Kunstpalast, em Düsseldorf, oferece visitas guiadas para mães e pais com seus bebês. Embora não seja nenhuma novidade, formato é um lembrete de como as crianças nem sempre são bem-vindas em muitos espaços.
Mães e seus bebês visitam a exposição "MAMA" no Kunstpalast, em DüsseldorfFoto: Djamilia Prange de Oliveira/DW
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É um dia ensolarado de primavera em Düsseldorf e, depois de um longo inverno, todos querem sair às ruas. E, no entanto, não há mais vagas para uma visita guiada no museu Kunstpalast: "MAMA. De Maria a Merkel" é o nome da exposição onde pais e mães podem se entreter com seus bebês.
A ideia por trás do tour "Arte com Bebês" é que pais e mães possam fazer uma "pausa artística em sua vida cotidiana". As participantes são facilmente reconhecíveis: estão empurrando carrinhos de bebê, usam slings e cangurus ou estão amamentando.
A historiadora de arte Carola Werhahn foi quem trouxe o formato "Arte com Bebê" para o Kunstpalast de DüsseldorfFoto: Privat
Bebês não são bem-vindos em museus?
"Você já havia visto esse formato?", pergunta a historiadora de arte Bettina Zippel, responsável pela visita guiada de hoje. "Não, estava sempre lotado", responde uma mãe. As outras concordam imediatamente com ela. "Poderia haver mais passeios como esse", sugerem. Muitas aqui reservaram suas vagas com meses de antecedência; algumas até vieram de outras cidades.
No Kunstpalast, o conceito "Arte com Bebê" já existe há dez anos, e isso graças à historiadora de arte Carola Werhahn. Natural de Colônia, ela estava familiarizada com esse tipo de exposição: em sua cidade natal, ela mesma participou de tours semelhantes com sua filha recém-nascida - no Museu Ludwig e no Museu Wallraf-Richartz. Assim, quando se mudou para Düsseldorf, acabou levando o formato junto. "Acho ótimo quando mães de recém-nascidos podem fazer algo pelo espírito", diz Werhahn.
Angela Merkel foi apelidada de "Mutti" (mãezinha) durante seu mandato como chancelerFoto: Djamilia Prange de Oliveira/DW
Formatos como esse não existem apenas em cidades alemãs, e sim no mundo todo - do Condado de Orange, nos EUA, a São Paulo e Viena. Na verdade, eles não deveriam nem ser necessários, mas talvez seja exatamente por isso que representam uma espécie de espaço seguro para muitas mães.
Em Düsseldorf, o próprio tema da exposição é apropriado: maternidade. Logo acima da entrada, brilha a palavra "MAMA" em letras garrafais em laranja sobre um fundo rosa. O título "De Maria a Merkel" sugere a diversidade dos 120 itens que integram a mostra - mãe, afinal, diz respeito a todos, já que todos viemos de uma. Com curadoria de Linda Conze, Westrey Page e Anna Christina Schütz, a exposição trata de cuidados, aborto, desejo frustrado de ter filhos, relacionamentos entre mães e filhos, estereótipos e clichês.
Após reclamações de consumidores, amiga grávida da Barbie, Midge, ganhou uma aliança de casamento e um maridoFoto: Djamilia Prange de Oliveira/DW
Midge, a amiga grávida da Barbie
Um exemplo de clichê remonta ao ano de 2002: como parte da série "Happy Family" ("Família Feliz"), a fabricante da Barbie, Mattel, decidiu colocar no mercado americano uma amiga grávida para a famosa boneca: Midge. Mas ela rapidamente desapareceu das prateleiras. Os consumidores haviam ficado indignados, pois achavam que Midge parecia uma mãe solteira - e o receio era de que isso poderia glorificar a gravidez na adolescência.
A Mattel então lançou uma nova versão da Midge: ela agora usava uma aliança, e, na caixa, também estavam o marido Allan e o filho Ryan. Parte integrante da exposição no Kunstpalast, a caixa "Happy Family" é um lembrete do quão difícil é para as sociedades romperem com os modelos familiares tradicionais, mesmo nos tempos atuais.
Isso também pode ser percebido no fato de que os participantes da visita guiada eram exclusivamente mulheres - nenhum vestígio dos pais. As mães presentes, por sua vez, ficam particularmente entusiasmadas com as exposições menos tradicionais, como aquelas que abordam o aborto, constelações familiares queer e diversas, ou amamentação em espaços públicos.
"Amamentação", de Oliviero Toscani para a marca de moda United Colors of Benetton, também faz parte da exposição no KunstpalastFoto: Oliviero Toscani/VG Bild-Kunst, Bonn 2022
E por falar em amamentação: o passeio também deixa claro o quão ambivalente a sociedade é em relação a mães com crianças em espaços públicos. "É tranquilizante, porque sabemos que não estamos incomodando ninguém", conta Julia, que traz seu recém-nascido nos braços. Outra mãe concorda, dizendo que também hesitaria em visitar uma exposição com seu bebê por medo de incomodar os outros visitantes.
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Amamentação como indicador de aceitação social
Ainda não há evidências científicas sobre até que ponto mães com bebês se sentem hostilizadas em espaços públicos. Mas as pesquisas fornecem alguns insights: na Alemanha, embora cada vez mais mães estejam amamentando em espaços públicos, cerca de 40% das mulheres pesquisadas relatam reações mistas, incluindo sobretudo olhares de desaprovação.
