Não há mais democracia na Venezuela, diz secretário da OEA
23 de agosto de 2016
Em carta dedicada ao líder oposicionista Lepoldo López, condenado a 14 anos de prisão, Luis Almagro afirma que não existe mais o Estado de direito no país, onde "impera a intimidação política".
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O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, decretou o fim da democracia da Venezuela. Em mensagem divulgada nesta segunda-feira (22/08) no Twitter, dirigida ao líder da oposição venezuelana Leopoldo López, ele disse que "não há hoje na Venezuela nenhuma liberdade fundamental nem direito civil ou político".
"Ultrapassou-se um nível que significa que é o fim da democracia", afirmou Almagro, na carta de oito páginas que divulgou através da rede social.
No dia 12 de julho, o Tribunal de Recursos da Venezuela decidiu num julgamento a portas fechadas manter a pena imposta a Leopoldo López de 14 anos de prisão. A sentença final foi alvo de fortes críticas por parte da União Europeia, dos Estados Unidos e da ONU. Segundo Almagro, marcou "o fim do Estado de Direito" na Venezuela.
López, de 45 anos, dirigente do partido Vontade Popular, foi condenado em 2015 pelo seu suposto papel nas manifestações contra o governo, entre fevereiro e maio de 2014, que, segundo os dados oficiais, resultaram em 43 mortos.
"Nenhum fórum regional ou sub-regional pode ignorar a realidade de que hoje não há democracia ou Estado de Direito na Venezuela", afirmou Almagro. "Maduro procura manter o seu poder e nega ao povo o direito de tomar decisões através do voto, utilizando o recurso à violência contra aqueles que se manifestam ou têm outras opiniões."
Segundo o uruguaio, impera na Venezuela a "intimidação política". Ele citou os casos dos oposicionistas Antonio Ledezma, Daniel Ceballos, da deputada cassada María Corina Machado e do deputado Julio Borges, que foi agredido em junho por partidários do presidente Nicolás Maduro.
O secretário-geral denunciou que o governo venezuelano "tem presos políticos que são torturados", "ignora a separação de poderes", e que o país "sofre uma profunda crise humanitária e ética" e "desconhece o direito constitucional do povo de retirar seu presidente".
"Estou convencido de que não existem razões jurídicas, políticas, morais ou éticas para não se pronunciar e condenar um governo – neste momento com características de regime – que se desqualificou a si próprio", afirmou.
Ao se dirigir diretamente a López, Almagro criticou o tratamento dado pela Justiça do país ao líder da oposição. "Devo confessar que neste tempo eu me senti perto da injustiça que você sofre, me senti perto do sofrimento do povo venezuelano".
Desde que assumiu o posto mais alto da OEA, em maio de 2014, Almagro em diversas ocasiões se pronunciou contra o governo venezuelano, denunciando a situação política do país.
Ele chegou a acionar a Carta Democrática da OEA contra a Venezuela, um mecanismo jamais utilizado que poderia resultar na suspensão do país da organização. Maduro, por sua vez, acusa o secretário-geral de tentar promover uma intervenção estrangeira em solo venezuelano.
RC/lusa/efe
Opositores neutralizados pelo governo venezuelano
Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. A DW listou alguns exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa/Sanchez
Controle sobre adversários
Pesquisas sugerem que apenas 25% da população da Venezuela aprova o desempenho do presidente, Nicolás Maduro. Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa o poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. Opositores têm candidatura vetada ou são proibidos de ocupar cargos públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Candidatura anulada
Em 21 de setembro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anulou a candidatura parlamentar de Carlos Vecchio, líder do partido Vontade Popular. Apesar de estar exilado, Vecchio liderava a lista dos candidatos da oposição no estado de Monagas, onde competia diretamente com Diosdado Cabello, segundo na hierarquia do PSUV e atual presidente da Assembleia Nacional.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Afastamento público
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos de oposição venezuelanos, comunicou em 18 de julho que Pablo Pérez foi proibido de ocupar cargos públicos por dez anos. Sua participação nas eleições legislativas em nome da MUD estava assim sendo revogada. Perez foi governador do estado de Zulia, de 2008 a 2012, e líder do partido oposicionista Um Novo Tempo.
Em 15 de junho, Enzo Scarano, ex-prefeito do município de San Diego, no estado de Carabobo, recebeu a notificação da Controladoria-Geral informando-o que ele foi proibido de ocupar cargos públicos nos próximos 12 meses. Scarano havia sido eleito em maio, nas primárias da oposição, como candidato à Assembleia Nacional no colégio eleitoral 3 de Carabobo.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Proibida de concorrer
María Corina Machado foi incluída em maio na lista de candidatos da MUD para as eleições parlamentares de dezembro. Poucos dias antes de neutralizar Enzo Scarano, o controlador-geral, Manuel Galindo, desabilitou Machado politicamente por um ano. Machado foi a deputada que obteve mais votos na Venezuela nas eleições legislativas de 2010.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Mais um afastamento
A MUD lançou Daniel Ceballos como candidato para as eleições parlamentares pelo colégio eleitoral 5 do estado de Táchira. Mas, no início de julho, o político foi proibido de ocupar cargos públicos por um ano. Ceballos foi prefeito do município de San Cristóbal, até que o Supremo Tribunal destituiu-o em 2014, em meio aos protestos antigovernamentais daquele ano.
Foto: picture alliance/Demotix
Sete anos de proibição
No início de maio, apenas alguns dias antes de a MUD celebrar as primárias, o ex-governador de Táchira César Pérez Vivas foi proibido de ocupar cargos públicos por um período de sete anos. "Eu não sou o primeiro nem serei o último a sofrer este tipo de arbitrariedade e injustiça", disse Perez Vivas, na época.
Foto: Getty Images/AFP/J. Watson
Politicamente desqualificado
O fundador do partido Um Novo Tempo, Manuel Rosales, foi prefeito de Maracaibo, governador do estado de Zulia e candidato presidencial – o principal opositor de Hugo Chávez em 2006 – antes de procurar asilo político no Peru. Em maio de 2015, ele foi nomeado pela MUD para as eleições legislativas. Um mês depois, Rosales foi politicamente desqualificado por sete anos e meio.