Museu de Dresden volta a expor joias do "golpe do século"
Silke Wünsch
14 de agosto de 2024
Com ousadia e sangue-frio, em 2019, membros de um clã criminoso de Berlim roubaram tesouros barrocos de mais de € 100 milhões. O inquérito ainda corre, mas parte das peças pode ser vista no Grünes Gewölbe.
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O roubo das joias do museu Grünes Gewölbe (Abóbada Verde) de Dresden foi um dos mais espetaculares da história alemã. Em novembro de 2019, criminosos levaram de lá objetos do século 18 avaliados em mais de 100 milhões de euros (cerca de R$ 600 milhões), que a polícia só recuperaria, em parte, três anos mais tarde. Cinco membros de um clã criminoso de Berlim foram sentenciados, um sexto ainda responde a inquérito.
A partir desta quarta-feira (14/08), as preciosas peças podem finalmente voltar a ser admiradas em seu local original. Já antecipando um grande afluxo de visitantes, o Grünes Gewölbe até ampliou seus horários de funcionamento.
As preciosidades da era barroca ainda estão sendo expostas no estado como os ladrões as devolveram emdezembro de 2022, sem restauração. Na vitrine do museu, elas cintilam como se nunca tivessem saído de lá. Só observando com atenção é que se notam os defeitos.
"No momento, partimos do princípio de que todas as peças possam ser restauradas", anunciou Marion Ackermann, diretora das Coleções Estatais de Arte de Dresden. No entanto, isso só será possível quando o inquérito estiver definitivamente encerrado. O motivo é que nem todas as circunstâncias do crime estão esclarecidas, e as joias contam como provas no processo em andamento.
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Pompa barroca em mãos criminosas
Por volta das 5h da madrugada de 25 de novembro de 2019, depois de sabotar a iluminação de rua diante do Palácio Real de Dresden, criminosos cortaram parte da grade de uma janela do Grünes Gewölbe, que forçaram com uma ferramenta hidráulica. Dois deles invadiram o local, atravessaram duas salas de exposição e chegaram à câmara das joias.
Apesar de terem disparado diversos alarmes, não se deixaram abalar: com machados pesados e força bruta, quebraram a vitrine, juntaram tudo o que puderam e sumiram, pouco antes de a polícia chegar ao local. Ao todo, abocanharam 21 peças históricas avaliadas em quase 114 milhões de euros, contendo um total de 4.300 diamantes e brilhantes.
Elas integravam o tesouro de Augusto 2º, o Forte (1670-1733), príncipe eleitor da Saxônia e rei da Polônia, apelidado de "Rei-Sol da Saxônia", em alusão ao celebrado Luís 14 da França (1638-1715). Regendo de 1694 até a morte, entrou para a história como bom vivant libertino, que amava o luxo, pompa e mulheres. A ele a cidade de Dresden deve até hoje seu esplendor barroco.
Tal estilo de vida incluía, claro, as joias mais preciosas possíveis. Entre outras, Augusto mandou manufaturar uma adaga encrustada com diamantes, uma estrela da Ordem da Águia Branca da Polônia, e uma dragona (pala decorativa para os ombros) adornada com um dos maiores diamantes da Alemanha, o "Branco Saxão", com quase 50 quilates.
Pedras mais preciosas continuam desaparecidas
Logo o assalto foi classificado como "o golpe do século": a imprensa de todo o mundo noticiava que a Alemanha perdera um de seus tesouros culturais mais valiosos. Peritos partem do princípio de que a operação fora encomenda de um colecionador de arte rico, com a intenção de desmontar as peças e voltar a lapidar as gemas, já que no mercado livre não seria possível vender joias famosas assim.
A valiosa coleção de arte de Dresden
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Nesse ínterim, as investigações conduziram as autoridades alemãs até um clã familiar de Berlim. Este já estava sob observação policial, pois alguns de seus membros estavam prestes a ser condenados por um outro roubo de arte espetacular: em março de 2017, com o mesmo grau de ousadia e sangue-frio, eles haviam levado do Museu Bode de Berlim uma moeda de ouro gigante, pesando 100 quilos.
As primeiras detenções vieram menos de um ano após o assalto ao Grünes Gewölbe. Após longos trâmites, em 28 de janeiro de 2021, seis suspeitos foram levados a tribunal em Dresden. Um acordo entre os advogados e a promotoria resultou na devolução de parte do butim, em dezembro de 2022. Segundo uma restauradora do museu, alguns dos objetos históricos estavam bastante danificados, com arestas quebradas, deformações e avarias por umidade resultantes de armazenamento impróprio ou uma tentativa de limpeza.
Após a coleta de indícios, a sala de exposições em Dresden logo foi reaberta ao público. A vitrine quebrada dominava o centro da câmara das joias, como um símbolo de advertência. Dentro, viam-se os botões, fivelas, colares de pérolas e outros objetos menores que os ladrões não conseguiram carregar.
Agora, a maior parte das lacunas da vitrine está novamente preenchida. Contudo, até hoje, não se tem qualquer pista de três peças especialmente valiosas, contendo gemas de grande porte, entre as quais a dragona do "Branco Saxão". Marion Ackermann torce para que um dia elas sejam restituídas, retomando seu posto de honra no museu na capital da Saxônia.
Dresden, das ruínas à atualidade
Praticamente destruída pelos bombardeios dos Aliados no final da 2ª Guerra, a "Florença do Elba" conseguiu se reerguer.
Foto: Colourbox/L. Andronov
Florença do Elba
Construída às margens do Rio Elba e cercada pela floresta Heide, Dresden é conhecida como a Florença do Elba, devido à harmonia da sua beleza natural com a sua belíssima aquitetura.
