"Não podemos evitar medidas drásticas", diz Steinmeier
14 de dezembro de 2020
Às vésperas de novo lockdown na Alemanha, presidente descreve situação no país como "extremamente séria". "Precisamos agir de maneira ainda mais firme. Não podemos permitir que nosso sistema de saúde entre em colapso".
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Pouco antes da entrada em vigor de uma nova fase de restrições contra a covid-19 na Alemanha, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, reforçou seu apelo à população no combate à pandemia. "A situação é extremamente séria", disse ele nesta segunda-feira (14/12) no Palácio de Bellevue, em Berlim. "A partir de quarta-feira, nossa vida pública e privada será, portanto, mais restrita do que nunca na história da República Federal da Alemanha."
O novo lockdown rigoroso, que a princípio irá valer até o dia 10 de janeiro, inclui o fechamento de escolas e creches, cabeleireiros e do comércio não essencial, além de estabelecer algumas restrições adicionais à vida pública. "Milhares de mortes em uma semana e casos de infecção que ameaçam sair de controle, não podemos evitar medidas drásticas," justificou o presidente alemão.
Além do refreamento de grande parte da vida pública, foi solicitada a participação individual de cada cidadão no combate ao coronavírus. "Cada um de nós precisa se perguntar o que mais pode fazer para proteger a si mesmo e aos demais, especialmente aqueles que são extremamente vulneráveis," apelou o presidente.
"Nosso objetivo principal é reduzir o número de infecções o mais rápido possível e mantê-lo num nível baixo. Isso só acontecerá se limitarmos, nas próximas semanas, nossos contatos e encontros radicalmente. Isso tem de acontecer rapidamente e amplamente, não podemos permitir que nosso sistema de saúde entre em colapso," argumentou.
Recorde de infecções
O aumento de restrições também foi defendido pelo chefe de Estado diante do fracasso em conter o avanço das infecções com o chamado "lockdown parcial", em vigor desde o início de novembro.
"Quando, diariamente, dezenas de milhares de pessoas contraem o vírus mortal e centenas morrem, quando médicos e enfermeiros em UTIs e asilos já atingiram seus limites: isso significa que nossos esforços para combater a pandemia não foram suficientes. Precisamos agir de maneira ainda mais firme."
"Cada um pode contribuir para superar a pandemia"
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Neste domingo, a Alemanha registrou 20.200 novos casos e 321 mortes por covid-19 em 24 horas, segundo informações divulgadas pelo Instituto Robert Koch (RKI), agência governamental alemã de controle e prevenção de doenças infecciosas. Já na sexta-feira, o país havia registrado números recordes, com 29.875 novas infecções e 598 mortes por covid-19 em 24 horas.
Apesar da alta incidência de infeções, Steinmeier tentou tranquilizar a população: "Nós não estamos à mercê do vírus. Depende de nós, e nós sabemos o que precisamos fazer."
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As novas medidas de restrição
Além do fechamento de creches e escolas e de estabelecimentos que oferecem produtos ou serviços não essenciais, empresas também foram orientadas a dispensar ou dar férias aos funcionários e a dar prioridade ao trabalho remoto.
Permanecem funcionando, contudo, estabelecimentos como farmácias, lojas de conveniência, postos de combustível, bancos e supermercados, além de feiras e serviços de entrega. Restaurantes continuam só podendo oferecer comida e bebida para viagem.
Encontros privados seguem limitados a um máximo de cinco pessoas de dois domicílios, como determinado pelas regras que vigoram desde novembro. Nos feriados de Natal, entre 24 e 26 de dezembro, devem ser permitidos encontros com outras quatro pessoas de fora do próprio domicílio, contanto que elas sejam parentes próximos. Menores de 14 anos não são considerados.
O consumo de álcool em locais públicos passa a ser proibido desta quarta-feira até 10 de janeiro. Durante as festividades de Ano Novo, estarão proibidas também as reuniões e aglomerações públicas, assim como a venda e a queima de fogos de artifício em público. Já os serviços religiosos continuam permitidos, inclusive nos feriados natalinos, mas sob regras de higiene e distanciamento mais severas do que as atualmente em vigor.
"As próximas semanas serão um desafio para todos nós", admitiu Steinmeier no comunicado desta segunda. "Somos um país forte, porque nesta crise difícil muitas pessoas estão ajudando outras, e estão se superando. Nos últimos meses, todos nós percorremos um longo caminho. Vamos juntos até o fim, pensando uns nos outros. Tenho certeza de que a pandemia não roubará nosso futuro. Superaremos essa crise, isso tem que dar certo, e dará certo."
O cargo de presidente na Alemanha
Na Alemanha, o presidente exerce a função de chefe de Estado, mas tem um papel quase meramente simbólico. Entre suas poucas atribuições executivas, estão a sanção de novas leis federais e a competência de assinar acordos e tratados internacionais. A política externa, porém, cabe ao governo, chefiado pelo(a) chanceler federal – atualmente, Angela Merkel.
