Museu Judaico de Berlim reabre de cara nova
22 de agosto de 2020Uma coisa não mudou: a arquitetura do prédio de Daniel Libeskind, que tem um impacto significativo na nova exposição permanente do Museu Judaico de Berlim. Desde que foi inaugurado em 2001, seus desfiladeiros estruturais, suas lacunas e suas paredes metálicas falam dos abismos e catástrofes de milhares de anos da vida judaica, do desalojamento e da busca.
A própria exibição, que os visitantes poderão conhecer a partir deste domingo (23/08), é acessada pelos longos corredores obscuros do subsolo do edifício de Libeskind, em cujos pontos de cruzamento existem espaços vazios, ou "Voids", como o arquiteto os batizou. Tratam-se de espaços sem nenhum objeto, criados através da arquitetura em ziguezague do prédio – um local de reflexão e memória. Uma escada íngreme leva aos corredores assimétricos, nos quais é finalmente contada a história dos judeus na Alemanha, desde a Idade Média até os dias atuais.
A nova exposição foi elaborada ao longo de dois anos e meio por uma equipe de 20 pessoas. "A história dos judeus não mudou, mas nossa perspectiva sobre ela, sim", diz Hetty Berg, que assumiu o cargo de diretora do Museu Judaico em meio ao lockdown imposto pelo coronavírus. "A sociedade está mudando, e com ela o público do Museu Judaico de Berlim. É isso que aborda a exposição. Ela mostra a diversidade do judaísmo e incentiva os visitantes a olharem para a cultura judaica do passado e do presente a partir de ângulos diferentes."
Berg é a sucessora do professor de Estudos Judaicos Peter Schäfer, que renunciou em 2019 após polêmica em torno de um tuíte sobre a iniciativa anti-israelense "Boicote, Desinvestimento e Sanções" (BDS) e um debate sobre a autoimagem do museu.
Desde a inauguração até o final de 2017, o Museu Judaico em Berlim atraiu cerca de 11 milhões de visitantes. "Estabelecemos diferentes pontos principais dos de vinte anos atrás", diz Cilly Kugelmann, curadora-chefe da atual mostra permanente.
Ao contrário da anterior, a nova exposição sobre os 1,7 mil anos de história não segue a uma estrita ordem cronológica. O passeio alterna entre épocas históricas e percepções sobre tópicos da vida judaica, por exemplo, sobre a função da Torá, a ideia por trás do conceito kosher e o significado do Shabat.
Salas temáticas para experiências sensoriais
Salas temáticas tornam a cultura e a tradição judaicas tangíveis: por meio de cores e instalações sonoras, obras de arte como "Quebra de Vasos" ("Schewirat ha-Kelim"), de Anselm Kiefer, servem como uma interpretação das tradições místicas do judaísmo, a Cabala. A maioria dos objetos apresentados vêm de acervos do próprio museu, incluindo pinturas preciosas como "Biergarten perto de Wannsee", de Max Liebermann.
A temática do antissemitismo, que permeia muitas épocas, é tratada em uma sala semelhante a um cinema, na qual curtas-metragens inspiram o debate: quatro estudos de caso contemporâneos sobre antissemitismo são classificados nos filmes por historiadores e sociólogos a partir de diferentes perspectivas.
"Sofremos muito antissemitismo, em palavras e ações", explica Berg. Por isso, segundo ela, cada vez mais é uma tarefa do museu contar a vida judaica a partir de uma perspectiva judaica.
"Este museu fala agora sobre os 1,7 mil anos de história judaico-alemã, e também sobre a diversidade da vida dos judeus na Alemanha", afirmou a Ministra da Cultura alemã, Monika Grütters, na inauguração do local. Para ela, a nova exposição proporciona uma maior conscientização sobre a riqueza da cultura judaica e da variedade de perspectivas.
Mas o museu de Berlim também documenta a chocante onipresença de exclusão e violência antissemita nos dias de hoje. "Ele provavelmente recebe ainda mais atenção do que outros museus judaicos, não apenas por ser o maior do gênero na Europa, mas também e acima de tudo por estar em Berlim. Na cidade, onde os nazistas planejaram o genocídio sistemático dos judeus europeus e puseram em marcha a bárbara máquina assassina que matou 6 milhões de judeus", acrescentou Grütters.
As relações entre os judeus e seu ambiente não judeu são o foco da exposição, sendo traçadas desde os primórdios até o presente: começando no início da vida judaica em Asquenaz, o nome rabínico medieval para a Alemanha, passando pelos movimentos de emancipação no século 19, que mudaram o papel dos judeus na sociedade, e pelo nazismo, até chegar aos dias de hoje.
O período após o regime nazista também ganha bastante espaço em outro lugar – ainda que nem sempre num tom muito sério: numa espécie de "Hall da Fama" dos judeus, fervilham caricaturas de atores, cantores e cientistas, como Albert Einstein, Claude Lévy-Strauss, Hannah Arendt e Lilli Palmer.
A exposição termina com uma videoinstalação: um coro polifônico final em 21 monitores nos quais judeus contam como é ser judeu na Alemanha. Os visitantes se despedem do museu com uma citação do filósofo Ernst Bloch, que aborda o tema da diáspora judaica mais uma vez: "... é assim que surge no mundo algo que brilha para todos na infância e no qual ninguém esteve: lar".
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