Foto: picture-alliance/ZB/P. Zimmermann
A Abóbada Verde
Na "sala das preciosidades" da Abóbada Verde, os visitantes podem ver as mais valiosas riquezas de príncipes eleitores e reis saxões. Mais de mil peças podem ser vistas na vitrine do tesouro.
Foto: picture alliance/dpa/M. Hiekel
A praça Neumarkt
Desde a consagração da Frauenkirche, a área em sua volta vem sendo trabalhada de forma intensiva para restaurar as características barrocas originais do local.
Foto: icture-alliance/dpa/M Hiekel
Residenzschloss
O palácio Residenzschloss foi sede do governo e residência dos príncipes da Saxônia do século 12 até o ano de 1918. Durante esse longo período ele passou por diversas reformas, uma completa reconstrução em 1701, em conseqüência de um incêndio, e após a destruição de 1945 foi novamente reconstruído.
Foto: Imago
Arte no teto
A capela do castelo foi construída entre 1551 e 1553 pelo mestre construtor e escultor em pedras Melchior Trost.
Foto: picture-alliance/dpa
Hofkirche, a igreja católica da corte
A maior igreja da Saxônia, consagrada em 1751 como igreja da Corte, é desde 1980 catedral da Diocese de Dresden e Meissen.
Foto: picture alliance/Johanna Hoelzl
A Ópera Semper
A Ópera Semper, em estilo neo-renascentista, foi construída entre 1870 e 1878 pelo arquiteto Gottfried Semper e é mais um dos símbolos da cidade. Destruída pelas bombas dos Aliados no final da Segunda Guerra Mundial, sua reconstrução foi finalizada em 1985.
Foto: DW/K. Gomes
Magnífico cenário para ópera e bailes
Na ópera Semperoper acontecem não só apresentações artísticas, mas também bailes de gala.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
A galeria Alte Meister
A Pinacoteca dos Mestres Antigos (Alte Meister), instalada na ala Gottfried Semper do complexo Zwinger, foi reaberta em 1956, depois que a então União Soviética devolveu os quadros à então Alemanha Oriental.
Foto: dapd
O complexo histórico de museus Zwinger
O complexo de prédios barrocos Zwinger, construído entre 1710 e 1719 para a corte de Augusto, o Forte, foi destruído durante os bombardeios dos Aliados no inverno europeu de 1944 e 1945, mas principalmente em fevereiro de 1945. Sua reconstrução começou já em 1945.
Foto: Mapics/Fotolia
Início da reconstrução
Em 1946, as ruas foram liberadas dos entulhos, embora os cabos dos bondes ainda estivessem danificados. As ruínas dos prédios foram removidas mais tarde.
Foto: AP
Monumento de Martinho Lutero
O monumento de Martinho Lutero junto às ruínas da igreja protestante Frauenkirche.
Foto: Bundesarchiv Bild 183-60015-0002
Cinzas e escombros
Uma ofensiva aérea dos Aliados na noite de 13 para 14 de fevereiro de 1945 destruiu Dresden, famosa por suas características barrocas.
Foto: picture-alliance/dpa
A Frauenkirche
Por 50 anos, as ruínas da igreja barroca serviram de memorial contra a guerra no centro da cidade marcada pela destruição.
Foto: AFP/Getty Images
Símbolo da reconstrução
Em 1994, foi iniciada a reconstrução da igreja protestante Frauenkirche. O culto festivo de inauguração foi em 30 de outubro de 2005.
Foto: Getty Images/C. Koall
O Quartier
O chamado "alojamento junto à Frauenkirche" é espaço para hotéis, lojas, apartamentos e restaurantes.
Foto: picture-alliance/ZB
A "mesquita do tabaco" Yenidze
Construída entre 1909 e 1912, a fábrica de cigarros Yenidze é considerada modelo de estilo exótico de construção. Depois de uma reforma, foi reaberta em 1996 como prédio de escritórios. Em seu interior ficam também um restaurante e um local de festas noturnas.
Foto: Sylvio Dittrich
Conjuntos habitacionais socialistas
Durante a 2ª Guerra Mundial, o bairro Johannstadt-Nord foi totalmente destruído. Entre 1972 e 1975, foram construídos diferentes tipos de prédios de vários andares com milhares de apartamentos. Os grandes conjuntos habitacionais socialistas eram chamados "Plattenbauten".
Foto: Wikimedia/Deutsche Fotothek - SA
Castelo Pillnitz
Construído sob influência da arquitetura asiática, o antigo castelo de verão dos monarcas saxões fica fora da cidade e não foi destruído nos bombardeios. Hoje, é a sede do museu de artesanato.
Foto: Sabine Klein/Fotolia
A "boutique de laticínios" Pfund
Construída em 1892 e restaurada em 1995, é um ponto obrigatório para os turistas. A Pfunds Molkerei, considerada a loja de laticínios mais bonita do mundo, é uma leiteria especializada em queijos que funciona no moldes de antigamente e que graças a sua beleza consta no livro Guinness de Recordes.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Schutt
Feira de Natal
O destino mais popular em dezembro é o mercado de Natal. O Striezelmarkt é um dos mais antigos da Alemanha: a primeira edição da feira, há 577 anos, não durou mais que um dia. Atualmente, ela começa no final de novembro e se estende até a véspera do Natal. O mercado ganhou seu nome do bolo natalino criado em Dresden, o Striezel, uma espécie de antecessor do Stollen, conhecido em toda a Alemanha.