O que faz uma boa mãe? - que tal procurar nos livros de auto-ajudaFoto: Djamilia Prange de Oliveira/DW
Na Alemanha, ao contrário do Reino Unido ou da Austrália, por exemplo, a amamentação em público não é explicitamente permitida por lei - uma mostra de como as mães ainda estão sujeitas a inúmeras expectativas da sociedade. Em outra parte da exposição, uma sala evoca exatamente esta questão: uma estante de três metros de altura com "manuais para mães" e guias sobre maternidade. Quem sabe um que outro pai passe por lá e dê uma espiada.
Temas controversos entre pais alemães
Dar aos bebês nomes tradicionais ou incomuns, amamentar em público, usar fraldas descartáveis ou de pano, e até mesmo vacinar ou não: conheça os temas que mais preocupam pais e mães na Alemanha.
Foto: Imago
Que nome dar?
O que é mais importante: que o filho se destaque ou seja mais um entre muitos outros de sua geração? Escolher um nome para o bebê é uma expressão da identidade dos pais, mas também pode ser um peso para a criança durante a vida inteira. Marie e Elias foram os nomes mais frequentes dados a bebês na Alemanha em 2016.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte
Amamentar em público
Mesmo que não funcione para todas as mães por uma série de razões, a amamentação é uma prática generalizada na Alemanha. Os alemães não têm problemas com nudez, de forma que a amamentação em público não chega a ser problema. No entanto, o país não tem uma lei que protege mães que amamentam. Donos de estabelecimentos comerciais podem proibir as mulheres de amamentarem em público em suas lojas.
Foto: picture alliance/empics/N. Ansell
Por quanto tempo amamentar?
Este é outro tema controverso. Pode-se ver até mães amamentando um filho de três anos, mas isso é exceção. Na Alemanha os casais recebem ajuda financeira se deixam de trabalhar nos primeiros 12 meses do bebê (ou até 14 meses se a licença for compartilhada entre pai e mãe), e muitas mães tentam parar de amamentar antes de voltar ao trabalho.
Foto: Colourbox/yarruta
Jardim de infânca
Antes de voltar a trabalhar, a busca por vagas em creches ou jardins de infância é outro tema estressante para os jovens pais. Enquanto muitos se preocupam em achar estabelecimentos perto de suas casas, outros dão mais atenção à linha pedagógica, por exemplo, e lutam por uma vaga nos jardins de infância Waldorf.
Foto: picture-alliance/ZB/P. Pleul
Vacinação
A vacina não é obrigatória na Alemanha, e, por isso, há pais que não imunizam os filhos. Segundo a OCDE, o índice de vacinação infantil no país é de 96%, mas outros estudos apontam uma taxa menor. Não vacinar só funciona enquanto um número suficiente de pessoas garantir a imunização da sociedade. Berlim, por exemplo, enfrentou uma epidemia de sarampo no inverno de 2014 para 2015, com 1.392 casos.
Foto: Sean Gallup/Getty Images
Deixar chorar
É um fenômeno universal: os bebês acordam várias vezes por noite, deixando os pais exaustos. Seguindo o que se conhece como método Ferber, muitos alemães deixam os bebês chorarem sozinhos na cama até dormirem. Pode ser a salvação para alguns, mas outros consideram isso tortura.
Foto: CC/Roxeteer
Teoria do apego
Quem é contra esse treinamento para o bebê dormir provavelmente defende a "attachment parenting", teoria do apego, uma filosofia criada pelo pediatra americano William Sears. Ela recomenda, por exemplo, dar segurança ao carregar o bebê e dormir com ele, aliás outro ponto controverso. Em 2014, o Ministério alemão da Família até promoveu um congresso no país sobre a teoria do apego.
Foto: imago/imagebroker
Fraldas descartáveis, de pano ou nenhuma?
As fraldas são outro tema universal. Com tantas opções descartáveis no mercado, ainda há os que preferem fraldas de pano. Isso representa mais trabalho, mas contribui para a sustentabilidade. Praticantes do método "Windelfrei" (sem fraldas) ainda são raros, mas eles automaticamente ganham o concurso de "pais mais dedicados".
Foto: picture alliance/dpa Themendienst
Cozinhar ou comprar pronto
Você identifica pais que querem dar dedicação especial ao filho pela forma como preparam a papinha do bebê. Muitos utilizam apenas ingredientes orgânicos e pratos e talheres provenientes de comércio justo. Provavelmente eles criticam os que compram papinha pronta no supermercado, mas admitem que ela é útil quando viajam.
Foto: Fotolia/victoria p
Conceitos alternativos de educação
Nos anos 1960 e 1970, os alemães refletiram muito sobre educação e criaram conceitos como educação antiautoritária, para promover a liberdade de pensamento de uma criança. A influência dessa abordagem é sentida na Alemanha até hoje. Além das várias teorias populares atuais, cada pai desenvolve um estilo próprio – e ninguém gosta de ouvir que está errado.
Foto: colourbox/S. Darsa
Televisão e eletrônicos
Existem aplicativos incríveis e programas de TV voltados para os pequenos. Muitas crianças de um ano sabem mexer melhor em smartphones do que os avós. Embora não haja consenso entre os pais alemães sobre o uso de mídia digital por crianças pequenas, a maioria prefere restringir o contato dos filhos com esses aparelhos.
Foto: picture-alliance/dpa
Consumo de açúcar
Outra maneira alemã de avaliar um "bom pai ou mãe" é o número de anos em que o filho não foi colocado em contato com doces – e isso num país onde o sorvete é um ritual quase diário para crianças mais velhas no verão. Aliás, o segundo filho geralmente é privilegiado, podendo experimentar uma série de coisas mais cedo, pois após algum tempo os pais deixam de seguir alguns de seus rígidos princípios.