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EducaçãoBrasil

Não basta apenas assumir erro em divulgação do Sisu

Vinícius de Andrade
Vinícius De Andrade
8 de fevereiro de 2024

É necessário aumentar zelo com processos de seleção como o Sisu. Trata-se do sonho de jovens de todo o país e para muitos a única oportunidade de ingressar na universidade.

"Quem lidará com a frustração daqueles que se sentiram prejudicados por erros na divulgação do Sisu?"Foto: Raquel Aviani/UnB

Na manhã de 30 de janeiro, estudantes do país inteiro aguardavam a liberação do resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e estavam ansiosos para saber se haviam conquistado a tão sonhada vaga em uma universidade pública ou se, pelo menos, estavam em uma boa posição.

Ainda naquela manhã, recebi algumas mensagens de estudantes compartilhando comigo suas aprovações, mas as mensagens logo pararam. Em seguida, uma aluna veio me dizer que o sistema estava fora do ar.

Confesso que não me surpreendi, pois é comum isso acontecer nos primeiros minutos. Assim, acreditei que estávamos diante de uma situação usual. Bom, os desdobramentos seguintes me mostraram que eu estava completamente errado.

O sistema ficou o dia todo fora do ar. Pela noite, foi emitida uma simples nota informando que os resultados seriam liberados no início da tarde do dia seguinte. Para encurtar a história: isso não aconteceu e os resultados foram liberados apenas de noite.

No momento da tão esperada liberação, uma surpresa: para alguns dos que conseguiram entrar no sistema na terça-feira, antes de ele cair, os resultados haviam mudado. Alguns dos que tinham aparentemente sido aprovados já não estavam mais nesta lista e, para outros, suas classificações mudaram.

Dois grandes problemas

Estamos aqui diante de dois grandes problemas, sobre os quais esperei muito para falar. O primeiro é sobre o quanto toda a situação mexeu com a ansiedade e com o emocional dos estudantes. Para quem está esperando muito por algo, já é ruim o bastante aguardar alguns minutos a mais, agora imagina precisar esperar mais de 30 horas. Não foi um prazo de 30 horas, mas sim um atraso de 30 horas.

Todas essas horas foram marcadas por um mix de sentimentos: de um lado, ansiedade, angústia, entusiasmo; já do outro: uma certa sensação de abandono e de estarem sós. Até quando iriam precisar esperar? Qual era o problema de fato? O que havia ocorrido? Seria preciso abrir um outro processo do Sisu?

A verdade é que faltou mais clareza na divulgação das informações durante toda a situação. Até consigo entender a lógica de colocar a energia para resolver antes de informar e a vontade de informar apenas quando já há notícias concretas para trazer, mas essa lógica não pode ser utilizada quando se trata de uma política federal e envolve a expectativa de tantas pessoas.

O segundo problema é ainda mais sério: Como assim alguns resultados mudaram? Li no G1 a história de um rapaz que tinha sido aprovado na errônea liberação da terça-feira e chegou até a raspar o cabelo como forma de comemoração. Duvido que ele tenha sido o único. Quem lidará agora com a dor e com a frustração desses estudantes?

Uma aluna de Santa Catarina compartilhou comigo a situação pela qual passou. A lei de cotas não foi operacionalizada como deveria para o curso que ela escolheu e isso fez com que ela perdesse a vaga.

Bom, aqui cabe uma breve informação. A nova lei de cotas garante o seguinte: todos, incluindo os cotistas, irão concorrer inicialmente em ampla concorrência. O candidato cotista só será aprovado por cotas se a sua média não for suficiente para conquistar uma vaga pela ampla concorrência. Eu, honestamente, achei muito bacana essa mudança e ela almeja algo muito válido: evitar que candidatos cotistas que poderiam passar sem precisar de cotas "tirem" as vagas de outros cotistas que só conseguiriam ser aprovados através desse sistema.

A jovem catarinense concorria a uma vaga na UDESC e, durante as prévias, estava em segundo lugar no curso desejado. Imaginem sua surpresa quando viu que o único aprovado pelas cotas tinha uma média maior do que alguns candidatos aprovados na ampla concorrência. Ou seja: ela perdeu sua vaga por uma falha na aplicação da lei de cotas.

Problemas, desorganização e falta de comunicação

Posso apenas imaginar a complexidade de um sistema como o Sisu. Não é exagero: ele operacionaliza o ingresso em quase todas as universidades de um país e estamos falando do Brasil, um dos maiores do mundo em extensão. Posso também apenas imaginar o quanto o ambiente dentro do MEC e do Inep foi marcado por um clima de tensão e de pressão.

Mas é fato: a liberação dos resultados do Sisu deste ano foi problemática e pautada por problemas, desorganização e falta de comunicação. A consequência foi para todos os participantes um abalo emocional, que para alguns deles foi ainda mais grave.

Não acredito que tenham sido erros propositais e não acho que estamos diante de uma questão política. Além disso, não acho justo dizer que o MEC ou o Inep sejam despreparados ou desorganizados. No entanto, houve sim uma série de erros que não foram acompanhados de uma comunicação clara, fluida, transparente e respeitosa.

É necessário aumentar o zelo e a organização com processos de seleção como o Sisu.Trata-se do sonho de jovens de todo o país e para muitos a única oportunidade de ingressar no ensino superior e mudar de vida. Erros, sim, podem acontecer. Caso ocorra novamente, é primordial que haja uma comunicação clara, transparente e constante com a população. É o mínimo de respeito que merecem.

Agora fico pensando: quem lidará com a frustração daqueles que se sentiram prejudicados? Apenas assumir que a primeira divulgação foi um erro não é o bastante.

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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.