Museu de Nova York recompra arte roubada por nazistas
Dagmar Breitenbach md
2 de outubro de 2016
Após descoberta da verdadeira proveniência de quadro, Neue Galerie New York devolveu tela expressionista a herdeiros originais e depois a readquiriu por seu "justo valor de mercado".
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A Neue Galerie New York, museu para arte alemã e austríaca do início do século 20, comprou Nude, uma tela de pintor expressionista alemão Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976), informa o jornal The New York Times.
A obra de arte estava no acervo do museu há anos, até ser revelado recentemente que a pintura havia sido roubada de seus verdadeiros donos pelos nazistas.
O museu devolveu a pintura aos herdeiros do proprietário anterior, o colecionador de arte e fabricante de sapatos Alfred Hess e sua esposa, Tekla. A Neue Galerie, então, readquiriu legalmente a obra de arte.
Procedência
O museu supostamente comprou novamente a pintura, que havia desaparecido após Tekla ter fugido para o Reino Unido em 1939, ressurgindo em 1994 num leilão em Berlim, tendo sido agora adquirida pelo seu "justo valor de mercado". Valores específicos não foram divulgados.
Segundo o museu, não eram conhecidos problemas envolvendo a procedência da pintura quando a Neue Galerie a comprou pela primeira vez, em 1999, na mesma casa de leilões em Berlim. A Neue Galerie frisa que novas informações surgiram posteriormente.
De acordo com o New York Times, a família Hess entrou em contato com o museu há pouco mais de um ano atrás. Pesquisas em arquivos alemães mostraram a amplitude da pilhagem que afetou a coleção da família Hess.
A Neue Galerie, inaugurada na Quinta Avenida em 2001, é especializada em arte alemã e austríaca, e abriga principalmente a coleção de seu fundador, o herdeiro da indústria de cosméticos Ronald Lauder.
O pintor Schmidt-Rottluff foi um membro fundador do Die Brücke, grupo de artistas expressionistas de vanguarda que se formou em Dresden em 1905.
A questão da origem das obras de arte
Muitas obras de arte roubadas dos judeus pelos nazistas foram parar em museus na Alemanha. A Kunsthalle Bremen organiza uma exposição com quadros que foram investigados. Nem sempre foi possível determinar a origem deles.
Foto: Kunsthalle Bremen – Der Kunstverein in Bremen / Foto: Karen Blindow
"Uma questão de origem"
Quando o museu Kunsthalle Bremen iniciou, há três anos, um projeto de pesquisa sobre a procedência de suas coleções, o caso do colecionador Hildebrand Gurlitt ainda não era conhecido. Muitas coleções roubadas, pertencentes a judeus, chegaram ao mercado pelas mãos desse negociador de arte de Hitler. Cento e vinte obras já foram examinadas, e a origem de apenas um terço delas pôde ser esclarecida.
Foto: Kunsthalle Bremen - Der Kunstverein in Bremen / Stefan Müller
Arte roubada ou legal?
A obra "Papageienalle" (Alameda dos papagaios), de Max Lieberman, de 1902, adquirida pelo colecionador de arte Heinrich Glosenmeyer, integra o acervo da Kunsthalle Bremen. O colecionador comprou dez valiosas pinturas, das quais cinco foram presenteadas ao museu. Após pesquisas aprofundadas, constatou-se que a origem da obra é legítima, tendo sido adquirida legalmente pelo casal Glosenmeyer.
Foto: Kunsthalle Bremen – Der Kunstverein in Bremen / Foto: Lars Lohrisch
O destino de Max Lieberman
O pintor judeu Max Liebermann foi deposto pelos nazistas da presidência da Academia das Artes de Berlim em 1933, além de ser proibido de pintar. Muitas de suas obras e também sua coleção particular foram incorporadas ao acervo de arte roubada dos nazistas.
Foto: ullstein bild - Felix H. Man
Rastrear as origens
A parte posterior das pinturas, como exemplificado por esta tela do pintor Karl Peter Burnitz, é, a parte mais importante para os pesquisadores que buscam a proveniência de uma obra. Os antigos proprietários estão registrados com carimbos ou inscrições. Após a guerra, as obras de arte recuperadas dos nazistas foram marcadas com giz, uma informação valiosa para os pesquisadores.
Foto: Kunsthalle Bremen – Der Kunstverein in Bremen / Foto: Karen Blindow
O colecionador de arte Hugo Oelze
O jurista Hugo Oelze (1892 -1967) vinha de uma conhecida família de comerciantes de Bremen. Nos anos 1920, ele passou a viver em Amsterdã, onde negociou arte e formou sua coleção particular, também graças aos seus contatos na cidade natal. Além de vender uma de suas pinturas, Oelze deixou outras cinco obras de arte para a Kunsthalle Bremen. As origens delas estão agora sob investigação.
Passado incerto
Esta valiosa pintura, "Im Gras liegendes Mädchen" (Moça deitada na grama), do pintor francês Camille Pissarro, é datada de 1882 e foi adquirida por Hugo Oelze para sua coleção particular. Após a morte dele, a pintura foi herdada pela Kunsthalle Bremen. A proveniência não pôde ser esclarecida, apesar de intensa investigação.
Foto: Kunsthalle Bremen – Der Kunstverein in Bremen / Foto: Karen Blindow
Casa repleta de arte
O herdeiro de Hildebrand Gurlitt, Cornelius, morto recentemente, vivia enclausurado em um apartamento, cercado por inúmeros quadros. O artista e colecionador Arnold Blome, de Bremen, também tinha sua casa repleta de obras de arte (foto de 1966). Segundo as pesquisas, Blome não possuía obras roubadas dos judeus, ao contrário de Cornelius.
Foto: Nachlass Arnold Blome, Bremen
Transparência
Com a exposição "Eine Frage der Herkunft" (Uma questão de origem), a Kunsthalle Bremen é pioneira no que se refere à transparência do próprio acervo. Exibir os resultados das pesquisas de procedência é uma atitude que pode ter seguidores. O diretor do museu, Christoph Grunenberg, convidou renomados pesquisadores para uma série de palestras, que abordarão também o caso Gurlitt.