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Não existe eleição perfeita, diz coordenadora da OEA no Haiti

A entrevista foi conduzida por Dennis Stute (rw)5 de fevereiro de 2006

Em entrevista à DW-WORLD, Elizabeth Spehar, coordenadora da eleição no Haiti para a Organização dos Estados Americanos (OEA), fala sobre as dificuldades para preparar a votação.

Brasileiros organizam material eleitoral no HaitiFoto: AP

DW-WORLD: O Haiti é considerado um país dominado por bandos armados. A falta de segurança dificultou os preparativos para as eleições ao parlamento e presidência para este 7 de fevereiro?

Elizabeth SpeharFoto: OAS

Elizabeth Spehar: No final de dezembro foram seqüestrados dois de nossos especialistas em computador – esta foi a situação mais perigosa com que fomos confrontados. Por sorte, eles foram libertados poucos dias depois. Às vezes, tem-se a sensação de que a insegurança reina em todo o Haiti, mas pela minha experiência só a capital Porto Príncipe e certas regiões são mais atingidas. Em grande parte do país, houve tranqüilidade e normalidade nos últimos meses.

Houve outros problemas?

O maior desafio foi a falta de uma infra-estrutura eficiente, pois tivemos que zelar em todo o país para que todos tivessem acesso ao registro eleitoral. Grande parte das antigas seções eleitorais não existia mais, por isso tivemos que procurar novos prédios. Os 450 centros de registro de eleitores que ajudamos a organizar tiveram que ser alugados e organizados. Inclusive providenciamos geradores e células fotovoltaicas para garantir uma fonte de energia confiável para o funcionamento dos computadores.

As eleições estavam previstas para novembro, mas foram adiadas quatro vezes. Por quê?

Por diversos motivos. O principal deles foi o atraso nos preparativos para a votação. Isto foi reconhecido muito tarde pela Comissão Eleitoral Provisória (CEP), cujo trabalho nós apoiamos. Um motivo para isso foi o controle dos locais de votação escolhidos pela CEP − alguns eram muito pequenos e outros de difícil acesso. Além disso, houve problemas no recrutamento e treinamento de 36 mil mesários, atraso na entrega dos títulos eleitorais e na central onde serão contados os votos.

O premiê interino Gérard Latortue acusou a comunidade internacional pelo adiamento. Ele tem razão?

Independentemente do papel desempenhado neste processo pela comunidade internacional, não podemos ignorar que a última instância responsável é a comissão eleitoral haitiana.

Em segundo lugar, a organização de uma eleição é um processo complexo em que todos os elementos têm de ser coordenados e todos os envolvidos têm de fazer seu trabalho. Tivemos, por exemplo, de interromper a distribuição de títulos eleitorais porque a CEP ainda não havia estipulado as mesas eleitorais. Só por causa disso, perdemos várias semanas. É muito fácil culpar a comunidade internacional, mas a realidade é bem mais complexa.

Leia na próxima página se são possíveis eleições limpas no Haiti.

Capacete azul brasileiro no HaitiFoto: AP

DW-WORLD: Houve a acusação de que foram estipulados muito poucos locais para registro de eleitores nas áreas dos correligionários do partido Lavala, do presidente deposto Jean-Bertrand Aristide.

Elizabeth Spehar: Não acredito de forma alguma que as pessoas nestas áreas tenham sido prejudicadas. Por causa dos problemas de segurança em alguns bairros, principalmente em Porto Príncipe, em princípio não haviam sido instalados centros de registro para eleitores. Uma conseqüência do nosso trabalho nestes locais foram os dois seqüestros. Em Cité Soleil ...

um bairro de Porto Príncipe considerado especialmente perigoso e onde foram mortos dois soldados da tropa da ONU...

…em Cité Soleil instalamos um centro de registro, e outros mais na periferia do bairro. E isto é apenas um exemplo.

Dois importantes representantes do partido Lavala não puderam se candidatar porque, segundo a Anistia Internacional, foram presos por causa de acusações inventadas. Em vista de tais fatos, um novo governo terá legitimidade?

Esta é uma questão muito complexa e não me sinto qualificada para respondê-la.

À missão Minustah das Nações Unidas, que há 20 meses procura zelar pela ordem, faltam "pessoal, profissionalismo e apoio logístico", escreveu o Washington Post. São necessários mais soldados?

Spehar: trabalho complexoFoto: OAS

É uma decisão a ser tomada pelo governo. Sei que o premiê pediu apoio extra a alguns países. As forças de segurança haitianas e a Minustah elaboraram planos muito concretos para garantir a tranqüilidade e segurança das eleições. Em vista da insegurança a que estiveram sujeitos os moradores de Porto Príncipe nos últimos meses, estes temores são compreensíveis.

É possível aguardar eleições limpas ou temos de nos dar por satisfeitos mesmo que muitos eleitores, por exemplo em Porto Príncipe, não puderem votar?

Nenhum processo eleitoral é perfeito – nem no Haiti. Seria ingênuo acreditar que as eleições haitianas serão impecáveis. Não acredito que muitos eleitores não terão oportunidade de votar. Mais de 3,5 milhões de haitianos se registraram. Isto representa 80% do número estimado de eleitores no Haiti. Este seria um resultado muito bom em qualquer país. Acredito que o comparecimento às urnas vai depender da motivação dos eleitores – e isto depende das campanhas eleitorais feitas pelos partidos e seus candidatos.

A canadense Elizabeth Spehar é responsável pelo programa de assistência eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA).

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