apelidado Canaletto.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg/dpa
Gustave Courbet (1819-1877)
Esta "Garota com cabra" do realista francês foi confiscada pelos nazistas e leiloada apenas em 1949, informou a historiadora de arte Meike Hoffmann. Portanto, só após a Segunda Guerra Mundial o quadro de Courbet entrou para a coleção Gurlitt.
Foto: Reuters/Michael Dalder
Max Liebermann (1847-1935)
"Dois cavaleiros na praia". Outros desenhos e esboços do principal representante alemão do Impressionismo também integram o "Tesouro de Munique".
Foto: Reuters
Max Beckmann (1884-1950)
Esse "Domador de leões" da coleção de Gurlitt já fora descoberto dois anos atrás numa casa de leilões em Colônia. Ele pertencia provavelmente ao marchand judeu Alfred Flechtheim, que abandonou todo seu acervo ao fugir da Alemanha. Seus herdeiros reivindicam o quadro.