Todos os presidentes alemães
O presidente da Alemanha tem apenas funções representativas. Após falar com representantes dos partidos, ele sugere ao Bundestag um nome para a chefia do governo. Ele também ratifica decisões do Parlamento e dá indultos.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Frank-Walter Steinmeier
Frank-Walter Steinmeier foi eleito presidente da Alemanha em 12 de fevereiro de 2017 com 931 dos 1.239 votos. Ele nasceu em 05/01/1956 em Detmold e entrou para o SPD em 1975. Ele queria ser arquiteto, mas acabou estudando Direito e Ciências Políticas. Considerado eficiente, discreto e confiável, foi o braço direito do ex-chanceler federal Gerhard Schröder e ministro do Exterior de Angela Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Joachim Gauck (de 2012-2017)
O candidato sem filiação partidária recebeu 991 dos 1228 votos logo na primeira votação, em 18 de março de 2012. Tomou posse em 23 de março de 2012. Natural de Rostock, no leste alemão, é conhecido por dizer o que pensa.Gauck estudou Teologia, foi pastor luterano e antes da queda do Muro foi o porta-voz da Aliança 90, união de movimentos sociais que exigia democracia na então Alemanha Oriental.
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Christian Wulff (2010-2012)
O democrata-cristão ex-governador da Baixa Saxônia foi eleito presidente apenas na terceira votação da Assembleia Federal em 30 de junho de 2010, o que foi interpretado como derrota ao governo de Angela Merkel. Pressionado por acusações de ter se favorecido no cargo, ele renunciou em 17 de fevereiro de 2012.
Foto: picture-alliance/dpa
Horst Köhler (2004-2010)
Horst Köhler, ex-diretor-geral do FMI, foi candidato dos partidos cristão-democrata e social-cristão, e dos liberais. Eleito a 23 de maio de 2004 e tomou posse em 1º de julho. Foi reeleito em 23 de maio de 2009, mas renunciou em 31 de maio de 2010 em consequência das críticas aos seus comentários sobre as ações militares e os interesses comerciais da Alemanha no Afeganistão.
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Johannes Rau (1999-2004)
Johannes Rau assumiu o cargo no dia 1º de julho de 1999. Ele fora eleito a 23 de maio daquele ano, com 51,8% dos votos do colegial eleitoral. Político de grande destaque no Partido Social Democrata (SPD), Johannes Rau foi governador de um dos mais importantes estados da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália.
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Roman Herzog (1994-1999)
Roman Herzog ocupou o cargo durante um mandato, depois de ser eleito com 52,7% dos votos do colégio eleitoral. Anteriormente, Herzog ocupara um dos cargos mais importantes do país: foi presidente do Tribunal Constitucional Federal, a Corte Suprema da Alemanha.
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Richard von Weizsäcker (1984-1994)
O sexto presidente da República Federal da Alemanha teve dois mandatos. Já na sua primeira eleição, ele obteve 80,9% dos votos. Sua reeleição em 1989, com 86,2% dos votos, foi quase uma consagração: somente Theodor Heuss, o primeiro presidente alemão, obteve maior votação em 1954. Richard von Weizsäcker, político destacado da União Democrata Cristã (CDU), foi prefeito de Berlim Ocidental.
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Karl Carstens (1979-1984)
Ex-presidente do Parlamento federal, Karl Carstens foi candidato do seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), sendo eleito com 51,2% dos votos a 23 de maio de 1979. Ele foi o primeiro dos chefes de Estado da República Federal da Alemanha a ser eleito no dia 23 de maio – o Dia da Constituição. Desde então, tornou-se uma tradição que os presidentes alemães sejam eleitos nessa data.
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Walter Scheel (1974-1979)
Walter Scheel destacou-se como ministro do Exterior, antes de ser eleito presidente, com 51,3% dos votos, a 15 de maio de 1974. O político do Partido Liberal Democrata (FDP) desempenhara papel importante nas negociações para a formação da coalizão de governo entre seu partido e o Partido Social Democrata (SPD).
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Gustav W. Heinemann (1969-1974)
Conservador e religioso, Gustav W. Heinemann abandonou a União Democrata Cristã (CDU) por discordar da sua política de rearmamento da Alemanha, transferindo-se para o Partido Social Democrata (SPD). Em 5 de março de 1969, Heinemann foi eleito presidente alemão com 50% dos votos. A mais baixa votação já recebida por um chefe de Estado alemão do pós-guerra.
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Heinrich Lübke (1959-1969)
Para o seu primeiro mandato, o político conservador da União Democrata Cristã (CDU) foi eleito a 1º de julho de 1959, com 50,9% dos votos. Sua reeleição se deu a 1º de julho de 1964. Ele recebeu então 69,3% dos votos do colégio eleitoral.
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Theodor Heuss (1949-1959)
O primeiro presidente da República Federal da Alemanha teve dois mandatos seguidos, de 1949 até 1959. Sua primeira eleição foi em 12 de setembro de 1949, com 52% dos votos. A reeleição foi em 17 de julho de 1954 e Heuss obteve 88,2% dos votos! Theodor Heuss é o mentor do liberalismo alemão no pós-guerra. Ele ajudou a fundar o Partido Liberal Democrático (FDP).<br> Edição: Roselaine Wandscheer