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Saga indígena

27 de setembro de 2011

Desde 1920 são produzidos filmes de faroeste na Alemanha. O índio mais conhecido no país é Winnetou. Bernd Desinger, do Museu do Filme de Düsseldorf, fala sobre as razões do sucesso do herói dos anos 1960.

Pierre Brice como WinnetouFoto: Rialto Film GmbH, Berlin

Imagina-se que o faroeste seja um gênero de cinema exclusivamente norte-americano. Mas já nos anos de 1920 eram produzidos na Alemanha filmes com a temática indígena. O ápice do "faroeste alemão", no entanto, se deu nos anos 1960.

O herói Winnetou, um ícone na Alemanha, foi o protagonista de filmes que atraíram milhões de espectadores, como Silbersee ou a trilogia Winnetou, com Pierre Brice e Lex Barker. Esses filmes, baseados nos livros do escritor alemão Karl May, foram vistos por milhões de espectadores na época.

O Museu do Filme da cidade de Düsseldorf busca os motivos para este entusiasmo. Para isso, recompõe a história do faroeste alemão. Seu diretor, Bernd Desinger, fala sobre a incrível popularidade da saga alemã e seu sucesso internacional.

Deutsche Welle: Como se pode explicar o grande sucesso dos filmes de Winnetou na década de 1960?

Bernd Desinger: O escritor Karl May acertou em cheio com suas histórias. O interesse pelo oeste do "novo mundo" estava profundamente presente no coração e na mente dos alemães, antes mesmo dos anos 1960. Os alemães foram, de longe, o maior grupo de imigrantes nos Estados Unidos. Eles participaram da conquista do oeste e também da construção deste mito.

Muitos pintores norte-americanos eram descendentes de alemães e transportaram para seus quadros o entusiasmo pelo oeste. Na literatura, houve o grande sucesso da série de romances históricos The Leatherstocking Tales, do autor norte-americano James Fenimore Cooper. Assim, quando Karl May escreveu seus livros, ele se deparou com um público já interessado pelo nobre selvagem em uma natureza intocada, imagens presentes na cabeça de muitos alemães da época.

Capa alemã de obra de Karl May de 1948Foto: Bamberg, Karl-May-Verlag

Quando se volta a ver os filmes hoje, pode-se achá-los ridículos, da mesma forma como outros filmes da época. Porém, ao mesmo tempo eles continuam fascinantes.

Sim, sem dúvida. Em primeiro lugar, a fotografia colorida era sensacional. Schatz im Silbersee (Tesouro no lago de prata) foi o primeiro filme alemão a usar a técnica de filmagem e projeção cinemascope: um sensacional céu azul, com paisagens fenomenais. Na época, a maioria dos alemães nunca havia estado no "oeste selvagem". Não se podia viajar como hoje em dia. Os filmes transmitiam uma atmosfera plausível do "oeste selvagem".

Isso funcionou até mesmo nos Estados Unidos. O fato de a paisagem mostrada nos filmes não ser verídica não chegou a incomodar o público, pois a fotografia era maravilhosa. O movimento de câmera foi imponente. A escolha dos atores em geral foi muito boa.

A música de Martin Böttcher foi também inovadora. Talvez tenha sido a invenção do filme de faroeste. Pois mais tarde também o compositor italiano Ennio Morricone se orientou pelo menos em parte nessa direção. Além disso, as filmagens das histórias de Karl May tinham, como posteriormente os filmes sobre índios da Defa (única produtora de cinema da antiga Alemanha Oriental), uma característica especial, que já se encontra nos livros de Karl May e em outros livros de autores alemães de faroeste: a forte concentração na figura indígena.

Irmãos de sangue: Winnetou e Old Shatterhand (Lex Barker)Foto: picture-alliance/ dpa

Em Winnetou há por exemplo uma cena na qual os indígenas acusam os brancos de matarem os búfalos apenas por diversão, sem necessidade. Esse é um tema atual.

Aqui há uma linha muito clara na sociedade alemã. O amor pela natureza, pelo intacto, pela pureza. Isso se encontra até hoje no movimento ecológico. Antes também já tínhamos esse pensamento. Por exemplo, no movimento estudantil Wandervogelbewegung, do início do século 20. Também outros movimentos propagavam uma natureza pura e intacta.

Podemos citar alguns dos motivos do movimento de emigração alemã. Naturalmente havia fatores políticos: especialmente a fracassada revolução em meados do século 19, a forma de divisão de terras, a repressão social. Mas em muitos casos foram também motivos econômicos. E no momento em que a situação na Alemanha se torna difícil, de pouco espaço, de poluição industrial, floresce acentuadamente o ideal de pureza, da terra intocada, na qual os indígenas representam homens livres e independentes.

Essa foi uma das razões da popularidade. Winnetou chegou a ser premiado por ter atraído aos cinemas 3 milhões de espectadores em 18 meses. Isso foi um fenômeno cultural nos anos 1960. Como se pode explicar esse fenômeno hoje? Há outros motivos para isso?

Escapismo seja talvez uma falsa designação. Mas foi um tema que tinha certos paralelos ou certa ligação com os Heimatfilme (cinema regionalista alemão). O bem vence o mal! Muita coisa não é assim na vida real: os apaches viviam no deserto e não perto de cachoeiras idílicas, diante das quais eles remavam em suas canoas usando trajes de couro como Winnetou, o que na realidade só os índios das pradarias faziam. Os filmes tinham certa comodidade, uma tranquilidade, uma segurança, que os alemães precisavam na época.

Entrevista: Jochen Kürten (lcc)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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