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Dez anos

25 de outubro de 2011

Mesmo antes de sua inauguração, o Museu Judaico de Berlim já atraía milhares de pessoas com instalações ainda vazias. Desde que foi aberto ao público, em 2001, recebeu mais de sete milhões de visitantes.

Foto: Jüdisches Museum Berlin/Jens Ziehe

Normalmente museus são construídos porque se quer armazenar coleções de arte já existentes. No caso do Museu Judaico de Berlim, a situação foi inversa. De início, transcorreram 20 anos de debates acirrados sobre quando, como, em que amplitude e com que conteúdo tal instituição deveria ser criada. Por fim, a administração da cidade incumbiu o arquiteto norte-americano Daniel Libeskind de projetar um anexo para o barroco Museu Municipal de Berlim.

Ali dentro deveria ser construído um museu judaico, como apêndice da casa já existente. O projeto foi tão original e simbólico que a bela edificação barroca é que acabou se transformando em apêndice e, mais tarde, apenas em ambiente de entrada para o prédio de Libeskind.

Vista aérea do Museu Judaico de BerlimFoto: picture-alliance / Eibner-Pressefoto

A construção em zigue-zague, com revestimento de zinco, que já foi comparada a uma estrela de Davi quebrada, a uma explosão solidificada em concreto e vidro. De qualquer forma, é incontestável o caráter espetacular do prédio, carregado de simbolismo.

Como diz Cilly Kugelmann, diretora de programação do museu, a casa é uma metáfora da difícil e complicada história dos alemães e dos judeus, dos judeus alemães e dos judeus na Alemanha.

No fim dos anos 1990, muita gente passou meses com o nome numa lista de espera, a fim de conseguir um lugar numa das concorridas visitas pelo prédio ainda vazio, para poder admirar a arquitetura embebida de história. Vãos escuros de escadas, espaços vazios, paredes tortas. E caminhos tortuosos que levam ao lado de fora, à liberdade, sobre um chão irregular rumo ao desconhecido, ao exílio. Ou para uma rua sem saída, ou seja, para os porões do Holocausto.

Espaço para a história

Michael Blumenthal, com sua personalidade excêntrica, hoje com 84 anos, foi convidado pela administração da cidade, em 1997, para assumir a direção do museu. Sem ele, afirma Kugelmann, o museu não seria o que é hoje. Não somente em relação ao carisma do lugar, mas também a seu papel histórico.

Blumenthal nasceu em 1926, nos arredores de Berlim, e fugiu do regime nazista com sua família para Xangai no ano de 1939, para emigrar depois para os EUA, onde seguiu uma notável carreira ligada à política e à economia. Em fins de 1990, ele voltou à Alemanha a fim de resgatar a história.

Segundo Kugelmann, é graças à autenticidade, à história de vida e à habilidade para negociar de Blumenthal que o Museu Judaico de Berlim se tornou um grande museu, completamente independente, sendo hoje uma das principais atrações da capital alemã.

Luzes da Chanucá em frente ao Museu Judaico de BerlimFoto: picture alliance/dpa

"Quem é judeu? E o que significa ser judeu?" – são perguntas colocadas pela exposição permanente da casa, com seus cerca de 3 mil metros quadrados, conduzindo o visitante, de maneira divertida, por dois milênios de história judaico-alemã.

Neste percurso, há infindáveis coisas a serem descobertas e conhecidas, entre elas a cozinha kosher, o mercado de casamentos entre os judeus, o universo infantil, os saraus literários, as proibições de exercício de determinadas profissões, os artesãos habilidosos, as tradições e suas mudanças, a arte e a cultura, a vida nas grandes cidades, a diversão, o fascismo e a história do pós-guerra.

Tudo é contado através de objetos expostos, disponibilizados por pessoas de todo o mundo, como móveis, louças, documentos, cartas e fotos, mas também filmes, áudios e uma parede cheia de imagens. Entre uma coisa e outra, para que as crianças não se cansem, há ofertas especiais, como cantinhos onde se pode engatinhar e pintar, bem como histórias contadas a partir de uma perspectiva compreensível para os pequenos.

Encontros, intercâmbios e novas constatações

As ofertas pedagógicas para crianças e adolescentes se tornaram uma das marcas registradas do Museu Judaico. Entre elas está uma visita para conhecer o museu com botas de sete léguas, uma oficina para saber o que se come no Sabbat e outra para explicar por que as paredes do museu são tortas. A casa oferece diversos workshops, ligados às várias exposições temporárias, todas extremamente procuradas pelos públicos infantil e jovem, inclusive por escolas da cidade.

Muita gente espera encontrar um Museu do Holocausto e sai dali tendo aprendido, de fato, infinitas coisas sobre as tradições judaicas, que vão além da terrível ruptura da civilização que o nazismo representou. Toda a complexidade da história judaica é ali apresentada sem nenhum tom acusatório, sem julgamentos e com frequência com um toque de humor.

Academia do Museu Judaico de Berlim, também projetada por Daniel LibeskindFoto: Architekt Daniel Libeskind AG, Zürich, Rendering: bromsky

Originalmente, estimava-se que o Museu Judaico de Berlim atrairia um total de 350 mil visitantes por ano, mas a casa registra uma média de 750 mil pessoas anualmente. Com tendência crescente.

Os visitantes vêm de todas as partes do mundo, visitam exposições, frequentam workshops, concertos, leituras e o restaurante do museu. A partir do próximo ano, será também possível conhecer a Academia do Museu Judaico, situada do outro lado da rua e quase pronta para ser inaugurada, onde o arquivo e a biblioteca estarão abertos para quem quiser se aprofundar nos assuntos afins.

Para isso, Libeskind está reformando um antigo depósito de flores. Em meio às festividades do décimo aniversário do museu, o prédio ainda em construção abrigou o jantar festivo em que a chanceler federal Angela Merkel recebeu, nesta segunda-feira (24/10), o Prêmio pela Tolerância e Compreensão entre os Povos.

Autora: Silke Bartlick (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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