Em entrevista, chanceler federal alemã diz que política migratória do governo é um caminho difícil, porém, o mais lógico, e rechaça ameaças à democracia. Ela voltou a defender a cooperação com a Turquia.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que não haverá mudanças na política migratória do país. "Não há razão para acreditar que podemos resolver o problema com o fechamento unilateral das fronteiras", disse a chefe de governo, em entrevista à emissora pública ARD exibida no domingo (28/02).
Segundo Merkel, "não há plano B". Ela se disse convencida de que está no caminho certo em relação aos esforços para redistribuir os refugiados na Europa, ao mesmo tempo em que tenta lidar com as causas que levam milhares de pessoas a migrar para o continente.
A chanceler afirmou que é necessário cuidar para que um número menor de requerentes de asilo chegue ao país, mas assegurou que a estratégia do governo é a única realmente lógica. Ela admitiu preocupação com as disputas entre os Estados-membros da União Europeia (UE) sobre a questão, e disse que é necessário evitar um rompimento entre os europeus.
"Caminho difícil"
Merkel admitiu que lidar com a crise migratória é um "caminho difícil", mas ressaltou que está em jogo a reputação da Alemanha no mundo. "Esta é uma fase muito importante em nossa história", afirmou.
"Há muita violência e dificuldades bem à nossa porta", observou. "Qual seria a atitude correta da Alemanha, em longo prazo? Acho que, nesse caso, seria manter a Europa unida e demonstrar humanidade."
Merkel rejeitou a sugestão de que os recentes protestos violentos e atos de hostilidade contra os refugiados pudessem gerar ameaças à democracia, da forma como ocorreu durante a República de Weimar – após a Primeira Guerra Mundial, um período de três anos de hiperinflação, que durou até 1924 e gerou uma forte instabilidade política no país.
"Não acredito nisso", rechaçou Merkel. Ela, porém, disse que é importante levar a sérios os alertas: "[Minha função] é resolver problemas para que possamos defender nossos valores."
Ao comentar sobre o que chamou de "ataques devastadores" às mulheres durante o réveillon em Colônia, atribuído por muitas das vítimas a homens de aparência árabe ou norte-africana, a chanceler afirmou que "as regras [para os refugiados] devem ficar claras dede o início". "A integração não é apenas um assunto benévolo."
Turquia e Grécia
A chanceler voltou a destacar o papel da Turquia para deter o fluxo de migrantes para a Europa. Ela destacou a importância das negociações com o país marcadas para a próxima semana – que visam melhorar o apoio aos refugiados –, assim como da conferência sobre a crise migratória, dez dias mais tarde. Merkel disse que, se as conversações fracassarem, a única alternativa será trabalhar ainda mais para encontrar uma solução.
Ao ser indagada sobre a crise migratória na Grécia, onde milhares de refugiados foram barrados na fronteira com a Macedônia, Merkel afirmou: "Não podemos abandonar esse país." Ela disse que a Grécia não foi mantida na UE apenas para que fosse jogada em uma situação caótica. "A crise financeira internacional representou um grande desafio. Conseguimos lidar bem com ela.", reiterou a chanceler.
A coalizão governista de Merkel vai enfrentar a primeira eleição desde a o início da crise migratória, quando cidadãos de 16 estados vão às urnas para eleger os Lesgislativos regionais, no dia 13 de março.
RC/dpa/afp/rtr/ard
Dez anos de Merkel como chanceler federal alemã
Angela Merkel chegou a ser vista apenas como líder interina do partido União Democrata Cristã (CDU) depois da saída de Helmut Kohl da chancelaria federal da Alemanha. Dez anos depois, a era Merkel continua.
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Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
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O convidado do Tibet
O início da gestão de Merkel foi marcado por uma forma reservada de governar e por seu estilo de liderança "presidencial". Mas, em 2007, Merkel causou polêmica ao se reunir com Dalai Lama. O encontro gerou descontentamento em Pequim e fragilizou as relações entre Alemanha e China. A chanceler desafiou as preocupações e sinalizou querer se destacar como defensora de direitos humanos.
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Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
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Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
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Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
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Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Denfensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
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O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
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Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
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O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
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Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
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"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é maior desafio de Merkel em dez anos no poder.